NOCAUTE

Saturday 29 May 2010

PREPARADO

Em campanha no Recife, o ex-governador paulista José Serra avisou os correligionários para não arranjarem um vice que lhe traga aporrinhação. Em Minas, o agora provável abominável Neves deve ter pensado, lá com seus botões, que pulou fora na hora certa, pois, entre os cargos de vaca de presépio e senador, o último é bem melhor. Longe das encrencas políticas, cientes dos fatos, dois contumazes ‘borratchos’, Creia-em-mim e Zé Gabola, trocam idéias à mesa da Juriti, no Cambuci, regadas a Serramalte, jurando o primeiro ter-se fantasiado de garçom durante uma reunião entre as cúpulas do PSDB e DEM, e presenciado diálogos que mereceriam entrar nos anais da nossa história política.

Creia – Um dos presentes falou, Governador...
Gabola – E ele?
Creia – Antes de qualquer manifestação, o Goldman botou os pingos nos is, dizendo que agora era ele o dito cujo, portanto...
Gabola – E ele?
Creia – Disse que preferia ser chamado de presidente, mas aí o Guerra não entendeu e esclareceu que o cargo lhe pertencia.
Gabola – E ele?
Creia – Descarrilou, perguntando se algum dos participantes tinha dúvida quanto ao significado da palavra aporrinhação. Alguém levantou o braço.
Gabola – E ele?
Creia – Indagou se o interpelante queria um sinônimo, quando o tal apenas desejava ir ao banheiro, provocando uma gargalhada geral.
Gabola – E ele?
Creia – Fez ouvido de mercador, sondando sobre a repercussão do que dissera sobre o governo do mandachuva da Bolívia, o Evo, taxando-o de cúmplice dos traficantes de cocaína. Um silêncio incômodo dominou a sala.
Gabola – E ele?
Creia – Naquele exato momento, tocou um celular com aquela música Como Você Pôde Abandonar Eu, da Pedra Letícia, e não consegui pescar o comentário dele seguido do de Neves. Só sei que choraram de tanto rir.
Gabola – E ele?
Creia – Solicitou o desligamento dos celulares, pedindo sugestões pra vice. Um, com espírito de gozador, sugeriu que o ideal seria Alckmin, gerando protestos do publicitário responsável pela campanha do homem de Pindamonhangaba.
Gabola – E ele?
Creia – Elogiou o Chuchu e, depois, quis saber se, em vez do Evo, estrategicamente o melhor teria sido atacar o tChávez. Guerra abriu fogo contra alianças espúrias.
Gabola – E ele?
Creia – Disse ‘yes’.
Gabola – Creia, como tu mentes.
Creia – Pratico pra entrar na política. Achas que estou preparado?
Gabola – Com certeza, como dizem os pernas-de-pau do Brasileirão.

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Friday 28 May 2010

AI! CAI NA AUSTERIDADE

Austera idade
Europa
Austeridade
Cara velha
Matriz
Caravelas
Ao mar
Navegante
‘On line’
Comandando
‘Blue ships’
Olha a barbatana!
É de um ‘iceberg’
Valha-nos Zeus!
SOS Titanic
Austera idade
Europa
Austeridade
Elizabeth
Calibra bem
Austera idade
Ângela Merkel
Eurocêntrica
Austeridade
Vocês brancas
Se entendam
Nosso ouro acabou
Caro Sócrates, o Zé
Zapatero alinhave
Lula lá ‘en su tinta’
Cara Irlanda
Encha a cara
Com um puro escocês
Austera idade
Europa
Austeridade
O teu Cavalo de Tróia
Já está bem amarrado
No Portal de Brandenburgo
Recheadinho de gregos
Austeridade
Europa
Austeridade

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NOCAUTE

Wednesday 19 May 2010

AI! CAI NO CRU

Obam’espia
Impotente
A mancha negra
Golfando
Avançando
Sobre a costa
Louisiana
Como a peste
Assassina
Encharcando
Areias
Turistas
Banhistas
Esportistas
Águas-vivas
Cardumes
E pelicanos
Em extinção
Obam’águia
Ave d’ébano
Insulada
Pelas garras
Um refém
D’Wall Street
Cai o dólar
Sobe a Nyse
Baixa a Nasdaq
Olho vivo
Em Pequim
Na Bovespa
Hong Kong
Taiwan
Obam’olha
Se eu fosse
Como tu
Tirav’essa
Mão do bolso
Estancava
O jorro cru
E depois rolaria
Abraçado
Ao cão-d’água
No tapete persa

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NOCAUTE

Friday 14 May 2010

CARTEIRADA NA GLÓRIA

Na fria manhã de maio, embora já dominada pelo sol, deixei a Liberdade para trás e trafegava na Glória, no retorno ao frutífero Cambuci, quando o motorista de um ônibus, daqueles que fazem ponto final sobre o viaduto Mie Ken - Jardim Maria Luiza, COHAB-Educandário, Largo da Pólvora -, ligou o motor, fechou as portas, lascou primeira e arrancou para escapar da fila que lhe atravancava o destino. Sem a devida atenção, o descuidado não percebera a aproximação de um atarracado automóvel preto, que já ultrapassara o Posto Avançado de Conciliação Extraprocessual, da Associação Comercial de São Paulo, e buzinando mais que o Chacrinha avançava celeremente de encontro à lateral do coletivo. Sorte que o freio do ‘bus’ estava em boas condições e ele conseguiu evitar a colisão. Até aí morreu Neves, nesse episódio banal no trânsito paulistano, não fosse o ilustre condutor do Peugeot uma autoridade, daquelas que encaram esse tipo de deslize como um inaceitável desacato ao autoritarismo ambulante. Daí, o semáforo fechou e...

Animado, quiçá, pelos vapores emanados do belíssimo casarão, construído em 1833, que fica no número 410 da Rua da Glória e abriga o 1º Distrito Policial, o jovem babaquara sacou uma carteira visivelmente cheia de cartões de crédito e débito, dos convênios de saúde e odontológico, cédulas sambadas de real, uma foto da mamãe ao lado da namorada e outros corpos que, no momento, não consegui imaginar. Claro que, no meio desse venerado recheio, encontrava-se o porta-jóia de couro preto com a insígnia estrelada metálica, aquela que transforma o brasileiro em alguém. Para mostrar que a bronca era séria, nosso herói grudou o objeto na película escuríssima do vidro dianteiro, ali na região onde dorme o espelho retrovisor interno, decerto esquecido de que o agressor dificilmente conseguiria enxergar o pertence. Tanto que esboçou um sorriso, deixando o poderoso furioso ao ponto de ligar o pisca-alerta, abrir a porta do veículo, pular pro asfalto e correr, com o troço levantado acima da cabeça, até alcançar a janelinha da frente do Educandário, cuspindo xingamentos e ameaças contra o assustado funcionário da Viação Osasco. Farol verde, lá se foi o desrespeitoso, obrigando o distinto do dístico a correr de volta ao seu bólido e sair em perseguição, somente encerrada na esquina da Glória com Barão de Iguape, quando o ônibus entrou à direita em busca da Liberdade e nosso herói seguiu adiante, em plena Glória, ainda encontrando forças para colocar o braço esquerdo pra fora do carro e, indicador em riste, mostrar que as providências não tardariam.

Estacionei minha fubica na Zona Azul e caminhei até a Praça Almeida Júnior, parando inicialmente diante de uma escultura em pedra gravada em baixo relevo com os seguintes versos, traduzidos por Antonio Nojiri: Sobre a areia deitado/me comprazo em fugir de aplausos e elogios/a manhã inda é manhã/e a brisa que vem do mar acaricia meu rosto. Perto dali, onde um japonês pacientemente aguardava para continuar sua caminhada com lulus, interrompida por necessidades fisiológicas de um deles, evidentemente, descubro um totem em pedra, fincado na grama, em cujos lados está gravada, em japonês, inglês, espanhol e português, uma daquelas frases que perderam o sentido: Que a Paz prevaleça no Mundo.

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Monday 10 May 2010

OVOS MEXIDOS

No box do mercado de hortifrutis Kinjo Yamato, ao lado do Mercado Central de São Paulo, aquele cujo piso é de paralelepípedos e tem cobertura, vinda da Escócia, tombada pelo patrimônio histórico, ali, o pernambucano Damião mexe nos ovos vermelhos, movimentando-os como se fossem peças em quebra-cabeças ou tabuleiros de xadrez. Dois pra lá, dois pra cá, ótimo. Este grande fica bem no lugar daquele raquítico acolá. Melhorou, embora nem sempre atinja a harmonia que convence os olhares da clientela exigente. As bandejas devem oferecer um conjunto equilibrado, nem tanto ao céu, nem tanto à terra, expondo uma distribuição perfeita entre pequenos, médios e grandes. Semeia, destes últimos, um em cada esquina que arremata as linhas dos limites dos campos onde descansam as 60 unidades. Nas áreas centrais, constrói quadriláteros de médios, com a sabedoria do manipulador que encaminha as atenções da periferia à gema. Na segunda fileira, a partir das fronteiras externas, acomoda, em linha com os ângulos, dois médios e dois grandes, que servem para agradar a freguesia atenta à formação originalmente planeada. Raramente acontecem surpresas, em razão dos cuidados que dedica à arrumação, porém...

Sábado último, por exemplo, distraído pelos gritos de alerta, contra o rapa na Cantareira, providenciados por um espião a serviço do proprietário de um carrinho de mão, lotado com perfumes de marcas mundialmente famosas e devidamente falsificadas, Damião descurou-se de suas obrigações. Mantinha um acanhado entre o indicador e o polegar, da mão direita, que lhe escapou e voou a se espatifar - miserável! - no chão de cimento. Por muito pouco não acertou o pé de uma chinesa que escolhia brancos no balcão da frente para compor uma dúzia. A queda, da altura aproximada de um metro, estilhaçou a casca mergulhando os fragmentos na langonha formada pela mistura de clara e gema. Munido de páginas de jornal velho, agachou-se e providenciou a limpeza, enquanto pensava na sorte de não haver perdido um avantajado. Finda a faxina, levantou-se, maldizendo as juntas, preencheu o espaço que fora do miúdo com um médio e perguntou ao cliente se apreciava o arranjo daquela forma. Perfeito, foi a resposta. Colocou a bandeja sobre as páginas abertas de jornal, embrulhou, passou a fita plástica em cruz, deu um nó cego e acomodou o pacote num saco plástico. O cliente puxou uma cédula de dez reais e a esticou na direção de Damião, que orientou o pagamento ao seu irmão em pé, ao lado da gaveta registradora, no fundo da loja. Virou conversa.

- Seu irmão, é, como se chama?
- Claves.
- Clóvis, né, Damião?
- Claves, mesmo, Clóvis é o outro. Éramos em cinco, morreu um, viramos quatro.
- Claves, um nome muito original.

Cumprimentou o Claves, recebeu deste um real de troco, garfou, com o indicador e o maior de todos, o pacote pelas alças do saco plástico e se despediu dos irmãos, com uma enorme vontade de perguntar sobre a graça do quarto irmão. Conteve-se e se foi, chacoalhando, com o vaivém do braço, os ovos.

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Thursday 6 May 2010

AI! CAI NO PACAEMBU

Carioca o urubu
Fez o gavião dançar
À luz do Pacaembu
Cantou como Ringo Star
All we need is Love
Love is all we need
Gavião tentou fugir
Às agruras do destino
Urubu ficou a rir
Do choro do falconídeo
Urubu papou o gordo
Como quem Dentinho tinha
Nada restou para o cocho
Montado na Fazendinha
Urubu só reclamou
Da carne um pouco dura
Com o Mano desabafou
Como se fosse fritura
Entra ano e sai ano
Gavião sonha com Tóquio
Aumentando o desengano
Como o nariz do Pinóquio
O fato é que o gavião
Como velho centenário
Foi mais uma refeição
Pro urubu ordinário

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