NOCAUTE

Tuesday 27 April 2010

DOUTOR CIRO E MISTER GOMES

O Ministério da Agricultura já identificou o problema: deu praga nas plantações de abobrinha em Sobral e Ciro Gomes resolveu retornar e plantar em Pindamonhangaba. Depois de convencer Lula Picilóvi de que seu produto teria mais aceitação do que o Chuchu, doutor Ciro viu seu negócio murchar quando as pesquisas do Ih!Bofe – Instituto de Levantamentos Serôdios – demonstraram que os ventos Mercadantes sopravam noutra direção. Só então doutor Ciro resolveu revelar o mister Gomes que nele habita, acendendo o pavio curto que lhe coroa o plano superior. A mais recente, não a última, labareda lançada por mister Gomes, sobre nós, classificou o PMDB como ‘um ajuntamento de assaltantes, comandado por Michel Temer’. Ao estilo incendiário decerto faltou precisão ou sua memória anda meio curta, uma vez que o coletivo, quadrilha, seria o correto. Encostado na parede, para esclarecer se Michel Temer é o chefe dos assaltantes, mister Gomes engoliu um pouco da própria saliva e voltou a ser doutor Ciro, oferecendo ao estimado público uma receita de abobrinha por ele inventada com a experiência adquirida, nos vários partidos, que marcam sua vida política: duas fatias de abacaxi PDS, três colheres de chá de pepino PMDB ralado, uma xícara de manteiga PSDB, duas pitadas de cominho PPS moído na feira livre e, finalmente, sal PSB conforme o gosto da freguesia.


Interlúdio


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Tuesday 20 April 2010

AI! CAI NAS CINZAS

Belas asas
Tão inúteis
Quanto a tecnologia
Que as sustenta no ar
Um vulcãozinho nervoso
Na geleira Eyjafjallajoekull
- não tente pronunciar
e à erupção mais irritar –
Nos confins d’Islândia
Resolve botar lava
Na fervura d’aviação
Espalhando cinzas
No ventilador de teto
Nos céus da Europa
Müller
Não vai a Paris
Agnes Beauvoir
Desiste de voar
Mister Charles
Não volta do Rio
Seu Leminsky
Permanece em Varsóvia
Agustina Cabral
Não sai de Portugal
Morio Kita
Em Tóquio fica
Fernando Lérias
Dança nas férias
Olaus Magnus
Grita é o caos
A coisa é grave
Check-in is out
Até pros VIPs
Pra viajar
Só pelo mar
Ou on the road
E como diz o poeta:
Quem parte leva um jeito
De quem traz a alma torta

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Saturday 17 April 2010

PASSO DA NATUREZA

Um dentro, outro fora; o de dentro, volante na mão, pensava em fortunas; o de fora esticou o pescoço, saudou o de dentro e deu início à conversação diante da lotérica na Avenida Lins de Vasconcelos, defronte a agência do Banco do Brasil.


- E aí, menino, sempre forte como um touro.
- Graças a Deus. Tudo em ordem?
- Graças a Deus. Aposentado?
- Vou ao banco, receber a recompensa por ter trabalhado feito uma mula para conseguir isso que agora pinga todo mês.
- É verdade. Você era o rei da hora extra, sem páreo, a vida inteira.
- Nem tanto, Mariano. Eles estavam certos em me explorar, tentar esgotar meu sangue até a última gota. Hoje, às vezes, acho que eu errei em deixar. Bom, de qualquer modo, estou vivo, eles morreram.

- Que idade você tem?
- Adivinha?
- Nas proximidades dos 70.
- Faltam nove.
- Então, a coisa vai longe.
- Saúde não me falta.
- Ainda aprontaw
- Tomo minhas cachacinhas e continuo derrubando as belas. E você?
- Só refeição caseira.
- Tem medo de tempero forte?
- Medo, medo, não, acomodado, sei lá, conformado com o pouco de felicidade.
- Comigo é diferente, pelo menos enquanto puder levantar a faca.
- Você sempre gostou de pintar o sete.
- Acho que é da natureza de cada um.
- Talvez.
- Besteira lutar contra.
- Tem razão.
- Ontem mesmo, eu estava na estação Ana Rosa, do Metrô, pensando em comer uma coxinha no Monte Líbano, quando aparece um pedaço de primeira.
- Morena?
- Como Deus fez.
- Você é chegado nessa cor.
- Viciado. É da natureza.
- Passou a faca?
- Até o cabo.
- Barrica, me diga: na hora em que essa faca perder o fio, como fica a coisa?
- Aí, chegou o revés.
- Como assim?
- Deixo passarem a faca em mim.
- Você deve estar com brincadeira.
- Mariano, dizem que a natureza não dá saltos, mas, cá entre nós, um passinho pra trás não é impossível.
- Só você pra sair com uma idéia como essa.
- Mariano, nunca diga: dessa água não beberei.
- Barrica, vai tomar a pinga, vai.
- E vou mesmo, com ervas afrodisíacas, você é meu convidado.
- Hoje, eu aceito.

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NOCAUTE

Tuesday 13 April 2010

PERDIDA NO ESPAÇO

Voar como um condor, uma juriti, um colibri ou uma pretinha-puladora, eis um dos grandes sonhos de humanos e anas finalmente ao alcance de qualquer criatura que tenha entre R$ 1,49, oferta, e R$ 1,80, preço anormal, para comprar uma pequena ampola contendo adenosina, di-metionina, betaína, citrato de colina, cloridrato de piridoxina e sorbitol. Segundo a propaganda, a âmbula mágica hepatoprotetora faz as pessoas se sentirem muito mais leves, e tanto é verdade que, passeando hoje pelo centro de São Paulo, registrei situações fantásticas entre inzoneiras figuras que haviam tomado os 10 ml de... Melhor ler uma das historinhas.

- Amor, você está caminhando de uma maneira engraçada.
- Como?
- Sei lá, como quem estivesse escapando da gravidade.
- Você andou fumando o quê?
- Nada, o entregador pegou gripe suína.
- Então, a coisa funciona mesmo.
- Ioga?
- Não, bobinho.
- Fenômeno anímico ou mediúnico?
- Errou de novo.
- Fala logo.
- Tomei... tomei... bem, me segura, estou me sentindo uma bexiga num parque.
- O que foi que você tomou, querida?
- Epô... Epôôôô... Epôôôôôôôô...Epôôôôôôôôôôôôôôôô...
- Eu falei pra não tomar essa droga!
- Não... é... droga... é... Epô... Epôôôô... Epôôôôôôôô...
- É droga sim, esse Epocler.
- Estáááááááá... beeeeemmm... é... drogaaaaaa... mas, me ajuda, pelo amor de Deus!
- Ave! Raios! Putz! Cruzes! Diabo! Minha namorada virou um balão e está indo literalmente pro espaço. Alguém aí tem um antídoto contra os efeitos do Epocler, uma funda, um estilingue, uma espingarda de chumbinho?
- Amôôôôôôôôôôôôôôô... chame os bombeirossssssssss!
- Qual é o número?
- Sei lááááááááááá.... acho que é 195.
- Dá um tempo por aí, vou usar o orelhão.
- Ráááááááááápido!
- Doçura, esse é o número da Sabesp.
- Tente 190.
- Alô, boa tarde, eu falo com a Polícia Militar? Sargento, por favor, envie um helicóptero pra salvar minha noiva, não, noiva, não, namorada, que tomou Epocler e ficou tão leve que logo ultrapassará a troposfera a caminho do congelamento. Levitação? Não, eu falei Epocler. Trote? Mas, que nada, Sargento, isso é lá hora pra brincadeira. Obrigado, pela atenção.
- E aíííííííííííííííííííííííííííí?
- Eles estão vindo, enquanto isso, segura na mão de Deus e vai.

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Sunday 11 April 2010

AI! CAI AÍ

Ai! Cai meu
Não tem medida
Métrica vem sem
Nem rima
Sai sem rigor
Acadêmico
Epidêmico
Engelhado
Ai! Cai meu
É como um bicho
Na selva desnorteado
Foge
Como um celerado
Escapa à corporação
Fardada
Ao redor do chá
Sobrevive ignorado
Como triste apelo vive
Sem cimento
Apenas massa
No duro barro
Moldada
Pra bicar
De flor em flor
Aí vai um
Ai! Cai meu
Cuitelinho
Asas de frevo
Fazendo o passo
No espaço
Acrobática
Finura
Evocação
Assanhada
Iridescente
Pintura
Linda flor
Da matinada
Gosto de te ver
Voando
Feitiço
Da natureza
Trissando

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NOCAUTE

Friday 9 April 2010

GRITOS E SUSSURROS

O agente funerário estranhou a cerimônia restrita a apenas duas pessoas, porém, cumpriu sua missão sem perguntas. Ao se despedir, pediu licença para entregar o cartão de visita em que divulgava sua graça – Seu Neneca –, endereço eletrônico, telefone e os serviços que prestava nas horas vagas: pedreiro, encanador, eletricista, pintor e marceneiro. O homem da pá não se conteve e comentou: além de entregador de cadáver, o senhor é um verdadeiro homem Bombril, Seu Neneca. Este riu, soltou uma frase na direção da cova – enquanto não tiver os pés no buraco, vou me virando – desejou boa sorte aos dois e se foi, acelerando e buzinando seu rabecão, como se houvesse deixado pra trás dois futuros clientes.


Sozinhos, ele olhou pro coveiro e se jogou sobre o caixão, aos gritos, anunciando que resolvera ser enterrado junto com a defunta. Amaldiçoou a rigidez da madeira e pediu um martelo para melhor fixar um prego na borda à esquerda. Arrancou a ferramenta das mãos do coveiro, mas a excitação o impediu de acertar a cabeça achatada. Uma, duas, três... dez tentativas, desistiu e lançou o martelo ao longe, atingindo o peito de um Jesus numa cruz de mármore diante de um túmulo em granito bege. Ao filho de Deus britou em seis pedaços, à cruz em três. Bradou um vamos lá, ouvindo como resposta a voz rouca no interior do féretro: ainda não, meu bem. Desceu do tampo, apontou o indicador na direção do bojo e urrou: ela está viva. Um estranho de óculos escuros, camisa azul-marinho e calça preta, que acabara de enterrar a mãe nas proximidades interveio: ela quem? No troco, tomou na proa um isto, caro senhor, não é da sua conta, e seguiu chateado no seu caminho.

Chutes nas paredes do esquife e pedidos abafados por socorro agilizaram as ações. O coveiro correu em busca de uma alavanca e marreta de ferro, enquanto ele acalmava a encaixotada, que implorava por urgência, sussurando-lhe: fique fria, amorzinho, a ajuda está a caminho. Munido de vontade e apetrechos, ele se aproximou da cabeceira do caixão e, antes de agir, perguntou ao companheiro se este não gostaria de tomar as providências. Declinada a incumbência – a lazarenta é toda sua -, ele colocou a ponta da estaca no ponto do tampo correspondente à região do coração e desceu a marreta com uma força que nunca julgou ser capaz de possuir. O ferro rasgou rangendo o mogno, dilacerando a firme estrutura que plangeu suas dores, e penetrou onde esperado, fazendo jorrar pela frincha, depois de um ai, um filete rubro que desenhou, ao lado de um ramalhete esculpido em alto relevo, a palavra: assassino.

Uma fina chuva começou a cair apagando aos poucos a mensagem, carreando o líquido vermelho de volta ao interior do caixote. Cordas de plástico desceram a peça, pás de terra cobriram a cratera e, terminada a função, ele plantou quatro mudas de rosa vermelha, duas à cabeceira e duas aos pés, despedindo-se com brandura: descanse em paz, querida, e até a eternidade. O coveiro sussurrou-lhe ao ouvido direito: patrão, parece que o veneno não está funcionando direito. Ele concordou avisando que iria reclamar com o laboratório, talvez até trocar de. Elogiou o cúmplice e se pirulitou em um táxi, fornecendo ao motorista o endereço da próxima vítima.

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Tuesday 6 April 2010

LEITURAS AMENAS QUE

Hum! Depois de revelar, à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, que durante 6 anos, quando era secretária da secretária dele, manteve um caso com o ainda maridinho de dona Sara; que não foi a causa e, sim, a consequência da separação; que o maridinho levou a própria empresa à falência; dona Deuza, esposa do governador de São Paulo, a partir desta terça-feira, promete lançar um livro cujo título será ‘Histórias e Estórias’, com subtítulo que ela classifica de pitoresco, embora não consiga se lembrar de qual seja. Na entrevista de página inteira, a filha Paula intervém e pede pra mãe queimar o livro. Nas arquibancadas, contudo, arquibaldos e geraldinas gritam – edita, edita! -, afinal, dona Deuza garante que ainda tem muita coisa pra contar. Enquanto a obra não chega, aguardarei imbuído da saudade do poeta que me leva a ouvir, na voz de Nelson Gonçalves: a deusa da minha rua tem os olhos onde a lua costuma se embriagar.

Humm! Depois do retumbante fiasco das declarações plantadas em fevereiro passado pelo sociogro Fernando Henrique Cardoso, no Miami Herald, comparando, entre outras coisas, a Dilma com o Hugo Chaves, eis que surge no cenário internacional um novo produto lançado por um jornal que Obama chama de feudo do Partido Republicano, aquele do George Bush, o filho. Trata-se de uma espécie de Larry Rother de saia, que atende pelo nome de Mary Anastasia O’Grady e é editorialista do Wall Street Journal, publicação do tubarão Murdoch, que resolveu desacreditar o atual governo afirmando algo mais ou menos assim: o povo brasileiro elegeu o Lula consciente de que FHC continuaria governando o país. Lembremo-nos de que se trata do mesmo jornal que dedicou um caderno inteiro às possibilidades do Brasil se transformar em potência mundial. Se a divulgação não coincidisse com a festa de entrega do cargo e o mergulho definitivo, espera-se, do político Serra na campanha presidencial, muita gente já estaria berrando contra dona Maria Anastácia Graduada, acusando-a, no mínimo, de estar a serviço do PSDB - o que seria uma injustiça. O que a Larry Rother plissê quis dizer, no fundo, foi o seguinte: enquanto FHC vivo for, o Brasil continuará em sua inexorável caminhada na direção do futuro que um dia há de chegar e, portanto, não fará diferença eleger Dilma ou Serra. Minha esperança vai bem mais longe: acredito que, depois de morto, FHC ainda continuará enviando as orientações a serem psicografadas, por alguma alma privilegiada de plantão, e implantadas para felicidade geral da nação. Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, eu sei, saudades do Gonzaguinha e do Gonzagão, um dia a gente ainda descansa feliz.

Hummm! A insistência no ‘allegro con fuoco’ no final parece uma coisa meio deslocada, mas se encaixa no tempo. Recentemente, a senadora e candidata Marina Silva, que deseja destruir a polarização entre o PT e o PSDB, revelou que sua missão é ‘mostrar ao povo que temos de compor uma sinfonia e criar uma orquestra, como algo que mude nosso modo de produção, consumo e de relacionamento com a natureza’. Parece coisa do anão Alberich, no Anel dos Nibelungos, disposto a roubar o tesouro do reino. Saudades do Wagner.

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NOCAUTE

Saturday 3 April 2010

PICCOLO ANARCHICO

Ao entrar no Piccolo, linha Vila Monumento-Praça da República, avisou ao motorista que iria pagar duas passagens, uma pra si e outra para a sacola que trazia desde a Rua 25 de Março. A inusitada decisão não abalou o condutor, que manifestou sua aprovação com um curto e grosso ‘o senhor é quem sabe’. Encostou o Bilhete Único uma vez, girou a catraca e, por cima desta, passou e encostou o desconjuntado volume ao lado do assento à direita, onde se acomodava uma senhora volumosa nas carnes mergulhada nas águas da Dieta do Mediterrâneo. Usou novamente o BU, transpôs a borboleta, tomou o volume com a mão direita e, com pedidos de licença, se dirigiu aos trancos e barrancos aos assentos do fundo do micro-ônibus, onde ocupou um vazio à janela, atrás da porta de saída, e acomodou as compras ao lado. Tranquila seguia a viagem, com os solavancos entre marchas e as freadas pra arrumação, quando subiu, pela porta traseira, uma velhinha com cara de encrenqueira decidida a se sentar onde estava o saco do homem. Este apelou para o direito adquirido com o pagamento, abonado pelo motorista, mas a vovó resolveu engrossar o caldo.

- Senhor, isto que está dizendo não existe.
- Claro que sim, pergunte ao motorista.
- Eu não vou perguntar coisa alguma, o senhor que ponha o saco no colo ou no chão e me deixe sentar aí, porque eu sou idosa e tenho meus direitos.
- Desculpe, mas os idosos têm assentos reservados por lei, como este aqui nada tem por escrito no vidro, meu saco vai continuar aí onde está.
- Tenho quase 80 anos e nunca ouvi dizer, nunca, que uma pessoa normal pagasse passagem extra para deixar um saco sentado como gente. É um absurdo.
- A senhora viu o tamanho do meu saco?
- Estou vendo, mesmo assim acho que não se justifica.
- Com todo respeito, senhora, minha opinião é diferente. Veja, a mocinha ali na frente, no assento pra pessoas na sua condição, levantou-se e está oferecendo o lugar. Pronto, está tudo resolvido.
- Eu não quero viajar ali, fica em cima do pneu e não gosto de sacolejar com os joelhos no queixo. Agradeço, mas prefiro o lugar do saco.
- A vovó é chegada numa encrenca, não?
- O senhor também, está na cara.
- Vamos fazer o seguinte: eu me levanto e a senhora ocupa o meu lugar.
- O senhor sai, põe o saco no seu banco e eu me sento no lugar do saco.
- Eu não acredito no que estou ouvindo!
- Faz diferença?
- Sim, dona, muita, e basta! Pergunte ao saco o que ele acha de trocar de lugar.
- Não seja grosso.
- Eu?
- Sim, o senhor mesmo.
- Ei, pessoal, essa é boa pra chuchu, a vó finura aqui...
- Sabe, moço, o senhor tem sorte, porque vou descer no próximo ponto.
- Ainda bem, vovó, porque, com a senhora, não há saco que aguente.

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