NOCAUTE

Saturday 19 December 2009

PRESENTE AO NOEL

Resolveu inverter o curso da tradição, com o envio de um presente ao Papai Noel, mas as coisas se complicaram um pouco na agência dos Correios e Telégrafos.

- Por gentileza, trata-se de um livro e gostaria de remeter pela tarifa mais em conta possível, pode ser?
- Claro, senhor, desde que acrescente o nome do remetente.
- Mas...
- É uma exigência do sistema para o caso de devolução.
- Insinua que ele pode não gostar da obra?
- A alusão é sua, nossa preocupação restringe-se aos aspectos burocráticos, como, por exemplo, mudança de endereço do destinatário.
- Impossível, ele nunca mudou de lugar.
- Acredito, porém, lei é lei.
- Meus parabéns, por sua determinação, colocarei o remetente.
- Muito bem, todavia, há outro probleminha, pois tenho que verificar se isto é realmente um livro, como alega o senhor.
- Duvida de minha palavra?
- Em nenhuma hipótese, o procedimento é de praxe.
- Vai estragar o envelope.
- Eu vi o senhor, há minutos, com o bastão de cola, ainda não secou.
- O senhor acha que isso é um porta-retrato, uma edição especial do Tio Patinhas, uma caixa de bombons, um estojo de maquiagem, enfim, tudo, menos um livro.
- Senhor, a lei é a lei.
- E bom senso é bom senso.
- Vou fazer vista grossa, dessa vez.
- Agradeço.
- Ops! Há mais uma coisinha em falta.
- Já sei, o senhor deseja saber o nome do livro, o autor, a editora, o que contém na orelha, o ano da edição e o número do ISBN.
- Nada disso me interessa, peço-lhe apenas que escreva, na mesma face do destinatário, que é um impresso e pode ser aberto pela ECT.
- O senhor não tem jeito mesmo.
- Senhor, a lei é lei.
- Onde rabisco?
- Pode ser aí no canto superior esquerdo.
- Prefiro o inferior.
- Fique à vontade.
- Pronto! E não vá inventar outra complicação.
- Através do Registro Módico, o valor é de 4 reais e 35 centavos.
- Avante.
- Espere aí, mais uma coisinha essencial.
- Minha Santa Maria, meu São José, o que é dessa vez?
- O CEP no endereço do destinatário.
- Papai Noel não tem isso.
- Então, não segue, lei é lei.
- Diachos, qualquer criança sabe onde mora Papai Noel.
- Eu duvido.
- O senhor não teve infância.
- Ofensas não ajudarão no despacho. Sem CEP, nada feito.
- Ora, a lei! Quer saber, fica pro senhor como presente de Natal.
- Que livro é?
- Uma história com vampiro.
- Dispenso e digo mais, Papai Noel não leria tal coisa.
- Jogue no lixo!
- Impossível, o chefe me questionaria e quero encrencas longe de mim nessa época do ano. Quer um conselho?
- Mande.
- Por que não despacha a obra pro senhor mesmo?
- O senhor acha que tenho cara de vampiro?
- Na verdade, desconfio que o senhor se transforma num tremendo Papai Noel na maravilhosa noite do Natal.
- Seja sincero, o senhor fala em Papai Noel pensando em vampiro.
- Senhor, eu tenho que trabalhar.
- Está vendo, muda de conversa rapidinho. Grite pra todo mundo na agência ouvir: pessoal, este senhor aqui é um vampiro que se disfarça de Papai Noel no Natal!
- O senhor é louco.
- Sim, fiquei desequilibrado depois que caí de uma chaminé e bati com a cabeça nos tijolos refratários.
- Senhor, pegue seu livro e me deixe trabalhar, por favor.
- Eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou, no entanto, voltarei no próximo ano. Prepare o espírito senhor!

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NOCAUTE

Saturday 12 December 2009

A RAINHA CONTRA OS REIS

Pensei em começar com a pergunta – você já ouviu falar do agricultor Juarez Vieira Reis? -, mas cheguei à conclusão de que seria bobagem dessas do tipo foto de disco-voador ou lobisomem em noite de lua cheia. Bem, saquemos outra: na senadora Kátia Abreu, do outrora insuspeito DEM, sim? Ora, claro, na mídia, a mulher aparece mais que despacho em esquina. E deveria aparecer cada vez mais depois que eleita, pela revista, Carta Capital como ‘a rainha do latifúndio improdutivo’, todavia, continua aparecendo só o suficiente para autopromover-se como uma espécie de cereja no bolo do agronegócio, que a escolheu – enfim, uma mulher - como porta-voz dos lobistas presentes nos corredores e gabinetes dos Ministérios que ditam as regras do negócio agro no país. Já presenciei uma entrevista com a senadora Kátia Abreu e saí com a impressão de ter visto um dos melhores exemplos do autoritarismo que campeia no, digamos, estrato superior do meio rural. Todavia, pegou-me de calça curta a notícia de que a tal líder de saias é protagonista de ‘grilagem pública’ - essa é ótima’ - segundo o Ministério Público Federal do Tocantins. Pronto, doutor Roberto Rodrigues, eis o que faltava para solapar, de uma vez por todas, a imagem do agronegócio brasileiro: uma rainha contra os Reis, Juarez Vieira e família.

Eu sei que aos quatro gatos pingados e às quatro gatas pingadas, que em geral aguentam – rezo para que, vez ou outra, leiam - o que escrevo e envio por correio eletrônico ou coloco no ‘blog’ (http://a-prensa.blogspot.com), uns e outras por educação ou benquerença, não estão nem aí pro agronegócio. A história do senhor Reis e família, entretanto, encerra um adendo ante o qual ninguém pode ficar indiferente, resida no campo ou na cidade. Refiro-me a nossa justiça, cujas atuais imagem e reputação não são das melhores. Que a ‘rainha do latifúndio improdutivo’, presidenta da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu, seu irmão e outros apaniguados tenham sido contemplados, pelo Estado do Tocantins, com terras supostamente improdutivas, ao preço de 8 reais por hectare, talvez fosse parte de um projeto-piloto de reforma agrária do governo FHC, que infelizmente acabou engavetado, paciência. Tomar, com a ajuda do governador Siqueira Campos, filiado ao PSDB, as terras em que o agricultor Reis nascera, no município de Campos Lindos, lá trabalhara por 50 anos cultivando arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi, aí são outros 500. Aliás, incompatíveis, os 500, com o discurso modernista e legalista da ‘musa do agronegócio’. Ou seja, a senadora deveria ser chamada a explicar esse seu agronegócio, que diz alho quando pensa bugalho.

Diz lá o texto da Carta Capital, que recebi do jornalista Richard Jakubasko acrescido de comentário do jornalista Nivaldo Manzano, que Seu Reis possui documentos de propriedade, um deles de 6 de setembro de 1958, reconhecendo as terras em nome de outro Reis, Mateus, o pai, e com eles tentou barrar a desapropriação na justiça. A revista escreve justiça com o jota em maiúscula, eu faço justiça com minha minúscula. Pois bem, ignorando a ação de usucapião em andamento desde o ano 2000, a musa reuniu sua tropa oligárquica e partiu com os tratores pra cima da justiça. Resultado: Seu Reis foi expulso, sem direito a qualquer indenização por tudo que ali construiram os Reis durante cinco décadas. A matéria termina dizendo que Reis continua a lutar para convencer o Tribunal de Justiça do Tocantins a reconhecer seus direitos e assegurar o retorno dos Reis a sua terra. Lembro que a publicação é datada de novembro passado e, quiçá, nessa altura do campeonato, a turma daquele egrégio Tribunal tenha pensado melhor e está em vias de rever a lambança. Afinal, pelo contado, nas terras dos Reis a senadora sequer se deu ao trabalho de instalar um mísero curral eleitoral, para juntar eleitores enquanto esperam a livre manifestação nas urnas. Se isso não é terra improdutiva...

Vou encerrar com uma alegoria, resumindo a historinha daquele bangue-bangue Justiceiro Implacável, com John Wayne (delegado federal Rooster Cogburn) e Katharine Hepburn (Eula, filha de um pastor) nos papéis principais. Rooster é do tipo que atira primeiro e pergunta depois, o que leva o juiz Parker (John McIntire) a cassar sua estrela. O mesmo juiz é obrigado, posteriormente, a fazer um acordo com Rooster: este sairia à caça do líder de uma quadrilha, Hawk (Richard Jordan), e recuperaria o distintivo se trouxesse o bandido vivo. Desgraçadamente, acontece o previsível ou até pior, pois Rooster acaba com Hawk e toda sua gangue. Novamente no tribunal, preste a confirmar que Rooster não tem jeito mesmo, o juiz Parker enfrenta a argumentação e grande mentira de Eula – ela afirma que matara Hawk. Resultado: Rooster recebe a estrela de volta e por aí se encerra a história, deixando como mensagem a idéia de que a justiça capitulara. Bom, isso aconteceu no velho oeste, quando o mundo era bem diferente, algumas mulheres já sabiam puxar o gatilho e Eula realmente o fizesse, embora não contra Hawk. Rooster, como reza o título da fita, era um justiceiro, contudo, desde então, a justiça em geral melhorou muito, pois nem em filmes assistimos mais à truculência com as próprias mãos. Obviamente, não seria nosso Tocantins, que nem oeste é, palco para o surgimento entre nós desse tipo de ação, exceto se às avessas, porém, nossa justiça jamais permitirá que isso ocorra. Acredite.

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A RAINHA CONTRA OS REIS

Pensei em começar com a pergunta – você já ouviu falar do agricultor Juarez Vieira Reis? -, mas cheguei à conclusão de que seria bobagem dessas do tipo foto de disco-voador ou lobisomem em noite de lua cheia. Bem, saquemos outra: na senadora Kátia Abreu, do outrora insuspeito DEM, sim? Ora, claro, na mídia, a mulher aparece mais que despacho em esquina. E deveria aparecer cada vez mais depois que eleita, pela revista, Carta Capital como ‘a rainha do latifúndio improdutivo’, todavia, continua aparecendo só o suficiente para autopromover-se como uma espécie de cereja no bolo do agronegócio, que a escolheu – enfim, uma mulher - como porta-voz dos lobistas presentes nos corredores e gabinetes dos Ministérios que ditam as regras do negócio agro no país. Já presenciei uma entrevista com a senadora Kátia Abreu e saí com a impressão de ter visto um dos melhores exemplos do autoritarismo que campeia no, digamos, estrato superior do meio rural. Todavia, pegou-me de calça curta a notícia de que a tal líder de saias é protagonista de ‘grilagem pública’ - essa é ótima’ - segundo o Ministério Público Federal do Tocantins. Pronto, doutor Roberto Rodrigues, eis o que faltava para solapar, de uma vez por todas, a imagem do agronegócio brasileiro: uma rainha contra os Reis, Juarez Vieira e família.

Eu sei que aos quatro gatos pingados e às quatro gatas pingadas, que em geral aguentam – rezo para que, vez ou outra, leiam - o que escrevo e envio por correio eletrônico ou coloco no ‘blog’ (http://a-prensa.blogspot.com), uns e outras por educação ou benquerença, não estão nem aí pro agronegócio. A história do senhor Reis e família, entretanto, encerra um adendo ante o qual ninguém pode ficar indiferente, resida no campo ou na cidade. Refiro-me a nossa justiça, cujas atuais imagem e reputação não são das melhores. Que a ‘rainha do latifúndio improdutivo’, presidenta da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu, seu irmão e outros apaniguados tenham sido contemplados, pelo Estado do Tocantins, com terras supostamente improdutivas, ao preço de 8 reais por hectare, talvez fosse parte de um projeto-piloto de reforma agrária do governo FHC, que infelizmente acabou engavetado, paciência. Tomar, com a ajuda do governador Siqueira Campos, filiado ao PSDB, as terras em que o agricultor Reis nascera, no município de Campos Lindos, lá trabalhara por 50 anos cultivando arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi, aí são outros 500. Aliás, incompatíveis, os 500, com o discurso modernista e legalista da ‘musa do agronegócio’. Ou seja, a senadora deveria ser chamada a explicar esse seu agronegócio, que diz alho quando pensa bugalho.

Diz lá o texto da Carta Capital, que recebi do jornalista Richard Jakubasko acrescido de comentário do jornalista Nivaldo Manzano, que Seu Reis possui documentos de propriedade, um deles de 6 de setembro de 1958, reconhecendo as terras em nome de outro Reis, Mateus, o pai, e com eles tentou barrar a desapropriação na justiça. A revista escreve justiça com o jota em maiúscula, eu faço justiça com minha minúscula. Pois bem, ignorando a ação de usucapião em andamento desde o ano 2000, a musa reuniu sua tropa oligárquica e partiu com os tratores pra cima da justiça. Resultado: Seu Reis foi expulso, sem direito a qualquer indenização por tudo que ali construiram os Reis durante cinco décadas. A matéria termina dizendo que Reis continua a lutar para convencer o Tribunal de Justiça do Tocantins a reconhecer seus direitos e assegurar o retorno dos Reis a sua terra. Lembro que a publicação é datada de novembro passado e, quiçá, nessa altura do campeonato, a turma daquele egrégio Tribunal tenha pensado melhor e está em vias de rever a lambança. Afinal, pelo contado, nas terras dos Reis a senadora sequer se deu ao trabalho de instalar um mísero curral eleitoral, para juntar eleitores enquanto esperam a livre manifestação nas urnas. Se isso não é terra improdutiva...

Vou encerrar com uma alegoria, resumindo a historinha daquele bangue-bangue Justiceiro Implacável, com John Wayne (delegado federal Rooster Cogburn) e Katharine Hepburn (Eula, filha de um pastor) nos papéis principais. Rooster é do tipo que atira primeiro e pergunta depois, o que leva o juiz Parker (John McIntire) a cassar sua estrela. O mesmo juiz é obrigado, posteriormente, a fazer um acordo com Rooster: este sairia à caça do líder de uma quadrilha, Hawk (Richard Jordan), e recuperaria o distintivo se trouxesse o bandido vivo. Desgraçadamente, acontece o previsível ou até pior, pois Rooster acaba com Hawk e toda sua gangue. Novamente no tribunal, preste a confirmar que Rooster não tem jeito mesmo, o juiz Parker enfrenta a argumentação e grande mentira de Eula – ela afirma que matara Hawk. Resultado: Rooster recebe a estrela de volta e por aí se encerra a história, deixando como mensagem a idéia de que a justiça capitulara. Bom, isso aconteceu no velho oeste, quando o mundo era bem diferente, algumas mulheres já sabiam puxar o gatilho e Eula realmente o fizesse, embora não contra Hawk. Rooster, como reza o título da fita, era um justiceiro, contudo, desde então, a justiça em geral melhorou muito, pois nem em filmes assistimos mais à truculência com as próprias mãos. Obviamente, não seria nosso Tocantins, que nem oeste é, palco para o surgimento entre nós desse tipo de ação, exceto se às avessas, porém, nossa justiça jamais permitirá que isso ocorra. Acredite.

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A RAINHA CONTRA OS REIS

Pensei em começar com a pergunta – você já ouviu falar do agricultor Juarez Vieira Reis? -, mas cheguei à conclusão de que seria bobagem dessas do tipo perguntar sobre foto de disco-voador ou lobisomem em noite de lua cheia. Bem, saquemos outra: senadora Kátia Abreu, do outrora insuspeito DEM, sim? Ora, claro, na mídia a mulher aparece mais que despacho em esquina. E deveria aparecer cada vez mais depois que eleita, pela revista, Carta Capital como ‘a rainha do latifúndio improdutivo’, todavia, continua aparecendo só o suficiente para autopromover-se como uma espécie de cereja no bolo do agronegócio, que a escolheu – enfim, uma mulher - como porta-voz dos lobistas presentes nos corredores e gabinetes dos Ministérios que ditam as regras do negócio agro no país. Já presenciei uma entrevista com a senadora Kátia Abreu e saí com a impressão de ter visto um dos melhores exemplos do autoritarismo que campeia no, digamos, estrato superior do meio rural. Todavia, pegou-me de calça curta a notícia de que a tal líder de saias é protagonista de ‘grilagem pública’ - essa é ótima’ - segundo o Ministério Público Federal do Tocantins. Pronto, doutor Roberto Rodrigues, eis o que faltava para solapar, de uma vez por todas, a imagem do agronegócio brasileiro: uma rainha contra os Reis, Juarez Vieira e família.

Eu sei que aos quatro gatos pingados e às quatro gatas pingadas, que em geral aguentam – rezo para que, vez ou outra, leiam - o que escrevo e envio por correio eletrônico ou coloco no ‘blog’ (http://a-prensa.blogspot.com), uns e outras por educação ou benquerença, não estão nem aí pro agronegócio. A história do senhor Reis e família, entretanto, encerra um adendo ante o qual ninguém pode ficar indiferente, resida no campo ou na cidade. Refiro-me a nossa justiça, cujas atuais imagem e reputação não são das melhores. Que a ‘rainha do latifúndio improdutivo’, presidenta da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu, seu irmão e outros apaniguados tenham sido contemplados, pelo Estado do Tocantins, com terras supostamente improdutivas, ao preço de 8 reais por hectare, talvez fosse parte de um projeto-piloto de reforma agrária do governo FHC, que infelizmente acabou engavetado, paciência. Tomar, com a ajuda do governador Siqueira Campos, filiado ao PSDB, as terras em que o agricultor Reis nascera, no município de Campos Lindos, lá trabalhara por 50 anos cultivando arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi, aí são outros 500. Aliás, incompatíveis, os 500, com o discurso modernista e legalista da ‘musa do agronegócio’. Ou seja, a senadora deveria ser chamada a explicar esse seu agronegócio que diz alho quando pensa bugalho.

Diz lá o texto da Carta Capital, que recebi do jornalista Richard Jakubasko acrescido de comentário do jornalista Nivaldo Manzano, que Seu Reis possui documentos de propriedade, um deles de 6 de setembro de 1958, reconhecendo as terras em nome de outro Reis, Mateus, o pai, e com eles tentou barrar a desapropriação na justiça. A revista escreve justiça com o jota em maiúscula, eu faço momentaneamente justiça com minúscula. Pois bem, ignorando a ação de usucapião em andamento desde o ano 2000, a musa reuniu sua tropa oligárquica e partiu com os tratores pra cima da justiça. Resultado: Seu Reis foi expulso, sem direito a qualquer indenização por tudo que ali construiram os Reis durante cinco décadas. A matéria termina dizendo que Reis continua a lutar para convencer o Tribunal de Justiça do Tocantins a reconhecer seus direitos e assegurar o retorno dos Reis a sua terra. Lembro que a publicação é datada de novembro passado e, quiçá, nessa altura do campeonato, a turma daquele egrégio Tribunal tenha pensado melhor e está em vias de rever a lambança. Afinal, pelo contado, nas terras dos Reis a senadora sequer se deu ao trabalho de instalar um mísero curral eleitoral, para juntar eleitores enquanto esperam a livre manifestação nas urnas. Se isso não é terra improdutiva...

Vou encerrar com uma alegoria, resumindo a historinha daquele bangue-bangue Justiceiro Implacável, com John Wayne (delegado federal Rooster Cogburn) e Katharine Hepburn (Eula, filha de um pastor) nos papéis principais. Rooster é do tipo que atira primeiro e pergunta depois, o que leva o juiz Parker (John McIntire) a cassar sua estrela. O mesmo juiz é obrigado, posteriormente, a fazer um acordo com Rooster: este sairia à caça do líder de uma quadrilha, Hawk (Richard Jordan), e recuperaria o distintivo se trouxesse o bandido vivo. Desgraçadamente, acontece o previsível ou até pior, pois Rooster acaba com Hawk e toda sua gangue. Novamente no tribunal, preste a confirmar que Rooster não tem jeito mesmo, o juiz Parker enfrenta a argumentação e grande mentira de Eula – ela afirma que matara Hawk. Resultado: Rooster recebe a estrela de volta e por aí se encerra a história, deixando como mensagem a idéia de que a justiça capitulara. Bom, isso aconteceu no velho oeste, quando o mundo era bem diferente, algumas mulheres já sabiam puxar o gatilho e Eula realmente o fizesse, embora não contra Hawk. Rooster, como reza o título da fita, era um justiceiro, contudo, desde então, a justiça em geral melhorou muito, pois nem em filmes assistimos mais à truculência com as próprias mãos. Obviamente, não seria nosso Tocantins, que nem oeste é, palco para o surgimento entre nós desse tipo de ação, exceto se às avessas, porém, nossa justiça jamais permitirá que isso ocorra. Acredite.

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OPERAÇÃO IMPRENSA

Saturday 5 December 2009

OPERAÇÃO IMPRENSA

A pedido ou por sugestão de alguma figura comprometida com o moto contínuo da moralização da República, os homens sisudos e duros da Polícia Federal iniciam a investigação. Escolhem um nome metido a sebo, como Operação Caixa de Pandora, por exemplo, passam um punhado de tempo investigando, grampeiam telefones, fazem gravações na moita, juntam arruda com alfavaca e, uma vez seguros de que há realmente caroço debaixo do angu, escorregam a notícia para ver se aumenta tiragem da nossa imprensa. Nem sempre a turma da PF é bem-sucedida, pois às vezes a bomba coincide com o lançamento de uma coleção de livros de culinária ou dos museus do mundo, CDs de MPB ou jazz, DVDs com os clássicos de Hollywood, essas coisas. Os donos das publicações, evidentemente, maldizem a falta de comunicação entre os poderes – a PF é braço do Executivo e imprensa é o quarto -, uma vez que a delicada consumidora é obrigada a optar entre aprender como preparar berinjela ao forno, ouvir Paulo Vanzolini no três em um, levar Rock Hudson pra curtir no sofá ou apostar que vale a pena ir além da chamada de capa. Imaginemos que seja esta última a opção e tomemos por castigo um dos nossos chamados grandes jornais.

No primeiro dia, a venda em bancas explode de 21 mil para 23 mil exemplares. Oba, um sucesso de deixar qualquer shimbun com inveja. Durante a semana, com as novas revelações sobre o uso da Arruda e seus ramos contra o mau olhado, a Operação Imprensa, digo, a Operação Caixa de Pandora continua a dar fantásticos resultados, atingindo às vezes o inacreditável pico de 25 mil exemplares vendidos, sem um único mísero encalhe nas bancas. Conhecida na Europa como a erva álacre, a Arruda também esparge alegria no seio das redações tropicais, onde a notícia da vendagem espalha-se mais que saia de baiana na Sapucaí. Na segunda semana, a leitora começa a confundir Caixa de Pandora com Caixa 2 minha senhora, Arruda com arreda, Azeredo com azarado, Democratas com Demopratas, PT com ‘prét-à-porter’, PMDB com MDB, tucano com teu cano, Conterc com Terc, troca PF por frango com polenta, Oliveira por Olival, planilha vira palmilha, campanha já é champanha, doou é dou ou... Finalmente, Tribunal com trem banal e, como é natural, cai a venda do jornal. A leitora não vê, digo, lê mais nada, seu interesse retorna ao tomo culinário, na página da abobrinha recheada com pepino e carne de vaca moída, prato indigesto, mas gostoso pra chuchu. É preciso viver a vida.

Na terceira semana, cumprida a missão, a PF retira sua tropa de campo e a coloca noutra efervescente atividade: descobrir nos pais-dos-burros disponíveis um novo nome para definir a próxima bombástica Operação. Os federais recebem e passam a sofregamente fuçar nas últimas edições impressas e eletrônicas dos dicionários Michaelis, Houaiss, Aurélio, Contrastivo Luso-Brasileiro, Melhoramentos Ilustrado, Enciclopédico Koogan Larousse e outros, devidamente atualizados conforme as novas exigências ortográficas do português. Enquanto isso, no sentido de colaborar com as pesquisas policialescas, para que surja o quanto antes a nova Operação, os jornais preparam uma edição definitiva do Repertório Onomástico pra Manchetes Jornalísticas, a ser vendida junto com os exemplares dominicais.

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