NOCAUTE

Tuesday 30 March 2010

INSULTENSÍLIO

Os japoneses criaram o ‘chindogu’, cuja tradução nos dá algo que mistura insólito com utensílio, digamos, um insultensílio. Criação do editor da revista Mail Order Life, Kenji Kawakami, que estudou engenharia aeronáutica na Universidade de Tokai, o insultensílio é, segundo seu criador, um troço libertário, anarquia pura saída das entranhas do espírito livre em luta contra o consumismo. Tão fantástico que uniu Kawakami e um editor norte-americano, Dan Papia, para escrever dois livros, o primeiro – 101 Invenções Japonesas Inúteis: a Arte do Chindogu – em 1995, antes do segundo, em 1999. Sucesso, pois ambos já venderam mais de 300 mil cópias só no Japão, além de receberem tradução para o espanhol, alemão, francês e chinês. Não sabemos por que tais obras não chegaram por aqui, embora há quem chute como motivo o fato de que nossas editoras ainda premiam os autores dos livros com 10% das vendas, algo que não encaixa o objeto na classe dos insultensílios, portanto...

Mas, originalmente, o que faz de uma criação humana um insultensílio? Imagine a invenção de um treco, cujas características habilitam o demiurgo a ser aceito no clube do cretinismo, e terá desvendado o mistério. Não consegue? Como? Está com medo de conceber e receber o merecido diploma? Acalme-se, tome meio copo d’água adoçado com rapadura mole, sente-se, acenda a luz e tente fixar o olhar no neurótico filamento amarelo da lâmpada pensando no nada. Você está brincando: na sua casa só existe lâmpada fria e branca? Vive, por acaso, numa morgue? Vou ajudar com um exemplo brotado da imaginação japonesa: uma caixa transparente para enfiar as mãos na hora de cortar as unhas, para evitar a dispersão das lascas em locais inapropriados. Viu como é fácil, agora é a sua vez. Nada de timidez, se Deus é brasileiro, o que lhe impede de ser um rei da sacação? Mais uma sugestão antes de partir pras cabeças? Um orelhão da Telefônica que funciona. Pronto, eis o máximo do insultensílio que consegui bolar, agora é a sua vez, camaradinha.

E foi assim que era uma vez um inventor brasileiro de insultensílios, uma espécie de Edgard Leuenroth das anarco-inutilidades. Dentre as coisas engendradas nos miolos desse gênio da raça alegre, ocupou o primeiro degrau um prato sem fundo pra orquestra, destinado a tratar piscisquicamente de pessoas que se assustam com a música de Bernard Herrmann no filme O Homem que Sabia Demais, de Hitchcock. No combate sem trégua ao consumismo, nas trincheiras profundas da luta, eis que depois nasceu o saco, a exemplo do prato, sem fundo, tecido em malha biodegradante. Funciona assim: a madame enche o carrinho até a borda, dirige-se ao caixa e, passado o último item, percebe quão útil é o saco ecológico-insustentável. Pede perdão e estorno à mocinha que a atende, e perdoa, encantada com a frase à la James Lovelock: minha consciência se nega a degradar o planeta. Por fim, a invenção das invenções: o veículo sem rodas, para o trânsito nas grandes cidades. Uma genuína obra-prima do desenho futurista a ser exibida na Bienal paulistana, no mesmo andar em foi exposto aquele homem nu, criado por Fernando Sabino, sob inspiração divina, do qual arrancou uma costela para criar Zélia Cardoso de Mello, um dos mais inacreditáveis insultensílios jamais imaginados por um ser racional em Chico City.

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Thursday 25 March 2010

NARDONIS NO PICCOLO

Mais uma vez no Piccolo 4111, circular Vila Monumento-República, ouvindo a voz de Deus, ou seja, do povo, anoto conversa entre o motorista e o passageiro no assento ao lado oposto, reservado às gestantes, mulheres com bebês ou crianças de colo, deficientes físicos e idosos. O passageiro encaixa-se nesta última categoria e inicia o bate-papo com a autoridade que a idade lhe confere.

- E esse caso dos Nardonis...
- Uma loucura.
- Se confessassem, eles dariam uma enorme ajuda à sociedade.
- E conseguiriam a paz espiritual.
- Verdade, mas, pelo que temos visto em nosso país, no máximo irão ficar presos apenas das próprias consciências, por um tempo justo, uma lástima.
- A defesa continua alegando que houve um terceiro na história.
- Homem, vou lhe dizer, nem o pior bandido da cidade faria uma coisa como essa com uma criança. Quando muito, um malfeitor daria um safanão pra ela calar a boca.
- Tem toda razão. Sabe que os assassinos de crianças têm de ser isolados do resto dos prisioneiros, que não aceitam esse tipo de gente.
- Um pai, um pai, descarregar na própria filhinha, não consigo compreender.
- Sabe que, desde o primeiro instante, enxerguei no olhar da madrasta sinais de perversidade, mas o olhar do pai parece feito de gelo.
- A justiça há de ser feita.
- Se fosse perpétua estaria de bom tamanho.
- Que me diz da pena de morte?
- Coisa pra povo muito adiantado ou muito atrasado, não é pra nós.
- Vamos aguardar.
- Vamos aguardar.

Pouco além, duas senhoras, com Bíblias no colo, resolvem esticar o assunto, puxando para um outro lado a questão.

- Eles fizeram isso porque estavam tomados pelo anjo rebelde, o maligno que opera e se apossa das pessoas, Irene.
- O pastor mostra como satanás age quando a fé falha.
- É verdade. A pessoa demora a perceber o que o malvado está preparando e, mais dia menos dia, vem a desgraceira.
- Prova da falta de compromisso na fé, Maria.
- Dizem que a infeliz lia livros de Alan Kardec e Gasparetto, depois, atrás das grades, resolveu se converter, virar evangélica.
- Depois é tarde. Falam que chora o tempo todo.
- Será verdade, a imprensa mente muito.
- Se o homem não fizer justiça, Deus fará.
- Deus é fiel.
- Deus é fiel, aleluia!

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Wednesday 24 March 2010

PERIGOS NAS ENTRELINHAS E LINHAS

Amigo é quem avisa, portanto, não tente ler nas entrelinhas deste texto, uma vez que nestes exíguos espaços se escondem alçapões, trampas, arapucas, currais, cercos, laços, mundéus, ardis, emboscadas, enfim, coisas que escapam ao meu governo e - si hay gobierno, soy contra - não posso ajudar a quem quer que se aventure numa empreitada tão desatinada. Comecei a lobrigar (eta! verbinho seboso) tais perigos nos distantes idos do Ginásio, quando a professora Romilda Medeiros já me ensinava, com todas as letras, que não se deve brincar com elipse, sinais diacríticos e babados semelhantes. Romilda não dava sopa para mesóclise de folgado, enquanto competia, em rigor e reprovação, nas linhas e entrelinhas, com a mestra Maria Augusta, uma dogmática que me infernizava a existência com as linhas do paralelogramo e de outras figuras do seu baú geométrico. Aos trancos e barrancos, consegui ultrapassar a linha final do curso ginasial, onde aprendi que, depois de pular o muro escondido do bedel, a menor distância entre a sala de aula e o Cine Diamante era uma linha reta.

Nas entrelinhas e entre linhas, muitas águas já rolaram por baixo da minha ponte. Nas entrelinhas, certa vez tropecei na perna de um cê-cedilha e cometi um dos erros mais bestas da minha vida. Bispei, entre linhas, situações horríveis nos desenhos animados em geral, particularmente nos do Papa-Léguas. Entrelinhas, enforquei o pingo de um jota metido a janota no laço de um gê. Entre linhas, viajavam os passageiros do horário das dez, nas manhãs dominicais, sob um calor de 40 graus, vítimas dos meus petelecos nos seus picolés colocados a respingar, fora da janela do trem, sobre a plataforma da estação de Catende. Tempos depois descobri que Mario Monicelli fora muito menos cruel, na sua deliciosa comédia, com tapinhas no rosto. E, nos mesmos trilhos, entre linhas caíam as brasas da maria-fumaça que me atormentavam a vida moleca quando tentava abandonar o bigu antes do ponto final do comboio ferroviário.

Entrelinhas, despencou um acento agudo e se cravou como um punhal no crânio do último ó do borogodó. Entre linhas, os lambaris sempre me deixam nervoso ao encarar minhas iscas como aperitivos no palito. Entrelinhas, vivo às turras com as crases. Entre linhas, lobriguei (este verbo está me perseguindo) o que aconteceu quando os militares brasileiros optaram pela dura, depois do Golpe de 1º de abril de 1964. Entrelinhas, no dia em que coloquei um chapéu na palavra côco, em cabeça-de-coco, a professora me chamou de avoado. Entre linhas, vi Marzilda procurar o dedal e se ferir numa agulha sem linha, amoitada na almofadinha de retalho. Entrelinhas, grifei a palavra habanera e corri ao dicionário, para não dançar. E por aí se esparramam os perigos nas entrelinhas e linhas.

Você pode se arriscar entre parágrafos, aí sim, onde a divisão é mais espaçosa e cria um corredor com saída tanto para a esquerda quanto para a direita. Note que, em geral, o campo do lado direito é mais generoso, quando a linha que o invade perde o fôlego e não consegue chegar até o fim dela mesma. Nunca tente a fuga já no primeiro parágrafo, arriscando-se a uma queda livre das alturas. Siga pelo menos até o penúltimo. O ideal mesmo é abandonar o texto na última linha.

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Sunday 14 March 2010

OS BESGUIOTAS

E o BBB escravizou seus telespectadores, que pagam para ver tais proezas e permanecem, horas e horas, hipnotizados pela assombrosa criatividade, movida a cifras que vão muito além da imaginação.

Era uma vez uma rede de TV brasileira, explorada sob concessão governamental, que exibia um programa conhecido pela sigla BBB. O índice de audiência era enorme para ver coisas do tipo: um moço de porte atlético, vestindo um calção aparentado às cuecas samba canção, peito peludo pelado, a caminhar numa esteira, a caminhar numa esteira, a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... . a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... Aos produtores do negócio, uma pergunta: a exposição do mancebo completamente nu não poderia elevar o Ibope a níveis definitivamente priapescos?

E o BBB fez a mulher, que surge em todo seu esplendor tomando banho sob uma deliciosa ducha. A Eva está de biquíni e levanta o Ibope. Toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... . toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... . toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... Aos produtores, outra pergunta: não seria interessante copiar aquele causo, se não me engano, de Alvarenga e Ranchinho, que em conversa sobre o maiô de três peças, inventado no Rio de Janeiro, revelam as características da moda limitada a chapéu, óculos e chinelo?

E o BBB escravizou seus telespectadores, que pagam para ver tais proezas e permanecem, horas e horas, hipnotizados pela assombrosa criatividade, movida a cifras que vão muito além da imaginação. Sentados no sofá da sala, eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... Aos produtores, nada mais a perguntar.

E no futuro, ao escavar as ruínas dos sítios televisivos, um arqueólogo encontrará um ser humano perfeitamente conservado, esparramado em um sofá coberto por um plástico anti-poluição, e reconhecerá o achado como um legítimo representante de uma raça que passará a ser classificada pelo neologismo besguiotas.

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Thursday 11 March 2010

BASTARDOS INGLÓRIOS E OUTROS BICHOS
By Louella

Definitivamente, reconheço minha limitação cinéfila: se era pra entender alguma coisa, não captei; se era como o Chacrinha, que veio só pra confundir, faltou confusão; se era pra rir, faltou comédia.Apesar de tudo, gostei do Brad Pitt com aquele sotaque caipirão de caubói do Tennessee, que aliás nem se deu ao trabalho (o Brad, não o personagem, é claro) de aparecer no grandioso circo do tapete vermelho; e gostei das sacadas de história em quadrinhos, além da música de bangue-bangue, claro. Gostei de algumas cenas e curti inclusive algumas ideias brilhantes pipocando aqui e ali. De resto e apesar das tais limitações, não sei se minhas ou do filme, tenho a impressão de que Bastardos será o melhor da atual safra de ‘oscarizados’. Não vi Guerra ao Terror e, portanto, nada de palpitar por enquanto mas adquiri certa simpatia pela diretora, que me pareceu séria e inteligente. Tanto é que só ficou dois anos casada com o Cameron, o que já depõe a favor dela, vamos admitir. E acho uma baita injustiça da mídia ficar repetindo o tempo todo: a ex-mulher do Cameron pra cá, a ex-mulher do Cameron pra lá. Foram só dois aninhos e a pobre deve estar querendo esquecer, apesar de fazer uma mediazinha nas entrevistas, é claro.

Já imaginaram agüentar um sujeito que faz aqueles trecos azuis, como diz a minha amiga Vilma, e ainda posa de salvador das esquerdas internacionais só porque botou um marine americano paralítico pra salvar uns nativos bobocas? ahahaha

Tá bem, ele mergulhou até o Titanic, foi conhecer o navio de verdade lá no fundo do mar antes de filmar, o que foi um ponto a seu favor em minha opinião. Mas em seguida montou aquela estorinha melosa e maniqueísta com o Di Caprio e a Kate Winslet a bordo, o que por si só afundaria o navio de novo caso ele voltasse à tona.

Mas, voltando à Bigelow, ela ainda teve que aturar, além da eterna pecha de ex-mulher do Cameron, a Barbra Streisand em momento esclerosada. A criatura teve o desplante de vincular o prêmio a uma questão sexista: oh! é chegada a hora! exclamou embasbacada ao abrir o envelope. Chegada a hora de quê, dona Barbra? acorda, santa. A própria Bigelow gosta de ser chamada de ‘diretor’ ou ‘filmmaker’,em inglês, assim mesmo, sem distinção de sexo porque diz que isso é besteira e diretor é diretor, não importa o sexo. Mas La Streisand tinha que fazer caras e bocas só porque estava anunciando a primeira mulher a ganhar o prêmio de melhor direção. Vai ver ela estava querendo disfarçar porque não foi premiada na época de Yentl, aquela suprema chatice, e resolveu fingir que só não levou o Oscar porque ainda ‘não era chegada a hora’. Duvidam?

Outro filme que podia até dar samba mas acabou esnobado (merecidamente) foi o Amor sem Escalas. Engraçadinho, ótima ideia e ótimo filme até lá pela metade da brincadeira. Depois entra em queda livre, deve ter dado pane nas sondas ‘pitot’ do diretor porque ele não conseguiu segurar o filme até o fim de jeito nenhum. Começou a arrastar a história, a enrolar feito novela, cenas repetitivas, aqueles episódios do casamento da irmã pareciam filmados em câmara lenta e mergulhados naqueles coquetéis tipo meia-de-seda, muuuuito sem graça e sem emoção.

Ainda bem que o diretor não teve coragem de fazer o personagem do Clooney casar e arrumar um emprego ‘correto’ no final, aí seria mesmo o cúmulo. Mas ele ficou com aquela cara de quem gostaria de se converter ao politicamente correto. Odiei a cena em que ele ganha o cartão de dez milhões de milhas e fica com cara de quem ganhou um picolé de limão. Muito bobinha essa parte.

Mas o pior de tudo mesmo é um filme em que a direção perdeu o ritmo da história e os atores não sabem até quando vão ter que manter aquele arrasta-pé diante das câmeras. Não foi à toa que a Vera Farmiga, aliás excelente em seu excelente papel, confessou à imprensa ter votado em outro filme pra eleição da Academia. Ela preferiu votar no Guerra ao Terror. Tá certa ela. Fazer o filme, vá lá. Gostar é outra coisa.

Enfim, é chato dizer que já não se fazem mais diretores como antigamente porque a gente corre o risco de ficar parecendo uns dinossauros aos olhos da garotada de hoje, mas, querem saber do que mais? a garotada de hoje que se dane porque das duas uma: ou têm vontade de conhecer cinema e vão pesquisar, estudar e comparar – e aí vão concordar comigo sobre a qualidade dos diretores – ou então ainda estão naquela puberdade eterna, achando que o Tarantino fez um filmão do caramba com o Bastardos ou que o Avatar é uma mensagem sensacional. A esses, só mesmo mandando brincar com Aldo o Apache.

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Monday 8 March 2010

KASSAB NÃO É UMA DONA DE CASA

‘Se ele soubesse o que é uma dona de casa, num domingo, não faria uma coisa como essa’. Com esta frase, colhida na feira da Rua Inglês de Souza, no Cambuci, às 11 horas deste 7 de março de 2010, dona Aracy Sales respondeu à minha solicitação de uma opinião sobre o término da feira livre paulistana ao meio dia e meia. Agradeci e fui em frente, recolhendo manifestações dos feirantes que ecoavam e caíam no asfalto quente como produtos de uma xepa do desespero: Vamos, gente, vamos, gente, o caminhão do Kassab já chegou! Baixou, baixou, na bacia só 1 real, leva freguesa antes que feche! Ai, ai, ai,ai , está chegando a hora, Kassab já vem chegando meu bem, eu tenho que ir embora. É isso aí, quem mandou votar nele! Ainda dá tempo, um por dois, três por cinco, agradeça ao Prefeito! É hora de encher a sacola, senhora, a pressa é amiga do preço bom! Vem, vem, vem que tem, pra mocinha e pro Kassab também! Estou quase indo embora, aproveita, minha senhora! A colheita foi farta e me permitiria distribuir, gratuitamente, bem mais do que as amostras aí expostas, mas, pra bom entendedor, meia cucurbitácea basta, ainda mais nesta segunda-feira em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.

Kassab tem agido, com determinação antidemocrática – ele é do DEM -, contra a feira livre como quem, no fundo, conserva um sentimento de profunda aversão às manifestações populares comezinhas. Uma das que fez história foi a que proibia os feirantes de apregoar seus produtos e preços. Lembra dela? Pois criou, nos primeiros momentos, situações constrangedoras para os vendedores e oras impedidos de usar, por imposição municipal, os criativos bordões que transformam as feiras livres em descontraídos momentos de fina mistura de consumo e lazer. Kassab fez surgir a figura do ‘feirante rebelde’, aquele que não aceitou o regulamento autoritário e continuou empregando os pulmões como antes na taba dos xavantes. Kassab criou a ‘feirante encabulada’, aquela que ousava dar um gritinho, enquanto girava o olhar com medo da ação do fiscal municipal das cordas vocais. Bom, a moda não pegou, o prefeito com certeza perdeu votos e ainda saiu contemplado com um comentário típico cambuciense: quem ele pensa que é, Jânio Quadros? Tempos depois, outra moda falida: Kassab resolveu retirar da feira livre as mesinhas e banquinhos de plástico, que cercam as barracas de pastel e caldo de cana, obrigando dona Linda a comer e beber em pé, indiferente às 80 e tantas primaveras que ela já atravessou.

Kassab não sabe, não conhece bem, como é gostoso gastar vintém, numa barraca de verduras ou bananas, poderia igualmente ter parodiado dona Aracy. Afinal, ninguém precisa se envelopar num vestidinho de malha para o verão, enfeitado com estampas de gatinhos sobre pufes, para apreciar uma feira livre. Há quem desconfie de que o atual prefeito paulistano teria enfrentado, na infância, alguma situação frustrante relacionada ao ‘popular happening’, como gente chique feito ele deve se referir à feira livre, jamais conseguindo se recuperar do trauma. Duvido. No momento, temo apenas pela sorte de um pássaro, o Peto, que frequenta a nossa feira como atração de uma das barracas. Peto passeia com desenvoltura nas traves da armação da cobertura de lona, vez em quando pula para o ombro do feirante e parece, com o bico, apontar à freguesia as melhores bacias de alho, cebola, limão... Peto é preto e, embora nada tenha a ver com o corvo de Poe, dia desses, quando lhe pedi para cantar e animar a feira, surpreendeu a todo mundo, falando, para espanto geral: ‘Kassab, nunca mais, Kassab, nunca mais, nunca mais!’

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KASSAB NÃO É UMA DONA DE CASA
‘Se ele soubesse o que é uma dona de casa, num domingo, não faria uma coisa como essa’. Com esta frase, colhida na feira da Rua Inglês de Souza, no Cambuci, às 11 horas deste 7 de março de 2010, dona Aracy Sales respondeu à minha solicitação de uma opinião sobre o término da feira livre paulistana ao meio dia e meia. Agradeci e fui em frente, recolhendo manifestações dos feirantes que ecoavam e caíam no asfalto quente como produtos de uma xepa do desespero: Vamos, gente, vamos, gente, o caminhão do Kassab já chegou! Baixou, baixou, na bacia só 1 real, leva freguesa antes que feche! Ai, ai, ai,ai , está chegando a hora, Kassab já vem chegando meu bem, eu tenho que ir embora. É isso aí, quem mandou votar nele! Ainda dá tempo, um por dois, três por cinco, agradeça ao Prefeito! É hora de encher a sacola, senhora, a pressa é amiga do preço bom! Vem, vem, vem que tem, pra mocinha e pro Kassab também! Estou quase indo embora, aproveita, minha senhora! A colheita foi farta e me permitiria distribuir, gratuitamente, bem mais do que as amostras aí expostas, mas, pra bom entendedor, meia cucurbitácea basta, ainda mais nesta segunda-feira em que se comemora o Dia Internacional da Mulher.

Kassab tem agido, com determinação antidemocrática – ele é do DEM -, contra a feira livre como quem, no fundo, conserva um sentimento de profunda aversão às manifestações populares comezinhas. Uma das que fez história foi a que proibia os feirantes de apregoar seus produtos e preços. Lembra dela? Pois criou, nos primeiros momentos, situações constrangedoras para os vendedores e oras impedidos de usar, por imposição municipal, os criativos bordões que transformam as feiras livres em descontraídos momentos de fina mistura de consumo e lazer. Kassab fez surgir a figura do ‘feirante rebelde’, aquele que não aceitou o regulamento autoritário e continuou empregando os pulmões como antes na taba dos xavantes. Kassab criou a ‘feirante encabulada’, aquela que ousava dar um gritinho, enquanto girava o olhar com medo da ação do fiscal municipal das cordas vocais. Bom, a moda não pegou, o prefeito com certeza perdeu votos e ainda saiu contemplado com um comentário típico cambuciense: quem ele pensa que é, Jânio Quadros? Tempos depois, outra moda falida: Kassab resolveu retirar da feira livre as mesinhas e banquinhos de plástico, que cercam as barracas de pastel e caldo de cana, obrigando dona Linda a comer e beber em pé, indiferente às 80 e tantas primaveras que ela já atravessou.

Kassab não sabe, não conhece bem, como é gostoso gastar vintém, numa barraca de verduras ou bananas, poderia igualmente ter parodiado dona Aracy. Afinal, ninguém precisa se envelopar num vestidinho de malha para o verão, enfeitado com estampas de gatinhos sobre pufes, para apreciar uma feira livre. Há quem desconfie de que o atual prefeito paulistano teria enfrentado, na infância, alguma situação frustrante relacionada ao ‘popular happening’, como gente chique feito ele deve se referir à feira livre, jamais conseguindo se recuperar do trauma. Duvido. No momento, temo apenas pela sorte de um pássaro, o Peto, que frequenta a nossa feira como atração de uma das barracas. Peto passeia com desenvoltura nas traves da armação da cobertura de lona, vez em quando pula para o ombro do feirante e parece, com o bico, apontar à freguesia as melhores bacias de alho, cebola, limão... Peto é preto e, embora nada tenha a ver com o corvo de Poe, dia desses, quando lhe pedi para cantar e animar a feira, surpreendeu a todo mundo, falando, para espanto geral: ‘Kassab, nunca mais, Kassab, nunca mais, nunca mais!’

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Friday 5 March 2010

ESCURA É A CAMURÇA QUE CEIFA

Eles continuam dando sinais que, por uns e outras, são interpretados como provas da iminente invasão, destinada a nos dominar ou – rátátátátátá... – dizimar. A primeira opção explica a perturbação e os esforços do Tio Sam em colocar suas forças de segurança como guardiães das evidências. O império manobra, evidentemente, no sentido de não perder a hegemonia para os extraterrestres, utilizando no ludibrio a farfúncia de escritores de ficção científica, cronistas imprudentes, pesquisadores de segunda linha, caçadores empedernidos de OVNIs e, principalmente, os meios de comunicação. Entre os últimos, destacam-se a televisão, a Internet e o cinema, este, em particular, com suas obras dedicadas ao assunto, nos mais diversos gêneros, disseminando falsas pistas. Um dos mais notáveis exemplos dessas pegadinhas está em obras do Spielberg, nas quais o invasor tem cara de retardado com sérios distúrbios afetivos. Fitas que mostram seres com olhos que são globos dançantes de ternura, implantados na cratera craniana protegida por um ovo transparente de acrílico, quando nós desconfiamos com quase certeza de que os extraterrestres têm olhos puxados e rosto de pizza brotinho.

A preocupação com a possibilidade de perda do poder terrestre, no entanto, eclipsa o verdadeiro perigo que nos ronda, ou seja, a eliminação da espécie humana, da Terra e da Estação Espacial Internacional, de modo a não sobrar vestígio da nossa existência. A ordem seria; primeiro, os Estados Unidos, depois, o Brasil, no final, a China e o resto.Este é o grande projeto que, verdade seja dita, nos foi ventilado por Tim Burton em seu filme Marte Ataca, uma comédia, que pouca gente levou a sério, reveladora do diabólico plano. Sem motivo não é que os ETs abduzem Nathalie Lake, apresentadora de programa de moda na tevê, seu cão Poppy e o cientista Donald Kessler, presidente da Academia Americana de Astronáutica, com o intuito de estudar o ser humano e seu melhor amigo, implantando a cabeça de Nathalie no corpo do chihuahua e vice-versa. A carcaça do cientista é desmembrada para a investigação, justamente a dele, que fantasia os marcianos vivendo no subsolo do seu planeta, onde desenvolveram uma tecnologia espetacular que os torna pacíficos. Aliás, algo que entra em contradição com o espírito belicoso do império, atualmente apoiado na mais avançada tecnologia. Pois bem, pessoinhas, tudo isso vem a propósito das notícias sobre o que vem ocorrendo, desde dezembro passado, no Parque Estrela Dalva, município de Luziânia. Dali, nas proximidades de Brasília, seis jovens desapareceram.

A polícia investiga nas linhas que levam ao aliciamento para prostituição ou trabalho escravo, deixando de lado a hipótese de abdução. Esta terceira via, contudo, não deveria ser descartada. Corre, à boca pequena, nas gretas do nosso poder central, a informação de que os marcianos teriam um plano de desembarque na Praça dos Três Poderes, com a intenção de abduzir jovens filhos de poderosos para estudar seus cérebros e descobrir como se dá a transmissão hereditária da dominação em nosso país. A pergunta, sem resposta, que se faz é: como, então, os extraterrestres foram pousar em Luziânia, raptando amostras diferentes das programadas? O GPS do disco voador pifou? Faltou combustível? Santa Luzia, será que confundiram o Rego das Cabaças com o Lago Paranoá? A Prefeitura de Luziânia com o Congresso? Mistérios, mistérios, que precisam ser destrinchados antes que eles descubram que pegaram os jovens errados e partam, furiosos, para o ataque final. Anotem e pensem, pessoinhas, na frase do embaixador de Marte, inhoc inhoc, no filme, que aí vai como alerta: escura é a camurça que ceifa.

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