NOCAUTE

Monday 11 April 2011

HELENINHA VISA GUINESS

Heleninha Paviolongo tornou-se uma referência para amigas e igos. Sente comichões de prazer quando alguém telefona para perguntar sobre os últimos lançamentos no mercado, em particular, os frutos da tecnologia avançada.

- Alô, Heleninha, Artésia. Querida, você já conhece a nova máquina de tirar pó de aspirador de pó?
- Já está na área de serviço, meu amor.
- Funciona?
- Ainda não foi testada, mas, se está interessada, empresto a minha a você para experimentar.
- Isso, nunca! Quem compra tem o direito de inaugurar, segundo o Código do Consumidor.
- Tem certeza de que essa prerrogativa consta na lei?
- Se não incluíram, considero uma falha grave.
- Você sempre à frente, na lutar pelos nossos direitos.
- Nem tanto, meu amor, avant-garde mesmo é você que nos últimos anos vem me derrotando na arte do consumo.
- Falta-lhe, queridinha, um objetivo como o que pretendo atingir esse ano.
- Pode-se saber o que tem em mente?
- Viso, com meu VISA, o Guiness 2011.
- Em que modalidade?
- Uma ideia genial: serei a primeira mulher do mundo a ser expulsa do lar pelos objetos que acumulou.
- Será que entendi direito? Seu plano é preencher todos os ambientes da casa com produtos de modo a não poder mais entrar nela?
- Bingo! Exatamente, fofinha.
- Isso é uma loucura!
- Seria, caso não existisse uma meta, sem a qual o ato de consumir é algo sem sentido, capaz de deixar as pessoas infelizes. Aliás, acho bom você pensar um pouco com a ajuda dessa filosofia.
- É um movimento filosófico?
- Uma escola, Artésia, que vou fundar como objetivo número dois. Prepare-se, vou precisar de boas professoras.
- Heleninha, me diz, você vai morar...
- Com o prêmio do Guiness vou comprar uma mansão.
- É muito dólar na bolsa?
- Ainda não sei, mas a fama sempre vem acompanhada de muito dinheiro.
- Heleninha, meu amor, quanta inveja. Acho que vou aderir a essa escola.
- Uma decisão sensata.
- Você me ajudar a bolar um propósito?
- Ajudo, porém, somente a partir de 2012.
- Combinado, o mundo não vai acabar no próximo ano.
- Claro que não, aquele filme é uma bobagem. Na minha escola, vou promover denúncias contra esse tipo de produto.
- Será que isso dá Guiness?
- O quê?
- Assistir ao maior número de besteiras e fazer o maior número de acusações contra esse consumo?
- Bem capaz, embora muito difícil.
- Por quê?
- Eles lançam muito lixo, você teria que abandonar o emprego e dormir apenas umas duas horas por dia.
- Tantos assim?
- Fabricam e distribuem como tortas de palmito.
- Odeio torta de palmito. Vou pensar noutra coisa. Ciao, Heleninha, e não esqueça de me contar as novidades.
- Ciao, Artésia, lembranças a sua mãe.

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Thursday 7 April 2011

A CONFLAGRAÇÃO

A ofensiva dos japoneses se avizinhava com a gana da rapaziada do faraó, à cata de Moisés e sua turma nos Dez Mandamentos do Cecil, enquanto o clima de tensão crescia entre nossas forças. Éramos poucos, cerca de sessenta (60), e sentíamos a aproximação daquele verdadeiro batalhão com sede de sangue, pelos sons da marcha à distância no asfalto. Havia, no cardume inimigo, muita gente a cavalo, dedução que fazíamos pelo matraquear dos cascos em cadência militar. Um dos nossos, dado a contagens problemáticas, estimara o número de atacantes em, no mínimo, 600 lambões. Uma do nosso lado, que gostava de rodar a baiana, votara contra a decisão tomada pela liderança do grupo, argumentando que heroísmo tem hora, minha senhora, e o desfecho da batalha era mais que previsível.

Além de reduzido, nosso grupo contava com uma parcela singular de combatentes: quarenta (40) frades vestidos em púrpura aveludada. No momento em que tomamos ciência da iminência do ataque, o grupo religioso pedira licença para se retirar e fora se instalar na igrejinha anexa ao local onde nos entrincheirávamos à espera da agressão. Lá, na morada divina, sentados sobre almofadas cor-de-burro-quando-escapa, rezavam e tocavam uma espécie de tamborim quadrado, igualmente revestidos em púrpura, açoitados em cadência suspeitamente lúgubre. Decididamente, estava na cara, com eles não contaríamos na hora agá.

Você que chegou até o agá na leitura, já deve estar com a pulga atrás da orelha a se perguntar qual o motivo da peleja. Pois conto. Havíamos pedido, por telefone, pasteis para um lanche antes da sessão de vídeo com o filme A Grande Ilusão, do Jean Renoir. Recebêramos a encomenda, conferíramos o conteúdo e enviáramos o motoqueiro nordestino de volta à base com o seguinte recado: diga aos japoneses da pastelaria que estavam deliciosos, todavia, não pagaremos a conta conforme eles ansiosamente aguardam. Mal o ronco das 125 cilindradas do motor sumira de nossos ouvidos, passamos a ouvir o tropel com a resposta nipônica, com o resultado que você pode deduzir, sem a necessidade de tomar conhecimento de detalhes que pouco acresceriam ao imaginado.

Espero apenas que a historinha sirva de lição sobre os perigos associados a esses esquemas que passaram a ser conhecidos como ‘delivery’. Práticos, ao suprir nossas deficiências em esticar uma massa de pastel sobre a fria pedra, rechear e dobrar na forma de um envelope cuja borda deve ser rebitada a garfo. Baratos, pois há estabelecimentos que desafiam economista do Banco Central a calcular o custo da massa e recheio que vendem. Eficientes, quando o entregador, antes de chegar na sua casa, não passa por outros dez endereços, em cuja lista o seu está em último lugar. Mas, cuidado, perigosos...

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Thursday 24 March 2011

AI! CAI NA CAIXINHA

Com a lâmina
A leste da janela
Fatiou um naco
Nascente do Sol
Cuidadosamente
Guardou o achado
Na caixinha quadrada
Com mola no mecanismo
Já cansada de Beethoven
Sempre e sempre Pour Elise
À noite do mesmo modo
Procedeu conforme a Lua
Cheia apareceu no céu
Desde então quando dá corda
O repertório é surpresa
Ora contém Sol ora Lua
Na melodia lá presa
Vez em quando aparece
Entre um e outro tema
Um pout-porri esquisito
É o eclipse no sistema

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Saturday 19 March 2011

NOMES DE CÃES

- Cãozinho lindo, qual o nome?
- Cuca Fresca.
- De raça?
- Vira-lata, com ‘pedigree’.
- Late?
- Duas vezes ao dia.
- Como assim?
- Ele só se manifesta entre as 12 e 12h15min e 19 e 19h15min.
- Você está me gozando.
- Estou fornecendo o troco.
***
- Cadelinha mais linda que é essa.
- Você não é o primeiro e elogiar.
- E a graça da fofa?
- Gênia.
- Eugênia.
- Nada disso, Gênia, mesmo.
- Tão engraçadinha e com o nome mais original que conheço. É a primeira que ouço falar de ter sido assim batizada.
- Eu também.
- Nossa, que coisa mais estranha, ela tem o mais inacreditável focinho de porquinha que já vi na minha vida.
- No passado, ela foi uma porquinha.
- Você está me gozando.
- Estou não. Ela era uma perfeita porquinha, no tempo em que perambulava tristemente pelas ruas. Depois que a recolhi, transformou-se completamente, até dá a pata para o convidado beijar.
***
- Cãozinho gozado.
- Humorista.
- Ele faz a gente rir?
- Humorista é o nome dele.
- Qual a origem desse nome?
- Ele é muito mal-humorado.
- Uma contradição.
- De jeito nenhum.
- Você está me gozando.
- Eu não. Aqui, quem faz piada é ele.

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Friday 18 March 2011

EXIGIMOS TESÃO!

Indignado, um amigo me envia notícia produzida pela Agência Estado, contando com a ajuda da Agência Brasil, sobre a conclusão tirada pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça, em diferentes regiões do Brasil. O fato é que empresas diversas não estão colocando o tê maiúsculo dentro do triângulo minúsculo, como forma de identificação do alimento à base de transgênicos. Os testes foram feitos por um laboratório, credenciado pelo Ministério da Agricultura, que indicou a presença de OGMs no milho e na soja como ingredientes dos produtos dribladores. Na lista daquelas que não estão usando o tesão no rótulo, conforme obriga a lei, consta nomes de grande saliência no mercado de alimentos industrializados. Delicie-se.

Adria, com seus biscoitos Tortinhas de Chocolate com Cereja, que ‘de um jeito ou de outro, todo mundo come’. Kraft Foods e seus biscoitos Trakinas, ‘qualquer hora é hora para um’. Nestlé e seu Bono de morango, ‘o biscoito cheio de recheio’. A ‘big’ Bangley, produtora do biscoito de morango Tortini. E para não dizer que invocaram com os biscoitos, o time conta com a participação da farinha de milho Fubá Mimoso, da Zaeli, a mistura para bolo sabor coco Dona Benta, J. Macedo, as barras de cereais Nutry, da Nutrimental, mistura para panquecas Salgatta, isso mesmo, com dois tesinhos para compensar a permanência do tesão no banco de reservas, os Baconzitos Elma Chips, da Pepsico, e, finalmente, para completar a equipe surgiu o bolinho Ana Maria Tradicional, sabor chocolate, marca consagrada da mexicana Bimbo, que tem entre os seus compromissos ‘incentivar o respeito e apoio à união familiar e às tradições nacionais’ – do México?

Ciente da gravidade do problema, a diretoria do Ih!Bofe – Instituto Brasileiro de Levantamentos Serôdios – órgão independente de defesa da ética e transparência nas empulhações ao consumismo, enfim, como citávamos, a diretoria decidiu por unanimidade, visto que há um só diretor, enviar uma pesquisadora ao empório do Seu Neneca, na periferia do centro, para conferir se a denúncia tinha fundamento. O relato da enviada diz tudo, acompanhe.

‘Ao chegar ao empório, mostrei a Seu Neneca o rol do rolo transgênico, perguntando ao conhecido comerciante se trabalhava com algum daqueles produtos. Ele passou os olhos de cima a baixo, primeiro sobre meu corpo depois sobre os nomes listados, e foi parando diante dos hífens que antecediam cada item, com o indicador da mão direita, cuja unha pedia urgente higiene. Emporiozinho danado de sortido, o tal, pois guarda em suas gôndolas as 10 marcas acusadas de deliberadamente esconder o tesão. Com a permissão de Seu Neneca, retirei um Bimbo da arrumação e passei a analisar. Realmente, atrás, na frente ou nos lados, nenhum sinal do tesão. Abri a embalagem, afinal, um erro de impressão poderia ter colocado o tesão por dentro – nada, nada, nada.

Movida por uma coragem da qual só uma experiente é capaz, espetei um bolinho na ponta da esferográfica azul e o levantei à altura dos olhos de Seu Neneca, que me pareceu assustar-se com um possível desdobramento da ação, uma estocada a Bimbo. Na verdade, ele se distanciara para melhor me observar pernas acima, como se aquela região escondesse o símbolo tão desejado. Educadamente, ofereci um naco de Bimbo aos dentes de Seu Neneca, que dispensou a gentileza. Enfiei o bolinho inteiro na boca, passando a mastigar e aferir seu conteúdo. Finda a degustação, Seu Neneca quis saber minha opinião. Lambi os lábios, provocando um fio de baba à direita da boca de Seu Neneca, e descrevi a sensação de comer uma iguaria sem tesão. Seu Neneca circulou os olhos do sul ao norte, temperou a garganta e arrematou a história, garantindo não ter culpa por eu não haver encontrado o tesão na sua mercadoria, quem sabe numa próxima... Despedi-me, agradecendo a acolhida e lembrando de que alguém já escrevera que, sem tesão, não há solução. Posteriormente, na base, recomendei, como título para divulgação da pesquisa, o povo exige tesão.

Sondagem ulterior, feita em seis importantes capitais do país, entrevistando 6 milhões de brasileiros e eiras, confirmou o que nossa pesquisadora sênior aconselhara: 100% das pessoas consultadas escolheram, entre as duas frases propostas, aquela que representou um promoção salarial para a funcionário do Ih!Bofe: exigimos tesão!

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NOCAUTE

Thursday 17 March 2011

AI! CAI NO JAPÃO

Mais cedo
Ou mais tarde
Ela retoma
A tocha
A França
Escreveu Jean
Em 15 de julho
Um antes da guerra
A segunda grande
Ele que amava
Os seres do mundo
Eis que se confirma
Sua presciência
A França
A primeira
A denunciar
Ao mundo extático:
O Japão encobre
Após terremoto
Após tsunami
A verdade nua
Sobre a besta atômica
A besta humana mente!
Na vereda aberta
Pela Marselhesa
Outras vozes
Pouco a pouco
Fizeram coro:
América
Espanha
Alemanha
Por fim a voz
Das Nações Unidas
Mas já era tarde
A noite descera
Ao norte das almas
Estendera as trevas
Ao sul da esperança
As garras que gelam
Infantis sorrisos
Senis resistências
Oh deuses dos povos
Piedade de nós
Humanos

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NOCAUTE

Wednesday 16 March 2011

AVANÇO TECNOLÓGICO

- Toc, toc, toc!
- Quem deseja?
- Correio.
- Às dez da noite?
- Eletrônico.
- Urgência?
- Presente.
- Remetente?
- O grego.
- Conheço nenhum.
- Cavalo.
- Grego ou argentino?
- Grego, de Troia.
- Recheado de gregas?
- Libertino, claro que não.
- Gregos?
- Acorda! Com vírus!
- Desculpe, não vou abrir a porta.
- E onde está a curiosidade?
- Já foi dormir.
- Vai me dispensar assim, sem mais, nem menos?
- Retorne ao remetente com um recado.
- Sim?
- Destinatário não encontrado.
- Mas...
- Ou melhor...
- Sim?
- Volte daqui a 10 anos.
- Com certeza, o cavalo já terá ido pro brejo em 10 anos.
- Então, não deve ser de Troia, a espécie é imortal.
- Por favor, abra a porta, eu garanto que é legítimo.
- Relincha?
- Sim, escute: rinrin roar rinrin roar rinrinrin...
- Meio estranho este som.
- Está gripado.
- Empina?
- Como nenhum outro.
-Dá coices?
- Como um potro.
- Alimenta-se de quê?
- Qualquer coisa disponível.
- Capaz de devorar tudo que tenho, imagino?
- Você tem muito, alguma coisa há de sobrar.
- Como sabe?
- ‘Spy’, espionagem.
- Escuta, não vou abrir, mas, deixe-o aí na entrada que sei como dar sumiço.

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NOCAUTE

Sunday 13 March 2011

AI! CAI NAS GARRAS

Desafasta criatura
A onça já achegou
E quer beber água pura
Perdoa a que você sujou
Desaloja mas não fuja
Porque nos planos da onça
Mais do que uma intrusa
Você é uma bonança
A onça está com fome
A caça anda escassa
Há três dias que não come
Isso acaba com a raça
Ela prefere cordeiro
Ou outro de quatro patas
Mas não tem tu vai tu mesmo
À la carte com batatas
Cordeiro não dá mais sopa
Bom cabrito não aparece
A onça dentro da roupa
Visivelmente esmaece
Algo prejudicial
Aos movimentos da onça
Você é providencial
Não me venha com lambança
Vá ali detrás da moita
Trate de tirar a veste
Comece pela gravata
Essa tripa que aí desce
Converse com seus botões
Solte o cinto desça a calça
Aos sapatos os cordões
Desamarre pata a pata
Permaneça de cueca
Mantenha a compostura
Sente no chão grite Eureca!
Curta a vida enquanto dura

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NOCAUTE

Sunday 13 February 2011

IDENTIDADES

Eu, subindo, ele, descendo, ambos devagar, ele menos, entre a Rua Teodureto Souto e a Avenida Lins de Vasconcelos, no Cambuci, quase centro de São Paulo. Ele acenou, eu correspondi, e me cumprimentou com a pergunta: e aí, Luís, tudo bem? Respondi por educação, embora certo de que ele me confundira com alguma outra pessoa. E foi só, antes de seguirmos perseguindo o destino previamente traçado. Em casa, comentei o episódio, indiferente ao provável equívoco. Noutro dia, a história se repetiu, enquanto caminhávamos em sentidos inversos, confirmando-se, portanto, que não houvera mal-entendido, pois ele insistira no Luís. Passei a pesquisar na internet para descobrir alguma semelhança com algum Luís da vida e nem precisei ir fundo, o cara só poderia ver na minha figura a do presidente Lula. Sou de Catende, cidade não muito distante das bandas de Garanhuns, região habitada por gente que reúne características encontradas em negros, índios e portugueses, entre outros. Esperei nova oportunidade para esclarecer o gajo que, embora honrado com a ilustre comparação, meu nome sempre foi José Roberto, engrossado por Barreto Silva. Surgiu a ocasião quando nos encontramos no ponto de ônibus, ele à espera do Pinheiros-Sacomã, eu, do Vila Monumento-República. Ele sorriu, ao me bispar, e comentou sobre o tempo.

- Ainda bem que saiu o sol!

Concordei e engrenamos um papo como velhos amigos de boteco e futebol, que não éramos, esclareço, antes de interpretações desencontradas.

- O vento levou as nuvens.
- Pra onde será que elas foram?
- Eu diria que Minas.
- Eles estão precisando de água.
- Não sabia.
- Você não vê televisão?
- Só desligada, em loja de conserto.
- A coisa lá está feia.
- Faz parte.
- É verdade, Luís, a humanidade parece que está levando a coisa para o fim.

Resolvi que aquele momento amigável era propício ao esclarecimento sobre minha identidade e tratei de colocar a salada em pratos limpos.

- Concordo com tudo que disse, apenas com uma ressalva...
- Sobre o desarranjo da natureza?
- Não, a respeito do meu nome de batismo, que é José Roberto e não Luis. Aliás, ainda não decifrei de onde você tirou esse Luís.
- Luís, brincadeira tem hora e não é quando meu ônibus está chegando.
- Eu não estou brincando.
- Luís, desculpa, mas tenho que ir.
- Ei...

Ele colocou o pé direito no primeiro degrau do micro-ônibus, o esquerdo no segundo e, antes do impulso definitivo na direção do sistema de liberação da catraca, com o bilhete único, olhou pra trás e sentenciou:

- Vamos combinar o seguinte: por enquanto, você continua como Luís, depois a gente discute o assunto. Ciao!

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NOCAUTE

Wednesday 9 February 2011

JULINHO


É motivo de chacota ao comportamento humano uma foto em circulação, na internet, na qual um cãozinho faminto, mel com focinho neve, está deitado com as costas apoiadas no meio-fio imundo, como sobra de um caminhão com mudança, indiferente ao pacote de ração à sua frente. O pouco-caso com a amostra-grátis é visível, apesar do seu estado famélico evidenciado na posição fetal em que se encontra, provável reflexo do castigo das dores da fome e da sede. A troça surge com a indagação: por que alguém ofereceria ração a um animal faminto numa embalagem lacrada? Ora, pitombas, a inteligência humana às vezes vai tão longe que se torna difícil enxergar, e quem sabe não seja este um caso exemplar. Imaginemos.

A boa alma mora no terceiro andar de um prédio residencial, abre a janela para apreciar a poluição na cidade, respira fundo, aproveitando as partículas negras ejaculadas pelo cano de escapamento de uma perua escolar, agradece ao Supremo pela concessão de mais um precioso dia, e de repente olha para o asfalto devastado pelas últimas chuvas e vê o abandono sob a forma de um vira-lata. Lembra-se daquele pacotinho de ração que recebera na Feira de Adoção, no estacionamento do supermercado, sente as faíscas da iluminação Daquele que escreve certo por linhas tortas. Afinal, passara na Feira por mera curiosidade, porém, a moça tanto insistira que não lhe sobrou alternativa senão enfiar no bolso e agradecer a generosidade. Chegara, portanto, o momento de usar o presente numa boa ação de crédito contra os pecados de cada dia. Pensou, inicialmente, em lançar dali mesmo tal embalagem na direção do animal; logo desistiu, pois jamais acertaria o local esperado por ele e pelo cão, principalmente. Resolveu deixar para o momento da saída ao trabalho o depósito da salvação, nas proximidades do focinho do infeliz.

Assim pensado, assim cumprido. Aproximou-se com cuidado, preocupado com uma possível reação animalesca, assoviou umas três vezes, usou um Totó umas quatro vezes, tentou outros nomes - Tico, Bidu, Figura, óbvio, Mel, Fininho - e nada, o prostrado sequer levantava a cabeça. Bom, o trabalho o aguardava e o chefe odiava cachorros, o melhor era deixar a refeição por ali e se pirulitar. Ajeitou o pacotinho à distância de uns 10 centímetros da cabeça do ingrato, colocou um guardanapo azul e branco por cima e se foi, deixando a mesa posta.

Mais tarde, passava pelo local uma dessas protetoras a qualquer custo de animais, cães em particular, a Elisabete, que avistou o arranjo e foi até lá decidida a descobrir o que estava acontecendo com o cãozinho. Tomou-o nos braços, entre gemidos, com facilidade, pois leve como uma pena de sabiá, e o levou ao veterinário, que diagnosticou a preocupante desnutrição associada a uma desidratação saárica. Tomadas as devidas providências, ela chegou à conclusão de que o bicho tinha cara de Julinho e, sem contra-indicação, assim foi ele batizado na ficha canina. Na saída do consultório, em tom de brincadeira, o doutor esfregou o indicador no nariz do Julinho e comentou: se ele soubesse abrir aquela amostra-grátis não estaria nesse estado. Julinho levantou a cabeça, arregalou os olhos e falou: doutor, eu só não abri porque não saberia como usar aquele guardanapo. E voltou a se aninhar no colo da protetora.

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Friday 14 January 2011

O TAMANHO DO BURACO

- Há alguma coisa estranha com aquela nuvem, não achas?
- O desenho é, realmente, meio esquisito.
- Eu diria que parece um elefante.
- Eu diria que parece uma tromba.
- Se tens razão, vamos rezar pro paquiderme não cair.

***
- Tem chovido muito por aí?
- Nunca vi tanta água na minha vida. E aí?
- Nunca vi tanta água na minha vida.
- É gaia.
- É o quê?
- Gaia.
- O que diabo é isso?
- Sei lá, ouvi uma dona dizer que era essa coisa, na tevê.
- E acreditou, sem saber o que significa?
- Peguei o trem na rabeira, ela deve ter explicado no começo, transmitia confiança.
- Bom, então, por enquanto, fica como gaia.
- Combinado.
- Mas, cuidado, no Nordeste gaia é outra coisa.
- Você, sempre usando a cabeça, hein?
- Antenado, meu caro, antenado.

***

- Tenho sonhado com trovões, relâmpagos, muita chuva e enchentes.
- Trovão significa abertura de comportas. Relâmpago, fuga. Chuva, água.
- E enchentes?
- Como você é burro!
- Pulha!
- Repita, se for macho.
- Pulha!
- Minhas dúvidas, quanto a sua masculinidade, estão dirimidas.

***

- Estamos sendo vítimas do buraco na camada de ozônio.
- É uma hipótese?
- Uma tese.
- As bases?
- As chuvas desmesuradas.
- Não poderiam resultar da nossa contribuição para o tal efeito estufa?
- Colabora, mas vou provar que o problema está no tamanho do buraco.

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Thursday 13 January 2011

A QUEDA DO REBOCO


No filme dirigido por Piers Haggard, O diabólico Fu Manchu (The fiendish plot of Dr. Fu Manchu), Peter Sellers é Nayland Smith, ex-superintendente aposentado da Scotland Yard convocado a voltar à ativa por bem conhecer os métodos do famigerado vilão, naquela altura com 168 anos e desesperado para conseguir o presente do Czar Nicolau ao seu primo e Rei da Inglaterra, o diamante amarelo, que é um dos ingredientes da fórmula do elixir da juventude de Fu. Nayland passa a trabalhar junto com o Comissário Roger Avery, seu assistente, Robert Townsend, e os dois homens enviados pelo Tio Sam para resolver o caso: Giuseppe Capone, irmão do Al, e seu assistente, Pete Williams. Afinal, o outro diamante amarelo, Estrela de Leningrado, fora roubado pelos homens do Fu da Exposição dos Operários de Leningrado, no Moneyman Institute, em Washington. Perspicaz como uma aranha, Nayland revela aos companheiros que o plano de Fu para o roubo do George V será através do sequestro do rei e da rainha, a serem trocados pela joia. A ideia é pegar o casal no camarote de um teatro e, portanto, lá estão mocinhos e bandidos para o que der e vier.


Munidos de binóculos, Nayland e os tipos do FBI, atentos, vão descobrindo a turma de Fu espalhada por vários lugares do teatro. Em certo momento, Nayland vê um celerado em pé, num dos corredores da casa, vestido de funcionária e pronto para entrar em ação. Imediatamente, os ladinos do Hoover levam as mãos às armas, sob as axilas esquerdas, loucos para sacar e mandar balas no meio da plateia. Como alternativa à iminente truculência, Nayland saca a fleuma inglesa e diz mais ou menos o seguinte para os investigadores: sem armas, por favor, aqui não, pois trincaria o reboco. A cena ilustra e ajuda, até certo ponto, a entender a mais recente tragédia norte-americana em Tucson, Arizona: os filhos do Tio Sam, com frequência, partem para resolver as coisas trincando o próprio reboco, pois a apologia à violência parece que, realmente, funciona. Como reforço irônico à ideia, uma vez que a desequilibrada Sarah Palin é líder do Tea Party, no filme, ao chegar à Scotland Yard, Capone comenta com seu auxiliar que, a partir dali, serão submetidos aos excessos do chá dos ingleses, que parecem não conhecer outro tipo de bebida. São os gringos, com a sua arrogância imperial corriqueira, confundindo tudo.


E tome discussão para descobrir o motivo que levou o desequilibrado a escolher a senadora democrata Gabrielle Giffords como o primeiro alvo, escolhido entre aqueles divulgados, na internet, em página da ex-candidata à vice-presidência dos Estados Unidos nas eleições de 2008. Houve ou não influência das escabrosas ideias do Tea Party na cabecinha doentia do tantã Jared Loughner? A venda de armas, defendida pela extrema direita com unhas, dentes e colunistas da VEJA no Brasil, deve ser submetida a um controle rigoroso ou feita conforme os desejos da indústria bélica, que certamente gostaria de vender M-16, nos supermercados e farmácias, da mesma forma que preservativos com a marca do time do consumidor ou desodorantes proteção total durante 24 horas? Enquanto isso, diz-se que, em Washington, pede-se a revisão de planos para que os próprios legisladores portem armas de fogo como resposta. Mais armas ou da discussão nasce a treva. E isto me leva de volta ao filme, cuja propaganda animava o espectador com o seguinte apelo: Cuidado! Veja esse filme – uma hora depois vai querer vê-lo novamente! É isso, os americanos estão perdendo o norte.

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NOCAUTE

Sunday 2 January 2011

AI! CAI NO iPOD

Ai, pode?
iPod slim!
Dedinhos
Na tela
Olhinhos
Janelas
Fulgentes
Cristais
Ai, pode?
iPod slim!
Bailarinos
Mindinho
Seu-vizinho
Maior-de-todos
Fura-bolos no ar
Pequeno polegar
Ai, pode?
iPod slim!
No balé
Planetário
Imaginário
Sobre líquido
Aquário
Um pax de dedos
Na Dança das Flores
Cinderela
Amarela
Quebra-nozes
À unha
Instantânea
Mente
Ai, pode?
iPod slim!
Não foi assim
Que surgiu pai Adão
A imagem
E semelhança
Refletido no teto
Na recriação
Objeto?

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