NOCAUTE

Tuesday 29 June 2010

NOSSO SÍMBOLO É UM TESÃO

O isóscele dos transgênicos tem cor diferente e parece uma estranha pirâmide, algo que um jornalista amigo já interpretou como ‘não dê preferência’. Mas será que debaixo desse angu existe mesmo algum caroço, como ele sugere?

O rótulo que identificará produtos transgênicos no Brasil a partir de março, aprovado em consulta pública pelo Ministério da Justiça parece, mas segundo a autoridade não é, uma placa de trânsito. Trata-se de um triângulo de fundo amarelo e borda preta, com um T maiúsculo em cor preta no meio. A assessoria de imprensa do órgão governamental esclareceu de imediato que a tal forma geométrica foi escolhida por ser o símbolo internacional de advertência e que o desenho foi criado pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor a custo zero. Que ótimo! Sugiro que o valor economizado seja doado ao programa Fome Zero. Bom, todos os que dirigem veículos sabem o que significa o triângulo desenhado com a grossa linha vermelha e o interior em branco. Aos esquecidos, a CET avisa que se trata da orientação ‘dê preferência’. O isóscele dos transgênicos, no entanto, tem cor diferente e parece uma estranha pirâmide, algo que um jornalista amigo já interpretou como ‘não dê preferência’. Mas será que debaixo desse angu existe mesmo algum caroço, como ele sugere?


Conforme a Organização Internacional de Padronização, os símbolos internacionais são divididos em 3 categorias: proibição, alerta e comando. Em rápida pesquisa sobre eles, verifiquei que ao triângulo de borda preta com fundo amarelo estão associadas advertências apavorantes como, por exemplo, perigo de radiatividade. Com as mesmas características, encontrei um triângulo em cujo centro há uma figura humana sendo fulminada por uma descarga de um negro choque elétrico, existindo ainda outra placa onde desce um raio vermelho com ponta de seta, como se não bastasse toda a energia que aparentemente descarrega.


Comuns são as formas redondas, quadradas e retangulares. Os círculos desenhados com uma linha grossa em vermelho, cortados por uma outra da mesma natureza sobre a figura interior, servem para alertas do tipo não fume, entrada proibida, não toque. A proteção de olhos, ouvidos, mãos, o cinto de segurança, tudo está em círculos feitos por uma linha branca com o interior em azul e a figurinha em branco. Desenvolvidas em conformidade com as Normas da nossa ABNT, as placas para equipamentos de combate a incêndio são quadradas ou retangulares, circundadas por uma linha cinza-escuro, com interior em vermelho e a mensagem em branco indicando um extintor, pó químico, espuma, água etc. O tema serve para compor uma brochura alentada e maçante, por isso, voltemos ao começo da história.


Vou concluir porque já percebi que você não agüenta mais ver a palavra símbolo na sua frente. Nem eu. Mas pouco ou nada entendendo sobre o que significa transgênicos, prenhe de dúvidas quanto a sua segurança no tocante ao ambiente e a alimentação animal, ser humano incluído, uma coisa indiscutível é que a população saberá facilmente identificar tais produtos nos supermercados e feiras, começando pelas donas de casa que logo assimilarão o simbolismo e perguntarão com a maior tranqüilidade aos feirantes: moço, quanto custa a banana com tesão hoje?

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NOCAUTE

Wednesday 23 June 2010

TORCEDOR PEDE NOVAS REGRAS

No calor da refrega, nos tempos em que nosso Torcedor Especializado, o TE, batia uma bolinha pelo Estrelinha, no barro catendense, era normal matar a bola no braço, fazê-la escorrer pro bico da chanca e estufar a rede. Normal porque não existia rede nem juiz, nas peladas, mesmo assim, terminada a partida, o autor jamais admitia ter feito o gol com a ajuda do membro superior. Desde então, as coisas evoluíram e aquilo que causava vergonha virou motivo de galhofa, conforme se viu na entrevista com o jogador Luis Fabiano, depois do jogo entre as seleções do Brasil e Costa do Marfim. O Torcedor Especializado até que gostou do desempenho da rapaziada do Dunga, mas, em entrevista exclusiva n’A Prensa (www.a-prensa.blogspot.com) , mostra-se um tanto desconfortável, como dizem os norte-americanos, com a caradura do rapaz.


P – Gostou do jogo?
R – Nalguns momentos, fez-me esquecer d’algumas partidas horríveis que tenho visto nesta Copa do Mundo.
P – O gol do Luis Fabiano, como ele modestamente classificou, foi uma pintura, não?
R – Realmente, embora com a mãozinha do juiz. Aliás, deve ter sido algo inédito em Copas o sorriso do árbitro francês, Stephane Lannoy, quando, em vez de a esconder, confirmou a sujeira com o próprio atacante.
P – O jogador declarou que seria uma pena o juiz marcar o toque e anular um gol que lhe saiu como uma pincelada em tela...
R – Trata-se de nossa velha e conhecida malandragem do rouba, mas faz.
P – Maradona, em 86, também reconheceu que usou a cabeça e a mão de Deus...
R – Em religião não meto a mão, porém, há diferenças essenciais entre um caso e outro, começando pela evidência de que o Fabiano fez o gol com o pé.
P – Jornalistas especializados não concordam com essa opinião.
R – Torcem e distorcem.
P – A classificação da França deu-se com um gol de mão...
R – Bom, do jeito que anda a carruagem, a FIFA deve estudar mudanças nas regras do futebol, fazendo com que, pelo menos, braço e antebraço passem a valer, afinal, estão tão próximos do peito.
P – No seu entender, só as mãos deveriam mesmo ficar de fora?
R – Uma possibilidade será regrar que o canhoto não pode usar a mão canhota, assim como o destro a direita ou vice-versa, sei lá.
P – Como ficariam as coisas para os ambidestros, ou seja, jogadores que assinam a súmula tanto com uma como com outra?
R – Acho melhor perguntar isso ao técnico Domenech, da França, ele é um intelectual.
P – Ah, é?
R - Sim, um tipo que leva jogador para ver e se inspirar em peças do teatro do absurdo, como Fim de Jogo, do Becket, cuja frase-síntese afirma não haver nada mais divertido do que a infelicidade.
P – E sobre o Dunga, tem algo a dizer?
R – Mesmo que não venha a ser campeão, já entrou pra história do futebol, ao comprar briga com a Rede Globo e com o próprio chefe, Ricardo Teixeira. Golaço!

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NOCAUTE

Wednesday 16 June 2010

TORCEDOR ESPECIALIZADO

Os primeiros jogos da Copa do Mundo 2010 de futebol foram tão chatos, ‘aburridos’, ‘boring’ quanto a cerimônia de abertura. Esta assemelhou-se a um espetáculo promovido em comum acordo com as grandes gravadoras de música, frustrando ao mundo a possibilidade de assistir a um evento original africano. Os embates em campo, por seu turno, até agora aferraram-se ao espírito burocrático, espécie de marca registrada no jogo de resultado, com suas táticas soníferas, orientadas por técnicos todo-poderosos. Mas, a constatação de que a deliciosa arte do futebol anda se arrastando não é motivo para desânimo. Questiona-se o avanço tecnológico que consertou uma lesão, em tempo recorde, e garante a participação do atacante marfinense Didier Drogba no Mundial. Discute-se a nova bola, a Jabulana criada pela FIFA, e as consequências da altitude e dos ventos sobre a trajetória dessa indomável senhora esférica. Reclama-se dos efeitos dos decibéis das vuvuzelas sobre o estado psicológico dos atletas. Louva-se a maravilha dos estádios em que são travados os jogos. Ludopédio mesmo, que é bom, necas.

E a coisa não para por aí. Nesta Copa, por exemplo, técnicos e respectivas indumentárias viraram atração. As câmeras abandonam o jogo para mostrar, com insistência mercadológica, um Maradona que veste terno, diz-se, em obediência aos desejos das filhas. Dunga enfia-se em um conjunto que parece talhado por um aprendiz de modista, que se atrapalhou ao escolher os botões apropriados ao casaco, enfeitado com zíperes militares, e a calça na cor de burro quando não sabe se fica ou foge. Enfim, foi-se o tempo em que se via um bonachão e vencedor Vicente Ítalo Feola, cochilando no banco, ser acordado pelo massagista Mário Américo para comemorar um gol espetacular da Canarinha.

A contrapartida de toda essa mixórdia, entretanto, tem seu lado positivo, uma vez que criou a figura do torcedor especializado. Ao contrário dos jornalistas especialistas, que se esforçam em convencer brasileiros e eiras de que a Seleção de Dunga poderia apresentar coisa diferente do que vem aprontando, nós que compomos parte do grupo de torcedores especializados sabemos que uma fria análise da história recente da participação dos escretes, seja do nosso verde-amarelo ou os de outros matizes, desmente tais expectativas. Sentamo-nos diante da televisão cientes do que não veremos, mesmo quando a primeira colocada, na tabela da FIFA, enfrenta a equipe que carrega a lanterna. Salva-nos a especialização. Atacamos com pipocas e amendoins, salgados e doces. Damos um chapéu no refrigerante sem açúcar. Sentimos a falta de meia, cerveja. na ligação com o ataque, aos petiscos. No intervalo, alguém pergunta à vovó se deseja algo mais e, saudosa, ela pede um Pelé quentinho. O ambiente fica um tanto carregado apenas quando a vovó levanta a mão direita e pede o cornetão que o neto costumava usar. Informada de que a peça agora se chama vuvuzela e ninguém faz idéia do paradeiro, ela, desconfiada, desabafa: ‘Pois saibam que ainda tenho pulmões e força para mostrar ao mundo o quanto essas peladas são desagradáveis’. Em seguida, troca o segundo tempo do jogo pelos arremates no tricô, dando, como especializada, uma aula de habilidade no ornamento.

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NOCAUTE

Wednesday 9 June 2010

TIFFANY VERSUS ROLEX

- Bacharel, o chefe chama, está trepando nas tamancas com a nossa operação.
- Qual que é a bronca, dessa vez?
- Sei lá, a Lu desconfia de que ele não aprovou as jóias.
- Tu tá gozando com a minha cara, Vesgo.
- Pô, Bacharel, eu não gosto de ser chamado assim - e brincadeira tem hora.
***
- Chefe chamou?
- Bacharel, qual shopping vocês visitaram?
- Conforme o combinado e descrito no mapa, chefe, aquele dos bacanas na Marginal.
- Cidade Jardim?
- Esse mesmo.
- E qual o nome da loja premiada?
- Aí, o senhor me pegou, mas o Cola sabe direitinho.
- Você entregou as orientações na mão do Cola Branca?
- Chefe, baixou uma vontade danada de dirigir, sentir a máquina, e...
- Sentir? Pois eu lhe digo que sinto muito, porque a mercadoria encomendada pelo cliente não é esta que aí está sobre a mesa. Posso lhe perguntar uma coisa?
- O que é isso, meu chefe, que polidez é esta?
- Vossa sabedoria considera parecidos os nomes Tiffany e Rolex?
- Nem de longe, chefe.
- Informo-lhe, portanto, com um pedido de extensão aos seus comandados, que cometeram um tremendo equívoco, trazendo produtos com a marca Tiffany.
- Chefe, posso lhe garantir que nossa equipe tem competência para desmanchar o erro. Peço-lhe apenas alguns dias aí pela frente.
- Concedidos. Eis as novas recomendações.
- Obrigado, chefe.
- Só mais uma coisa: outra derrapada, fim do selecionado.
***
- E aí, Bacharel?
- Cola, Vesgo dos infernos, sob tua batuta, demos uma tremenda bobeada, o chefe tá uma pistola e vamos ter que corrigir a operação.
- Devolver as jóias?
- Isso também não, sua besta! O chefe exige que voltemos para trazer os relógios de uma loja chamada Rolex. Vê se grava o nome, desgraçado: Rolex!
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex! Pronto, vou buscar o carro.
- Isso, vai mesmo, talvez cheguemos enquanto a perícia ainda trabalha por lá.
- É melhor dar um tempo, então?
- Sabe, Cola, sempre desconfiei da tua inteligência, mas jamais imaginei que fosse um caso de estudo. Vai dormir e trata de acordar daqui a 24 dias.
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex, tique-taque...
- Muito bem, Cola, decora e vê se põe o despertador para as 9 da manhã, no 25° dia.

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TIFFANY VERSUS ROLEX

- Bacharel, o chefe chama, está trepando nas tamancas com a nossa operação.
- Qual que é a bronca, dessa vez?
- Sei lá, a Lu desconfia de que ele não aprovou as jóias.
- Tu tá gozando com a minha cara, Vesgo.
- Pô, Bacharel, eu não gosto de ser chamado assim - e brincadeira tem hora.
***
- Chefe chamou?
- Bacharel, qual shopping vocês visitaram?
- Conforme o combinado e descrito no mapa, chefe, aquele dos bacanas na Marginal.
- Cidade Jardim?
- Esse mesmo.
- E qual o nome da loja premiada?
- Aí, o senhor me pegou, mas o Cola sabe direitinho.
- Você entregou as orientações na mão do Cola Branca?
- Chefe, baixou uma vontade danada de dirigir, sentir a máquina, e...
- Sentir? Pois eu lhe digo que sinto muito, porque a mercadoria encomendada pelo cliente não é esta que aí está sobre a mesa. Posso lhe perguntar uma coisa?
- O que é isso, meu chefe, que polidez é esta?
- Vossa sabedoria considera parecidos os nomes Tiffany e Rolex?
- Nem de longe, chefe.
- Informo-lhe, portanto, com um pedido de extensão aos seus comandados, que cometeram um tremendo equívoco, trazendo produtos com a marca Tiffany.
- Chefe, posso lhe garantir que nossa equipe tem competência para desmanchar o erro. Peço-lhe apenas alguns dias aí pela frente.
- Concedidos. Eis as novas recomendações.
- Obrigado, chefe.
- Só mais uma coisa: outra derrapada, fim do selecionado.
***
- E aí, Bacharel?
- Cola, Vesgo dos infernos, sob tua batuta, demos uma tremenda bobeada, o chefe tá uma pistola e vamos ter que corrigir a operação.
- Devolver as jóias?
- Isso também não, sua besta! O chefe exige que voltemos para trazer os relógios de uma loja chamada Rolex. Vê se grava o nome, desgraçado: Rolex!
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex! Pronto, vou buscar o carro.
- Isso, vai mesmo, talvez cheguemos enquanto a perícia ainda trabalha por lá.
- É melhor dar um tempo, então?
- Sabe, Cola, sempre desconfiei da tua inteligência, mas jamais imaginei que fosse um caso de estudo. Vai dormir e trata de acordar daqui a 24 dias.
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex, tique-taque...
- Muito bem, Cola, decora e vê se põe o despertador para as 9 da manhã, no 25° dia.

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Tuesday 8 June 2010

JABULANÃO

No princípio, era a verba... Plasmou-se, ‘a posteriori’, ante um mundo pasmo, uma estranha forma, em tudo parecida com um profeta, sem longas barbas brancas, coroado com lustrosa careca, equilibrando uma auréola luminosa na palma da mão direita. Uma criança que empinava pipa, nos campos do Senhor, perguntou em brado retumbante: “Pai, aquilo lá em cima é Deus?” Ele assestou o penetrante olhar na direção apontada pelo indicador infantil, sentiu a presença de um supremo poder perfurando as nuvens, com seus raios cósmicos, e... dialogaram, tornando possível o que a seguir vai escrito.

- Filho, aquele é o senhor Joseph Blatter, o presidente da FIFA desde 1998.
- E o círculo na mão dele?
- Um esboço para a criação da nova bola para a Copa do Mundo em 2010.
- Parece que ele está falando alguma coisa...
- Ele anuncia: faça-se a esfera!
- De couro, né, pai?
- O material básico da Jabulani é poliéster e algodão, filho...
- Jabulani, pai?
- Batizaram a bola de Jabulani, que no idioma Zulu significa celebrar.
- Eu prefiro Jabolani, acho mais redondinha.
- Bom, como eu explicava, depois do poliéster e do algodão vem uma camada de EVA, em terceira dimensão...
- Como o coelho da Alice, né, pai?
- Exatamente.
- Eva era a mulher de Adão, n’era, pai?
- Sim, filho, mas a EVA a que me refiro abrevia o Etil, Vinil e Acetato, que entram na composição dos gomos que revestem a gorduchinha.
- A verdadeira Eva andava nua, n’era, pai?
- Até o dia em que comeu a maçã.
- Meu amigo Zoca diz que quem comeu a maçã foi Adão.
- Vê-se que o Zoca nada entende de futebol.
- Pai, não fala assim, Zoca diz que é ala.
- Só se for alaursa.
- Pai, não avacalha, o Zoca joga pra cara... amba, e até fala que vai ser o Neymar.
- Alalá! Não seria o Kaká?
- Ah, sei lá. O Zoca acha que o Brasil não ganha a Copa.
- Se a Jabulani deixar, teremos boas chances, embora nossos atletas não gostem dela.
- Redonda demais, né, pai?
- Talvez.
- Mas, o nosso time ainda é o melhor do mundo, né, pai?
- Com certeza.
- Então, vai ser campeão e trazer a taça.
- E por quê, no seu entender?
- Eu preciso ganhar o Jabulanão do Zoca, né, paiê.

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NOCAUTE

Wednesday 2 June 2010

NERSOS DA VIDA

Véspera do feriado de Corpus Christi, a cidade de São Paulo mais parece um formigueiro, no dia de São José, com suas tanajuras humanas querendo bater asas, custe o que custar, presas a seus automóveis que não conseguem tirar do lugar. Circulo a pé no Cambuci, ameaçado por motociclistas que nada respeitam, buzinas e escapamentos em decibéis ensurdecedores, freadas de ônibus que esmagam nervos, e chego enfim ao Cartório na Rua Albuquerque Maranhão para providenciar uma cópia autenticada de minha identidade de jornalista. Um garoto me atende como se eu fosse culpado pelo seu penteado, à la Nerso da Capitinga, desaprova ‘in limine’ meu documento dividido em duas partes e se enfurna na caverna poeirenta da burocracia cartorial, em busca da confirmação superior para rejeitar com segurança o serviço. Retorna com aquele ar de reprovação que me faz pensar: tão jovem e já com tanta autoridade. Argumento que, exceto pela ação separatista promovida pelo tempo, a minha carteirinha está em perfeitas condições. Em vão. O jeito é voar, dali, direto à plastificadora que existe no Largo do Cambuci, que me cobra R$ 1,50 para deixar o documento novinho em folha. Na hora do almoço, retorno ao Cartório mas o danado do Nerso parece que está de regime. Que fazer?

Tomo o ônibus e vou ao 11º Tabelião na Domingos de Moraes para resolver o problema, que começa a ficar mais caro do que o esperado por causa da teimosia daquele Nerso. Desço na Vergueiro, no ponto da Caixa D’Agua, atravesso, na faixa de pedestre, a pista no sentido do bairro pro centro e espero o farol fechar para concluir a travessia. Ao meu lado, um guarda da CET lavra freneticamente, no talão, multas a partir de informações que parecem ter sido guardadas na memória. Vem o amarelo, o vermelho, os automóveis param e ponho o pé direito no asfalto, para chegar ao destino, quando a autoridade do trânsito me interpela.

- Calma, senhor.
- Como?
- O senhor não está vendo que aqui temos um corredor de motos?
- Claro que estou, porém, o semáforo está no vermelho e acho que elas, da mesma forma que os carros, também são obrigadas a frear, não?
- São, mas a vida nossa é mais importante que o farol vermelho.

Como alguém capaz de adivinhar pensamentos, o guarda me assustou, pois eu acabara de ler no ônibus as crônicas ‘A boca da verdade’, ‘Presença de espírito’ e ‘Orientação’, contidas n’A Dança dos Chimpanzés, do Pitigrilli. Agradeci, certifiquei-me da inexplicável ausência das motos e fui em frente. No 11º Cartório, a atendente passou a analisar minha carteirinha plastificada - mas eu a distraí.

- Quanto custa a xerox autenticada?
- Dois reais e noventa centavos.
- Jornalista não tem desconto?
- Essa é boa. Claro que não, o serviço é tabelado.

Depois do pingue-pongue, o alívio, com o lançamento da carteirinha dentro de um envelope de plástico transparente e a concomitante entrega da minha senha de número 38. Ainda tive vontade de dizer que ela estava mentindo, porque, no Cartório do Cambuci, cobra-se R$ 2,50 pelo mesmo expediente, mas a imagem do primeiro Nerso barrou-me a intrepidez. Paguei e me pirulitei, achando, precipitadamente, que me livrara dos Nersos, até passar o bilhete único e perceber que fora mais uma vez garfado em R$ 2,70 – tomara, na volta, o mesmo ônibus da ida.

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NOCAUTE

Tuesday 1 June 2010

PELEJA

- Ei...
- Oi!
- Ei...
- Ah!
- Ei...
- Bom dia!
- Bem-te-vi!
- Ótimo.
- Ei...
- O que é, agora?
- Ei...
- Já sei, bem-te-vi.
- Ei...
- Ah, ei...
- Bem-te-vi, bem-te-vi.
- Só duas vezes?
- Ei...
- Hum!
- Ei...
- Ai, ai, ai...
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Um dueto com sabiá cairia bem.
- Ei...
- Deixe-me adivinhar, ei?
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Gosta de um joguinho.
- Ei...
- Como? Entendi, mas acontece que, ontem à noite, nesse frio, não sobrou uma mísera migalha da refeição da matilha, portanto...
- Ei...
- É verdade que eu poderia ter arranjado alguns grãos no saco de ração e jogado, como de hábito, aí sobre a laje. Perdão.
- Ei...
- Hoje eu dobro a porção, combinado?
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Ah, tripla?
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Está bem, seja feita sua vontade.
- Ei...
- Calma, meu velho, promessa, comigo, é dívida.
- Bem-te-vi.
- Lindo! Agora, dá no pé ou chamo o gato do vizinho..
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.

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