NOCAUTE

Monday 8 February 2010

CONVERSA DE MATILHA

- Ela é meio estabanada.
- Meio?
- Biju tem razão, não foi só uma nem duas vezes que voltou das correrias, sem sentido, mancando de pedir muletas.
- O que pensa nossa mãe da recém-vinda?
- Com esse olhar por baixo da franja, aposto que pergunta de onde chegou esse desmantelo sobre patas.
- Sabe, Dadá, por falar em patas, eu analiso a figura pelas pernas visivelmente desproporcionais ao corpo, onde já se viu tal coisa entre Canis familiaris.
- Impenetráveis são os caminhos do Senhor, Glória.
- Na origem da espécie deve ter ocorrido algum desvio nas proporções.
- Coisa da idade, quem sabe? Nós, cockers, graças a Deus somos normais desde pequenas, com patas e corpo equilibrados, perfeitos.
- Eu adoro os galgos, um projeto esquisito, decerto, mas balanceado.
- Cá entre nós, minha paixão é o fila brasileiro.
- Nem quero imaginar, Biju, o assombro que sairia do cruzamento entre um fila e você, sua nanica encrenqueira.
- Mãe, me segura que vou ter um troço e bater nessa Glória.
- Filha, a Gló tem razão, cada macaca no seu galho.
- Às vezes fico com pena dela.
- De quem, mamãe?
- Dessa Panda. Muito medrosa, esconde-se por baixo da mesa como fugisse de novo abandono. Ainda não percebeu que a acolhemos, malgrado as diferenças, com amor.
- A mãe tem razão.
- Traumas, filhas, que porventura carregue a indigitada por toda a vida. Querem melhor exemplo do que o da Bela, que foge de vassoura como Drácula da cruz.
- Palmas para dona Maribel, por anunciar ao mundo minhas fraquezas.
- Só não vê quem não pode.
- Acho melhor mudar de assunto. Uma curiosidade feminina, amigas, por que será que a batizaram de Panda, que é um bicho tão bonito, tão grandalhão quanto fofo, quando ela é magrela, pernaltuda, deselegante?
- Com certeza pela pintura na cara, com aquela faixa que sobe, desde os buracos negros do focinho, e avança derramando-se feito nuvem sobre o pescoço e o peito.
- Dadá não mencionou um detalhe fundamental.
- Qual que a esquecida aqui pulou, au, au, au?
- Aquelas redomas escuras que emolduram os olhos e mais parecem olheiras de quem passa a noite latindo para o nada.
- Au, Bela, você poderia ter acrescentado como remate as orelhas, cujas não sabem se eriçam ou ficam como birutas ao vento.
- A coitada tem tentado imitar o estilo do meu orelhame, o que a torna ainda mais patética, com uma aba levantada e outra murcha.
- Ouçamos o que tem a dizer a tal. Fala alguma coisa, Panda!
- Eu estou muito feliz, junto com vocês todas, podem latir o quanto quiserem.

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