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Friday 31 December 2010

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Tuesday 28 December 2010

PREVISÕES DE A A ZÊ
 

Aguardente – Boas abrideiras serão lançadas no mercado brasileiro em 2011, com enorme potencial para exportações para a Alemanha, Rússia e Alasca. Surgirá, entretanto, entre os lotes, um inesperado falsificado dando-se como origem um dos mais tradicionais engenhos de Paraty, no Rio de Janeiro. A falsificação será denunciada por um alcoólatra de Copacabana, que irá ao órgão estadual de defesa do consumidor levando a garrafa em cujo rótulo indica-se que a graduação é de 46,2%, quando o correto seria 46,3%. Além de notar a diferença ao beber o precioso líquido, ao consumidor, em luta pelos seus inalienáveis direitos, chamará atenção a inexistência das seguintes observações no rótulo da mamãe-sacode: ‘evite o consumo excessivo de álcool’ e ‘beba com moderação’. Observará, estranhamente, nada constar sobre a ausência de glúten.

No geral, a garrafa de vidro verde, à prova de tombos, a rolha de cortiça, o selo de garantia, sob um plástico transparente, o rótulo e a quantidade, cujos 750 ml preencherão o recipiente até a altura da base do gargalo, todos serão idênticos ao produto original. Até mesmo o registro do produto no Ministério da Agricultura e a Inscrição Estadual parecerão legítimos.

Este será o primeiro grande escândalo do ano em questão. Quem sobreviver às consequências do efeito estufa, aos raios que o parta do sol, infiltrados pelas crateras na camada de ozônio, conseguir ler e entender Gaia – cura para um planeta doente -, do James Lovelock, em cerca de duas horas, verá se tenho ou não razão. Em particular, ao cobrar 1 quilo de alimento não perecível a consulta, na minha tenda piramidal itinerante, e 2 quilos no atendimento em domicílio.

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Monday 20 December 2010

JEJÉ MANJEDOURA

- Senhor, pelo amor ao Menino Jesus, poderia colaborar com 50 centavos para a independência de um legítimo representante das classes desassistidas?
- Nossa, o senhor usa uma linguagem desconcertante, eu diria mesmo incompatível com os seus andrajos.
- Sou do tempo em que a escola pública era superior à privada.
- Foi até onde?
- Concluí o que era chamado de clássico e parei na porta da faculdade de letras.
- Desistiu do vestibular?
- Nem lhe conto, trata-se de uma longa história.
- Conte-me, conte-me, hoje é antevéspera e já fiz todas as compras que imaginei.
- Muitos ‘gadgets’?
- Desculpe...
- Muitas novidades?
- Nem lhe conto.
- Conte-me, conte-me, tenho todo tempo do mundo e ouvidos carinhosos.
- Entre outras, comprei um celular, que só falta falar, pra minha netinha adorada.
- Que idade tem a princesa?
- Onze meses.
- E já sabe usar um aparelho como esse?
- Ela aprendeu a pronunciar vovô e vovó, agora vou ensinar a discar.
- Os jovens de hoje aprendem tudo numa rapidez meteórica.
- Muito inteligentes, como eles são impressionantes. Mas, voltemos ao começo, deve-me o primeiro capítulo.
- Tem razão. Pois naquela era, falo assim por causa da velocidade em que vivemos, pois bem, naquela era ia lá eu a me inscrever para o vestibular quando fui atropelado por um palhaço, montado em um camelo, que fazia propaganda de um circo que chegara à cidade. Lançado ao chão de paralelepípedos, eu bati com a caixa de pensamento no meio-fio e nunca mais me aprumei.
- Muito grave?
- Enfermaria durante um mês. Depois, a mente começou a capengar e muita gente passou a me considerar um desequilibrado, enfim, um louco, só porque, às vezes, quando o branco era carregado, eu berrava ser algum grande personagem da história. Contudo, ido o acesso, tudo voltava ao normal e a vida seguia. Com o tempo, sem necessidade de camelo, caí na sarjeta, voltando a ser uma pessoa normal, que sabe perfeitamente quem é e o que representa na sociedade.
- Uma história muito triste, pelo visto, ao mesmo tempo que muito linda, afinal, hoje o senhor está aqui como um homem são, perfeitamente integrado à nossa sociedade avançada.
- O senhor acha?
- Tenho certeza. Como é seu nome?
- Cristóvão, embora mais conhecido como Jejá Manjedoura, coisa pespegada por um engraçadinho quando eu me dizia outra pessoa.
- Engraçado, eu diria que seu apelido me faz lembrar d’alguma coisa exótica. Por que será? Bom, deixemos pra lá, preciso caminhar.
- Senhor, e os 50 centavos?
- Seu Jejé, peço-lhe perdão, estou sem troco, sabe como são os tempos modernos, a gente só anda com cartão de crédito, segurança, essas coisas...
- Sem problema, eu tenho a maquininha aqui. Sua bandeira é Visa, Master, American Express ou alguma outra?
- Mas, seria ridículo passar 50 centavos no crédito.
- Nem tanto, o real está quase tão valorizado quanto o dólar.
- Seu Jejé, vamos combinar o seguinte: amanhã é véspera, eu passo novamente por aqui e lhe dou os 50 centavos.
- Combinado, senhor, mas eu acho que o segundo capítulo merece, pelo menos, outros 50 centavos.
- Vou trazer 1 real, mas o último tem que ser bom, senão...
- Ai, meu Deus, o homem quer me crucificar!
- Ah, bem lembrado! Jejé Manjedoura, eu percebi o significado. Até amanhã e afie a língua, pois quero contar sua história pra família na noite de Natal. Vai ser um presente e tanto, além dos normais.
- Veja só, e por apenas 1 mísero real. Espero o senhor aqui, nesse mesmo ponto. Cuidado, quando for sacar o dinheiro no caixa eletrônico. Boa sorte e até amanhã.
- Não vá falhar, hein, amanhã, não aceito desculpas, hein, olhe lá, hein...

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Tuesday 14 December 2010

TELEPAPO NATALINO


- Bom dia!
- Bom dia.
- Falo com o senhor Antônio Peçonha?
- Ele.
- Que bom...
- Por que acha isso?
- Sabe, senhor Peçonha, acontece que infelizmente são tantas as ligações que caem em números errados que...
- Certo, moça, vamos ao assunto, uma vez que eu não a conheço.
- Eu sei bastante sobre o senhor.
- Você é detetive particular?
- O senhor é engraçado, antes eu fosse...
- E como descobriu tanto sobre mim?
- Sou do Telemarketing do Banco Ágil e tenho a ficha com toda sua história na tela do meu computador, aqui na minha frente.
- Verdade?
- Teste-me.
- Nome da minha mãe?
- Felicidade Peçonha.
- Local de nascimento?
- Mesa de parto da maternidade Santa Generosa.
- Data?
- No dia 24 de dezembro de 1963.
- Médico?
- Doutor Dino Vicente.
- Enfermeira?
- Olga Marabá.
- Perfeito, dona bisbilhoteira...
- Desculpe, meu nome é Maria Clara.
- Prazer, dona Maria, em que posso ajudar?
- O Banco Ágil escolheu o senhor para participar de uma iniciativa que é um verdadeiro presente de Papai Noel. Uma inovação. Trata-se de um cartão com o qual o senhor nada pode comprar durante o primeiro ano de posse, bem como nada pagará ao banco a título de taxa de aquisição...
- Clara... Prefere que eu a chame de Maria ou Clara?
- Deixo ao seu critério.
- Está bem, Clara, e de que me serve este cartão, no seu entendimento?
- Conforme lhe expliquei, no primeiro ano, pra nada.
- E a partir do segundo ano?
- No segundo, com a sua concordância, nós cancelamos e fim de papo.

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Saturday 20 November 2010

AI! CAI NO PALCO

Atormentado
Por risadas
Ele palhaço
Procura
Sua identidade
No palco
Em vão
Corre
Como um cavalinho
Em círculos
No picadeiro
Grita desesperado
Desmancha alegrias
Nos camarotes
Espalha tensões
Nos bastidores
Assusta crianças
Nas arquibancadas
Droga!
Repete em fúria
Vou ter que tirar
Uma segunda via!
Cai o pano

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Friday 19 November 2010

AI! CAI DA TORRE

Eu sou um artista
Rapaz
Com imaginação
Eu sou mais
Que o mero comum
Dos mortais
Abre as asas sobre nós
O pavão místico ocioso
Sob todos os efeitos
Aos quatrocentos ventos
Com o olhar no infinito
Haure a aura luminosa
Diante do espelho goza
Nada lhe falta ao prosa
Ora, as luzes da ribalta
Disso não precisa ele
Tem a sua torre própria
Erigida em marfim
Ai como eu gostaria
De ser tão também assim
Como um biscoito de nata
Numa árvore de Natal
Um brioche na bandeja
Enfeitado com cereja
Um strudel especial
Com chazinho natural
Um sorvete de hortelã
Numa cálida manhã
Um alfajorzinho de leite
Buenairense deleite
Mas quem não é artista
Sofre como condenado
Às grades de Bangu Um
Onde todo dia se come
O rango que o diabo amassou
Sonhando com petit gateau
E profiteroles do amor

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Wednesday 17 November 2010

AI! CAI DA TORRE

Eu sou um artista
Rapaz
Com imaginação
Eu sou mais
Que o mero comum
Dos mortais
Abre as asas sobre nós
O pavão místico ocioso
Sob todos os efeitos
Aos quatrocentos ventos
Com o olhar no infinito
Haure a aura luminosa
Diante do espelho goza
Nada lhe falta ao prosa
Ora, as luzes da ribalta
Disso não precisa ele
Tem a sua torre própria
Erigida em marfim
Ai como eu gostaria
De ser tão também assim
Como um biscoito de nata
Numa árvore de Natal
Um brioche na bandeja
Enfeitado com cereja
Um strudel especial
Com chazinho natural
Um sorvete de hortelã
Numa cálida manhã
Um alfajorzinho de leite
Buenairense deleite
Mas quem não é artista
Sofre como condenado
Às grades de Bangu Um
Onde todo dia se come
O rango que o diabo amassou
Sonhando com petit gateau
E profiteroles do amor

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Monday 8 November 2010

O SUMIÇO DA SANTA

Responsável por levar a eleição presidencial de 2010 ao segundo turno, a verde Marina moitou, quando dela esperávamos manifestações que revelassem a que viera. Afinal, foram milhões de votos dos crentes em suas propostas, na sua capacidade para governar o país de 195 milhões de habitantes. O equivalente à população de duas Bélgicas colocou suas fichas na morena verde. Como está no blog dela, ‘um adensamento eleitoral relevante’. E o que fez a santa na ‘segunda vuelta’, para dar uma satisfação a essa massa espetacular? Tomou, inexplicavelmente, chá de sumiço. Isso mesmo, senhoras, senhoritas, senhores, gatos, cães, lebres, periquitos, papagaios, tiés-sangue, curiós, urubus, carcarás, bovinos nelore, guzerá e indubrasil, enfim, fauna e flora desde o Monte Caburaí ao Arroio Chuí, da nascente do rio Moa à Ponta do Seixas. Vimos acontecer aquilo que já conhecíamos na literatura, graças ao colossal Jorge Amado: o sumiço da santa.

Justiça se faça à morena verde: para não passar em branco, ela esperneou contra a utilização indevida do seu nome e prestígio semeados em mensagens na internet. Acusou, pela perfídia, as hostes de alto nível do PSDB, decerto que às vésperas do pleito, querendo talvez fazer média, naquela altura, com a aparentemente vencedora. No mais, a santa sumiu. Esse u eme i u miu, sumiu.


Procurada no soberbo emaranhado fluvial amazônico, sobre e sob as plácidas vitórias régias, nos itinerários errantes dos pirarucus, na plateia e bastidores do imponente extraterrestre Teatro Amazonas – nada, a santa sumira. Caçada no mar de soja do cerrado, nos diluviais canaviais nordestinos, entre os mandacarus sertanejos, nas imensidões dos pastos nos pampas – nenhum sinal, a santa sumira. Vasculhadas feiras frequentadas por laursas, forrós de pé de serra, caóticos mercados municipais, escolas primárias, secundárias e de samba – necas, a santa sumira. Farejada nos parques públicos, circos mambembes, cinemas suburbanos – alarme falso, sumira. Pediram notícias ao onipresente e onisciente Papa Bento XVI – ‘niente’, zero, sumira mesmo. Cidadãos e ãs que nela botaram fé, perguntavam-se: quem foi o ou a miserável que deu sumiço na santa?


Ora, como garante o ditado que vivo reaparece, passado o segundo turno eis que a santa ressurge, para parabenizar de saída a Dilma pela vitória. Depois, com a assessoria do jornalista Caio Túlio Costa, o indiano dela, esparzindo respostas a granel no blog minhamarina, no Twitter, Facebook, Orkut e outras bossas disponíveis às acusações sobre suas relações cosméticas, as contas de campanha, biodiversidade e outras lambadas. Um alívio! Vai ver, tratou-se somente de um retiro espiritual, durante o qual a verde aproveitou para amadurecer algumas ideias que não ficaram muito claras durante a estranhíssima campanha. Deus queira!

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Monday 1 November 2010

MELHOR PARA OS FATOS

Abancado, penso à direita na foto, indicador esquerdo apontando pra esquerda, mão direita segurando algo parecido a uma brochura, terno com risca de giz, como manda o figurino da elegância a um Senador da república, gravata vermelha sob o colarinho branco – fica bem assim, Danuza? -, Sérgio Guerra, o presidente do PSDB, o irreverente, segundo Gilberto Freyre, parecia um daqueles usineiros que tocam o negócio com mão de ferro, enquanto leem Manuel Bandeira na rede à sombra dos coqueiros no litoral. A foto, tirada em 5 de novembro de 2009, ilustrava a entrevista de meia página do jornal O Estado de S. Paulo, veículo que já vinha fazendo das tripas coração para empurrar Serra rampa acima e colocar o tucano no Palácio do Planalto. O título, retirado de uma frase do recifense, criado na Zona da Mata pernambucana, dizia: ‘Somos favoritos. Mas a eleição será dura’. Grifei alguns trechos e guardei aquela página A7, afinal, o futuro nem mais ao Papa pertence, como já vimos.

Além do título, três trechos me pareceram especiais, visto que pronunciados pelo grande ‘articulador’, ideologicamente identificado como um político de ‘centro’, ‘uma das cem cabeças mais influentes’ do Congresso Nacional, na avaliação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), criado em 1983.. O primeiro: ‘Ela (Dilma) trabalha com fundamentos autoritários, não consegue produzir nada organizado, tem uma visão preconceituosa e uma cabeça muito atrasada’. O segundo: ‘Terrorismo e mentira. Estamos enfrentando um adversário que não respeita limite, não os considera e que não faz a menor questão de falar a verdade’. O terceiro: ‘Não vamos precisar fazer nenhuma cirurgia nele (José Serra)’.

Durante a campanha, deu no que deu, a começar pelo veto – se podemos acreditar no que sai na imprensa que torce pelo ‘PSDEMB’, perdão pelo neo(fisio)logismo – à presença de Fernando Henrique Cardoso na Convenção do partido, sendo posteriormente obrigado a engolir - e confraternizar com - o tucano-mor. Indispôs-se com a verde Marina, que afinal ajudaria a levar seu chefe ao segundo turno. Partiu de foice em punho, como se estivesse em um sonho diante de um canavial recém-calcinado, contra os institutos de pesquisa e, particularmente, contra o Vox Populi, classificando um resultado - crescimento da candidata do PT – como uma ‘safadeza’. Dizem que tomou um chega pra lá, do chefe, do qual até hoje não se recuperou. Todavia, na função de coordenador da campanha, gerou uma coleção de pérolas políticas capazes de levar a turma do DIAP a repensar as loas. Bom, de volta ao passado do favoritismo, já vimos que a nossa Dilma parece diferente daquela desenhada pelo Guerra, sabemos quem usou e abusou do terrorismo e da mentira na campanha e, quanto à cirurgia no Serra, o verbo era outro: adiantar.

E para fechar a história, lembro de uma crônica de outro pernambucano, Nelson Rodrigues, também do Recife, cujo título é: Pior para os fatos. O inveterado torcedor do fluminense, mais uma vez inconformado com um empate em zero que deu o campeonato ao rival Flamengo, no dia 15 de dezembro de 1963, descreve a maravilha de partida jogada pelo Flu, com um pênalti perdido e uma bola na trave, mas diz que o técnico Flávio Costa não quis ganhar o jogo. Encerra a história dizendo que os fatos não confirmaram a profecia, mas o profeta não se abala e decreta: pior para os fatos. No caso do Sérgio Guerra, os fatos também não confirmaram a profecia e nós, que torcemos pelo time da Dilma, recuperados da ressaca, concluímos tão apaixonadamente quanto o Nelson pelo Flu: melhor para os fatos.

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Tuesday 24 August 2010

AI! CAI NA URNA

Declarou Guerra
Cacique pernambucano
Na convenção da tribo
Para ungir o escolhido:
Exclua-se FHC
Ele cá não é bem-vindo
Fique cuidando do neto
Vá passear na Espanha
Visite o Magic Kingdom
Estique até Washington
Faça foto com a Clinton.
O partido que é firme
Acha dura a decisão
Reúne-se ao pé de Serra
Revoga a orientação
Abre a porta ao tucano
Que entra feito um leão
Inflamando os discursos
Aécio vira Catão
Para a mídia um deleite
Artigo de ocasião
Mas eis que vem a campanha
Na máquina de fazer doido
Onde o ex-mandatário não cabe
Não se encaixa nem a pau
E pra piorar a coisa
A pesquisa já indica
Toda vez que sai do muro
Serra sempre cai na dita
Se correr a Dilma pega
Se ficar a Dilma come
E assim este Zé encerra
Sua prosa e toma o bonde

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Monday 23 August 2010

A PESCA AOS PEIXES-LETRAS

Sutil como um rinoceronte no palco, assustado com a plateia, a capa daquela revista, cujo nome nem deve ser pronunciado, mas encontrava-se em destacada exposição nas bancas para que qualquer mortal a visse, semana passada, enfim, como ia mencionando ao ser mal educadamente por mim mesmo obstruído, a capa fez campanha para o candidato José Serra, do PSDB do FHC, e Marina Silva, a Verde, apelando para um tipo de humor que não possui. Destrincho, começando pelo título – A pesca dos indecisos - que revela descuidos imperdoáveis a uma publicação que se arvora em representante da elite bem deformada, digo, informada. Como sou levado a crer que a última Reforma Ortográfica não tornou facultativo o uso da crase, só encontro explicação para sua ausência no fato de que o posicionamento do acento tende pra esquerda, em inclinação que conflita frontalmente com a linha editorial da hebdomadária, ostensivamente puxada para a direita. 

Porém, e sempre há um segundo o Plínio Marcos, releve-se tal interpretação, maldosa como piada contra sogra, centrando fogo no uso da combinação da preposição ‘de’ com o artigo ‘o’, quando lá deveria estar a preposição ‘a’ no lugar daquela outra, de modo a fornecer aos três atores em cena a justificativa para o lançamento dos seus anzóis sobre as letras garrafais que formam a frase que representa a massa que ainda não sabe qual das iscas abocanhar, antes de ir pro puçá, digo, urna. E, para encerrar esse capítulo explicitamente linguístico, ressalta-se a linguagem machista utilizada, própria de clube de pescadores que exclui, à ala feminina, a graça da piada, como se não existisse maneira de reunir pregos e arruelas no mesmo balaio. Mas, como prosaicamente sói acontecer, os reis da maça continuam firmes em não abrir mão de sua linguagem concebida na caverna pré-histórica. 

Agora, em relação ao desenho inanimado, o que é que há, velhinho? ou, na mais pura subserviência em moda, what’s up, doc? A doce mensagem encomendada ao artista de plantão traz as três figuras candidatas com supostas chances de subir a famosa rampa e governar o reino durante quatro anos. Dilma Rousseff aparece, à esquerda, dependurada no seu anzol, vestidinha em vermelho – aquele sapatinho é de tirar o chapéu – com olhos disparatadamente deformados, retratados como pratos ovais à espera do banquete cuja ‘pièce de résistance’ só poderia ser calamares ‘en su tinta’. Olhos? Aparentemente inspirados nos de uma lula-colossal, aquela que possui os maiores do reino animal. Cabelos? Como alguém que se encontra, não em uma pescaria, mas despencando no interior do elevador mal-assombrado da Disneylândia, um susto e tanto. Peixe-letra? Coitada, não consegue pegar unzinho sequer. 

No centro, meio de perfil, planta-se José Serra com aquele jeito inocente e desprendido de quem se dedica ao bem dos pobres e oprimidos como um frade dominicano. Em campanha que parece dizer aos brasileiros e eiras que, tendo saúde, a população nem precisa se alimentar, o candidato Serra pesca metido num terninho escuro, enfeitado por uma gravatinha vermelha – alguma coisa ele há de conservar do seu passado de lutas - e consegue fisgar um peixe-letra, o ‘c’ – classe? - dos indecisos. Serra ainda estica a mão direita, dispensando o anzol, para capturar um ‘i’. À direita, Marina, metida em seu ‘tailleur’ verdinho como um cipreste natalino. Uma doçura morena de olhos fechadinhos, possivelmente sonhando com outros peixes-letras além do ‘o’ já arrepanhado entre os indecisos que Serra ainda não conseguiu.


Uma capa à direita que se arvora em uma sacada e tanto, mas que não vai além do repetitivo trivial, no intuito mostrar uma bobagem ao milhão e pouco de cabeças já feitas, que a recebem como assinantes, e àquelas que compram, semanalmente, como uma espécie de reforço pavloviano à pugna contra o inelutável, afinal, Dilma parece que tem conseguido pescar mais peixes-letras que os dois juntos.

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Tuesday 17 August 2010

COTIDIANO 2010
(con permiso del poeta)

Hay Días qué so sé lo que es Álvaro
Y mucho menos el Índio da Costa
Ayunto PSDB con lo DEM
Y acabo discutiendo lo PSOL

Pero no hay nada no
Tengo mi violón

Despierto en la mañana, pan con Mantega
Y mucha mucha sangre en los periódicos
La chiquillería entonces llega
Yo pienso que Marina es natural

Pero…

Después hago la loto con la diosa
Dios quiera nuestro día hay de llegar
Y sonrío porqué Serra no lo consigue
A mí nada me Costa imaginar

Pero…

A los sábados en mi casa me emborracho
Y sueño soluciones sensacionales
Pero cuándo viene el sueño la noche matase de risa
Y el Día cuenta siempre el cuento igual

Pero…

A veces quiero creer, pero no lo consigo
Es todo una total insensatez
Ahí pregunto Dios: ‘Escucha, amigo,
Se fue para deshacer por qué lo ha hecho?’

Pero…

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Monday 9 August 2010

UM DESASTRE ECONÔMICO E AMBIENTAL

Está na BBC, no seguinte endereço, relatado por Tom Feilden:

http://www.bbc.co.uk/radio4/today/reports/archive/science_nature/gm_us.shtml

O título original é ‘Aprendendo com as lições da América’, para uma matéria que nos informa que as culturas geneticamente modificadas têm-se mostrado, nos Estados Unidos e Canadá, um desastre econômico e ambiental. O veredito encontra-se em um novo relatório sobre o impacto da soja transgênica, milho e sementes de colza para óleo, publicado pela Associação do Solo. Isto afeta a conta da economia norte-americana em 12 bilhões de dólares, com as perdas em exportações, preços baixos, crescentes subsídios agrícolas e danos ambientais. O relatório levanta importantes questões sobre as promessas feitas pela biotecnologia.

O documento, ‘Sementes e Dúvidas’, da Associação do Solo pinta um quadro desanimador quanto aos lucros, baixos rendimentos, perda de mercados de exportação, crescente dependência de herbicidas, larga contaminação de culturas não-geneticamente modificadas e uma proliferação de processos judiciais. Talvez o maior problema encontrado pela Associação do Solo seja a contaminação de culturas orgânicas, como canola e sementes de colza, provocadas pelas variedades transgênicas.

Uma decisão sobre onde devem ser permitidos plantios comerciais transgênicos, no Reino Unido, será tomada no próximo ano. Com a agricultura ainda atolada na crise econômica, muitos produtores esperam que a biotecnologia ofereça um caminho para sair do buraco. As lições tiradas desse relatório mostram que um futuro geneticamente modificado pode não ser tão auspicioso, afinal.

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Thursday 8 July 2010

VIVA A ESPANHA!

No mesmo dia em que a seleção da Espanha derrotou a Alemanha, vencendo o último degrau à disputa da final da Copa do Mundo de 2010, na África, surge outra notícia que faz aquele país merecer mais um viva: a justiça espanhola condenou Roberto Alonso de la Varga a 10 anos de prisão e uma indenização de 1,5 milhão de euros. Motivo? Racismo. O fato ocorreu em fevereiro de 2007. Este tal de Roberto agrediu o congolês Miwa Buene, com um golpe no pescoço, deixando-o tetraplégico. A sentença foi pronunciada na 17ª Seção da Audiência Provincial de Madri.


Miwa espera que a sentença sirva de lição para outros racistas, que agora sabem que acabarão presos ao cometer agressões desse tipo. ‘Tenho um projeto de vida e espero ir adiante’, destacou. Outro que se pronunciou sobre o assunto foi Esteban Ibarra, presidente do Movimento contra a Intolerância, ressaltando que a sentença é um divisor de águas, além de uma das poucas (não mais que 10) a acolher o agravante de racismo.


A matéria, em espanhol, está no endereço: http://www.elpais.com/articulo/espana/Esperaba/Roberto/pidiera/perdon/elpepuesp/20100708elpepunac_8/Tes

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Tuesday 29 June 2010

NOSSO SÍMBOLO É UM TESÃO

O isóscele dos transgênicos tem cor diferente e parece uma estranha pirâmide, algo que um jornalista amigo já interpretou como ‘não dê preferência’. Mas será que debaixo desse angu existe mesmo algum caroço, como ele sugere?

O rótulo que identificará produtos transgênicos no Brasil a partir de março, aprovado em consulta pública pelo Ministério da Justiça parece, mas segundo a autoridade não é, uma placa de trânsito. Trata-se de um triângulo de fundo amarelo e borda preta, com um T maiúsculo em cor preta no meio. A assessoria de imprensa do órgão governamental esclareceu de imediato que a tal forma geométrica foi escolhida por ser o símbolo internacional de advertência e que o desenho foi criado pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor a custo zero. Que ótimo! Sugiro que o valor economizado seja doado ao programa Fome Zero. Bom, todos os que dirigem veículos sabem o que significa o triângulo desenhado com a grossa linha vermelha e o interior em branco. Aos esquecidos, a CET avisa que se trata da orientação ‘dê preferência’. O isóscele dos transgênicos, no entanto, tem cor diferente e parece uma estranha pirâmide, algo que um jornalista amigo já interpretou como ‘não dê preferência’. Mas será que debaixo desse angu existe mesmo algum caroço, como ele sugere?


Conforme a Organização Internacional de Padronização, os símbolos internacionais são divididos em 3 categorias: proibição, alerta e comando. Em rápida pesquisa sobre eles, verifiquei que ao triângulo de borda preta com fundo amarelo estão associadas advertências apavorantes como, por exemplo, perigo de radiatividade. Com as mesmas características, encontrei um triângulo em cujo centro há uma figura humana sendo fulminada por uma descarga de um negro choque elétrico, existindo ainda outra placa onde desce um raio vermelho com ponta de seta, como se não bastasse toda a energia que aparentemente descarrega.


Comuns são as formas redondas, quadradas e retangulares. Os círculos desenhados com uma linha grossa em vermelho, cortados por uma outra da mesma natureza sobre a figura interior, servem para alertas do tipo não fume, entrada proibida, não toque. A proteção de olhos, ouvidos, mãos, o cinto de segurança, tudo está em círculos feitos por uma linha branca com o interior em azul e a figurinha em branco. Desenvolvidas em conformidade com as Normas da nossa ABNT, as placas para equipamentos de combate a incêndio são quadradas ou retangulares, circundadas por uma linha cinza-escuro, com interior em vermelho e a mensagem em branco indicando um extintor, pó químico, espuma, água etc. O tema serve para compor uma brochura alentada e maçante, por isso, voltemos ao começo da história.


Vou concluir porque já percebi que você não agüenta mais ver a palavra símbolo na sua frente. Nem eu. Mas pouco ou nada entendendo sobre o que significa transgênicos, prenhe de dúvidas quanto a sua segurança no tocante ao ambiente e a alimentação animal, ser humano incluído, uma coisa indiscutível é que a população saberá facilmente identificar tais produtos nos supermercados e feiras, começando pelas donas de casa que logo assimilarão o simbolismo e perguntarão com a maior tranqüilidade aos feirantes: moço, quanto custa a banana com tesão hoje?

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Wednesday 23 June 2010

TORCEDOR PEDE NOVAS REGRAS

No calor da refrega, nos tempos em que nosso Torcedor Especializado, o TE, batia uma bolinha pelo Estrelinha, no barro catendense, era normal matar a bola no braço, fazê-la escorrer pro bico da chanca e estufar a rede. Normal porque não existia rede nem juiz, nas peladas, mesmo assim, terminada a partida, o autor jamais admitia ter feito o gol com a ajuda do membro superior. Desde então, as coisas evoluíram e aquilo que causava vergonha virou motivo de galhofa, conforme se viu na entrevista com o jogador Luis Fabiano, depois do jogo entre as seleções do Brasil e Costa do Marfim. O Torcedor Especializado até que gostou do desempenho da rapaziada do Dunga, mas, em entrevista exclusiva n’A Prensa (www.a-prensa.blogspot.com) , mostra-se um tanto desconfortável, como dizem os norte-americanos, com a caradura do rapaz.


P – Gostou do jogo?
R – Nalguns momentos, fez-me esquecer d’algumas partidas horríveis que tenho visto nesta Copa do Mundo.
P – O gol do Luis Fabiano, como ele modestamente classificou, foi uma pintura, não?
R – Realmente, embora com a mãozinha do juiz. Aliás, deve ter sido algo inédito em Copas o sorriso do árbitro francês, Stephane Lannoy, quando, em vez de a esconder, confirmou a sujeira com o próprio atacante.
P – O jogador declarou que seria uma pena o juiz marcar o toque e anular um gol que lhe saiu como uma pincelada em tela...
R – Trata-se de nossa velha e conhecida malandragem do rouba, mas faz.
P – Maradona, em 86, também reconheceu que usou a cabeça e a mão de Deus...
R – Em religião não meto a mão, porém, há diferenças essenciais entre um caso e outro, começando pela evidência de que o Fabiano fez o gol com o pé.
P – Jornalistas especializados não concordam com essa opinião.
R – Torcem e distorcem.
P – A classificação da França deu-se com um gol de mão...
R – Bom, do jeito que anda a carruagem, a FIFA deve estudar mudanças nas regras do futebol, fazendo com que, pelo menos, braço e antebraço passem a valer, afinal, estão tão próximos do peito.
P – No seu entender, só as mãos deveriam mesmo ficar de fora?
R – Uma possibilidade será regrar que o canhoto não pode usar a mão canhota, assim como o destro a direita ou vice-versa, sei lá.
P – Como ficariam as coisas para os ambidestros, ou seja, jogadores que assinam a súmula tanto com uma como com outra?
R – Acho melhor perguntar isso ao técnico Domenech, da França, ele é um intelectual.
P – Ah, é?
R - Sim, um tipo que leva jogador para ver e se inspirar em peças do teatro do absurdo, como Fim de Jogo, do Becket, cuja frase-síntese afirma não haver nada mais divertido do que a infelicidade.
P – E sobre o Dunga, tem algo a dizer?
R – Mesmo que não venha a ser campeão, já entrou pra história do futebol, ao comprar briga com a Rede Globo e com o próprio chefe, Ricardo Teixeira. Golaço!

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Wednesday 16 June 2010

TORCEDOR ESPECIALIZADO

Os primeiros jogos da Copa do Mundo 2010 de futebol foram tão chatos, ‘aburridos’, ‘boring’ quanto a cerimônia de abertura. Esta assemelhou-se a um espetáculo promovido em comum acordo com as grandes gravadoras de música, frustrando ao mundo a possibilidade de assistir a um evento original africano. Os embates em campo, por seu turno, até agora aferraram-se ao espírito burocrático, espécie de marca registrada no jogo de resultado, com suas táticas soníferas, orientadas por técnicos todo-poderosos. Mas, a constatação de que a deliciosa arte do futebol anda se arrastando não é motivo para desânimo. Questiona-se o avanço tecnológico que consertou uma lesão, em tempo recorde, e garante a participação do atacante marfinense Didier Drogba no Mundial. Discute-se a nova bola, a Jabulana criada pela FIFA, e as consequências da altitude e dos ventos sobre a trajetória dessa indomável senhora esférica. Reclama-se dos efeitos dos decibéis das vuvuzelas sobre o estado psicológico dos atletas. Louva-se a maravilha dos estádios em que são travados os jogos. Ludopédio mesmo, que é bom, necas.

E a coisa não para por aí. Nesta Copa, por exemplo, técnicos e respectivas indumentárias viraram atração. As câmeras abandonam o jogo para mostrar, com insistência mercadológica, um Maradona que veste terno, diz-se, em obediência aos desejos das filhas. Dunga enfia-se em um conjunto que parece talhado por um aprendiz de modista, que se atrapalhou ao escolher os botões apropriados ao casaco, enfeitado com zíperes militares, e a calça na cor de burro quando não sabe se fica ou foge. Enfim, foi-se o tempo em que se via um bonachão e vencedor Vicente Ítalo Feola, cochilando no banco, ser acordado pelo massagista Mário Américo para comemorar um gol espetacular da Canarinha.

A contrapartida de toda essa mixórdia, entretanto, tem seu lado positivo, uma vez que criou a figura do torcedor especializado. Ao contrário dos jornalistas especialistas, que se esforçam em convencer brasileiros e eiras de que a Seleção de Dunga poderia apresentar coisa diferente do que vem aprontando, nós que compomos parte do grupo de torcedores especializados sabemos que uma fria análise da história recente da participação dos escretes, seja do nosso verde-amarelo ou os de outros matizes, desmente tais expectativas. Sentamo-nos diante da televisão cientes do que não veremos, mesmo quando a primeira colocada, na tabela da FIFA, enfrenta a equipe que carrega a lanterna. Salva-nos a especialização. Atacamos com pipocas e amendoins, salgados e doces. Damos um chapéu no refrigerante sem açúcar. Sentimos a falta de meia, cerveja. na ligação com o ataque, aos petiscos. No intervalo, alguém pergunta à vovó se deseja algo mais e, saudosa, ela pede um Pelé quentinho. O ambiente fica um tanto carregado apenas quando a vovó levanta a mão direita e pede o cornetão que o neto costumava usar. Informada de que a peça agora se chama vuvuzela e ninguém faz idéia do paradeiro, ela, desconfiada, desabafa: ‘Pois saibam que ainda tenho pulmões e força para mostrar ao mundo o quanto essas peladas são desagradáveis’. Em seguida, troca o segundo tempo do jogo pelos arremates no tricô, dando, como especializada, uma aula de habilidade no ornamento.

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Wednesday 9 June 2010

TIFFANY VERSUS ROLEX

- Bacharel, o chefe chama, está trepando nas tamancas com a nossa operação.
- Qual que é a bronca, dessa vez?
- Sei lá, a Lu desconfia de que ele não aprovou as jóias.
- Tu tá gozando com a minha cara, Vesgo.
- Pô, Bacharel, eu não gosto de ser chamado assim - e brincadeira tem hora.
***
- Chefe chamou?
- Bacharel, qual shopping vocês visitaram?
- Conforme o combinado e descrito no mapa, chefe, aquele dos bacanas na Marginal.
- Cidade Jardim?
- Esse mesmo.
- E qual o nome da loja premiada?
- Aí, o senhor me pegou, mas o Cola sabe direitinho.
- Você entregou as orientações na mão do Cola Branca?
- Chefe, baixou uma vontade danada de dirigir, sentir a máquina, e...
- Sentir? Pois eu lhe digo que sinto muito, porque a mercadoria encomendada pelo cliente não é esta que aí está sobre a mesa. Posso lhe perguntar uma coisa?
- O que é isso, meu chefe, que polidez é esta?
- Vossa sabedoria considera parecidos os nomes Tiffany e Rolex?
- Nem de longe, chefe.
- Informo-lhe, portanto, com um pedido de extensão aos seus comandados, que cometeram um tremendo equívoco, trazendo produtos com a marca Tiffany.
- Chefe, posso lhe garantir que nossa equipe tem competência para desmanchar o erro. Peço-lhe apenas alguns dias aí pela frente.
- Concedidos. Eis as novas recomendações.
- Obrigado, chefe.
- Só mais uma coisa: outra derrapada, fim do selecionado.
***
- E aí, Bacharel?
- Cola, Vesgo dos infernos, sob tua batuta, demos uma tremenda bobeada, o chefe tá uma pistola e vamos ter que corrigir a operação.
- Devolver as jóias?
- Isso também não, sua besta! O chefe exige que voltemos para trazer os relógios de uma loja chamada Rolex. Vê se grava o nome, desgraçado: Rolex!
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex! Pronto, vou buscar o carro.
- Isso, vai mesmo, talvez cheguemos enquanto a perícia ainda trabalha por lá.
- É melhor dar um tempo, então?
- Sabe, Cola, sempre desconfiei da tua inteligência, mas jamais imaginei que fosse um caso de estudo. Vai dormir e trata de acordar daqui a 24 dias.
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex, tique-taque...
- Muito bem, Cola, decora e vê se põe o despertador para as 9 da manhã, no 25° dia.

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TIFFANY VERSUS ROLEX

- Bacharel, o chefe chama, está trepando nas tamancas com a nossa operação.
- Qual que é a bronca, dessa vez?
- Sei lá, a Lu desconfia de que ele não aprovou as jóias.
- Tu tá gozando com a minha cara, Vesgo.
- Pô, Bacharel, eu não gosto de ser chamado assim - e brincadeira tem hora.
***
- Chefe chamou?
- Bacharel, qual shopping vocês visitaram?
- Conforme o combinado e descrito no mapa, chefe, aquele dos bacanas na Marginal.
- Cidade Jardim?
- Esse mesmo.
- E qual o nome da loja premiada?
- Aí, o senhor me pegou, mas o Cola sabe direitinho.
- Você entregou as orientações na mão do Cola Branca?
- Chefe, baixou uma vontade danada de dirigir, sentir a máquina, e...
- Sentir? Pois eu lhe digo que sinto muito, porque a mercadoria encomendada pelo cliente não é esta que aí está sobre a mesa. Posso lhe perguntar uma coisa?
- O que é isso, meu chefe, que polidez é esta?
- Vossa sabedoria considera parecidos os nomes Tiffany e Rolex?
- Nem de longe, chefe.
- Informo-lhe, portanto, com um pedido de extensão aos seus comandados, que cometeram um tremendo equívoco, trazendo produtos com a marca Tiffany.
- Chefe, posso lhe garantir que nossa equipe tem competência para desmanchar o erro. Peço-lhe apenas alguns dias aí pela frente.
- Concedidos. Eis as novas recomendações.
- Obrigado, chefe.
- Só mais uma coisa: outra derrapada, fim do selecionado.
***
- E aí, Bacharel?
- Cola, Vesgo dos infernos, sob tua batuta, demos uma tremenda bobeada, o chefe tá uma pistola e vamos ter que corrigir a operação.
- Devolver as jóias?
- Isso também não, sua besta! O chefe exige que voltemos para trazer os relógios de uma loja chamada Rolex. Vê se grava o nome, desgraçado: Rolex!
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex! Pronto, vou buscar o carro.
- Isso, vai mesmo, talvez cheguemos enquanto a perícia ainda trabalha por lá.
- É melhor dar um tempo, então?
- Sabe, Cola, sempre desconfiei da tua inteligência, mas jamais imaginei que fosse um caso de estudo. Vai dormir e trata de acordar daqui a 24 dias.
- Rolex, Rolex, Rolex, Rolex, tique-taque...
- Muito bem, Cola, decora e vê se põe o despertador para as 9 da manhã, no 25° dia.

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Tuesday 8 June 2010

JABULANÃO

No princípio, era a verba... Plasmou-se, ‘a posteriori’, ante um mundo pasmo, uma estranha forma, em tudo parecida com um profeta, sem longas barbas brancas, coroado com lustrosa careca, equilibrando uma auréola luminosa na palma da mão direita. Uma criança que empinava pipa, nos campos do Senhor, perguntou em brado retumbante: “Pai, aquilo lá em cima é Deus?” Ele assestou o penetrante olhar na direção apontada pelo indicador infantil, sentiu a presença de um supremo poder perfurando as nuvens, com seus raios cósmicos, e... dialogaram, tornando possível o que a seguir vai escrito.

- Filho, aquele é o senhor Joseph Blatter, o presidente da FIFA desde 1998.
- E o círculo na mão dele?
- Um esboço para a criação da nova bola para a Copa do Mundo em 2010.
- Parece que ele está falando alguma coisa...
- Ele anuncia: faça-se a esfera!
- De couro, né, pai?
- O material básico da Jabulani é poliéster e algodão, filho...
- Jabulani, pai?
- Batizaram a bola de Jabulani, que no idioma Zulu significa celebrar.
- Eu prefiro Jabolani, acho mais redondinha.
- Bom, como eu explicava, depois do poliéster e do algodão vem uma camada de EVA, em terceira dimensão...
- Como o coelho da Alice, né, pai?
- Exatamente.
- Eva era a mulher de Adão, n’era, pai?
- Sim, filho, mas a EVA a que me refiro abrevia o Etil, Vinil e Acetato, que entram na composição dos gomos que revestem a gorduchinha.
- A verdadeira Eva andava nua, n’era, pai?
- Até o dia em que comeu a maçã.
- Meu amigo Zoca diz que quem comeu a maçã foi Adão.
- Vê-se que o Zoca nada entende de futebol.
- Pai, não fala assim, Zoca diz que é ala.
- Só se for alaursa.
- Pai, não avacalha, o Zoca joga pra cara... amba, e até fala que vai ser o Neymar.
- Alalá! Não seria o Kaká?
- Ah, sei lá. O Zoca acha que o Brasil não ganha a Copa.
- Se a Jabulani deixar, teremos boas chances, embora nossos atletas não gostem dela.
- Redonda demais, né, pai?
- Talvez.
- Mas, o nosso time ainda é o melhor do mundo, né, pai?
- Com certeza.
- Então, vai ser campeão e trazer a taça.
- E por quê, no seu entender?
- Eu preciso ganhar o Jabulanão do Zoca, né, paiê.

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Wednesday 2 June 2010

NERSOS DA VIDA

Véspera do feriado de Corpus Christi, a cidade de São Paulo mais parece um formigueiro, no dia de São José, com suas tanajuras humanas querendo bater asas, custe o que custar, presas a seus automóveis que não conseguem tirar do lugar. Circulo a pé no Cambuci, ameaçado por motociclistas que nada respeitam, buzinas e escapamentos em decibéis ensurdecedores, freadas de ônibus que esmagam nervos, e chego enfim ao Cartório na Rua Albuquerque Maranhão para providenciar uma cópia autenticada de minha identidade de jornalista. Um garoto me atende como se eu fosse culpado pelo seu penteado, à la Nerso da Capitinga, desaprova ‘in limine’ meu documento dividido em duas partes e se enfurna na caverna poeirenta da burocracia cartorial, em busca da confirmação superior para rejeitar com segurança o serviço. Retorna com aquele ar de reprovação que me faz pensar: tão jovem e já com tanta autoridade. Argumento que, exceto pela ação separatista promovida pelo tempo, a minha carteirinha está em perfeitas condições. Em vão. O jeito é voar, dali, direto à plastificadora que existe no Largo do Cambuci, que me cobra R$ 1,50 para deixar o documento novinho em folha. Na hora do almoço, retorno ao Cartório mas o danado do Nerso parece que está de regime. Que fazer?

Tomo o ônibus e vou ao 11º Tabelião na Domingos de Moraes para resolver o problema, que começa a ficar mais caro do que o esperado por causa da teimosia daquele Nerso. Desço na Vergueiro, no ponto da Caixa D’Agua, atravesso, na faixa de pedestre, a pista no sentido do bairro pro centro e espero o farol fechar para concluir a travessia. Ao meu lado, um guarda da CET lavra freneticamente, no talão, multas a partir de informações que parecem ter sido guardadas na memória. Vem o amarelo, o vermelho, os automóveis param e ponho o pé direito no asfalto, para chegar ao destino, quando a autoridade do trânsito me interpela.

- Calma, senhor.
- Como?
- O senhor não está vendo que aqui temos um corredor de motos?
- Claro que estou, porém, o semáforo está no vermelho e acho que elas, da mesma forma que os carros, também são obrigadas a frear, não?
- São, mas a vida nossa é mais importante que o farol vermelho.

Como alguém capaz de adivinhar pensamentos, o guarda me assustou, pois eu acabara de ler no ônibus as crônicas ‘A boca da verdade’, ‘Presença de espírito’ e ‘Orientação’, contidas n’A Dança dos Chimpanzés, do Pitigrilli. Agradeci, certifiquei-me da inexplicável ausência das motos e fui em frente. No 11º Cartório, a atendente passou a analisar minha carteirinha plastificada - mas eu a distraí.

- Quanto custa a xerox autenticada?
- Dois reais e noventa centavos.
- Jornalista não tem desconto?
- Essa é boa. Claro que não, o serviço é tabelado.

Depois do pingue-pongue, o alívio, com o lançamento da carteirinha dentro de um envelope de plástico transparente e a concomitante entrega da minha senha de número 38. Ainda tive vontade de dizer que ela estava mentindo, porque, no Cartório do Cambuci, cobra-se R$ 2,50 pelo mesmo expediente, mas a imagem do primeiro Nerso barrou-me a intrepidez. Paguei e me pirulitei, achando, precipitadamente, que me livrara dos Nersos, até passar o bilhete único e perceber que fora mais uma vez garfado em R$ 2,70 – tomara, na volta, o mesmo ônibus da ida.

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Tuesday 1 June 2010

PELEJA

- Ei...
- Oi!
- Ei...
- Ah!
- Ei...
- Bom dia!
- Bem-te-vi!
- Ótimo.
- Ei...
- O que é, agora?
- Ei...
- Já sei, bem-te-vi.
- Ei...
- Ah, ei...
- Bem-te-vi, bem-te-vi.
- Só duas vezes?
- Ei...
- Hum!
- Ei...
- Ai, ai, ai...
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Um dueto com sabiá cairia bem.
- Ei...
- Deixe-me adivinhar, ei?
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Gosta de um joguinho.
- Ei...
- Como? Entendi, mas acontece que, ontem à noite, nesse frio, não sobrou uma mísera migalha da refeição da matilha, portanto...
- Ei...
- É verdade que eu poderia ter arranjado alguns grãos no saco de ração e jogado, como de hábito, aí sobre a laje. Perdão.
- Ei...
- Hoje eu dobro a porção, combinado?
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Ah, tripla?
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.
- Está bem, seja feita sua vontade.
- Ei...
- Calma, meu velho, promessa, comigo, é dívida.
- Bem-te-vi.
- Lindo! Agora, dá no pé ou chamo o gato do vizinho..
- Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi.

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Saturday 29 May 2010

PREPARADO

Em campanha no Recife, o ex-governador paulista José Serra avisou os correligionários para não arranjarem um vice que lhe traga aporrinhação. Em Minas, o agora provável abominável Neves deve ter pensado, lá com seus botões, que pulou fora na hora certa, pois, entre os cargos de vaca de presépio e senador, o último é bem melhor. Longe das encrencas políticas, cientes dos fatos, dois contumazes ‘borratchos’, Creia-em-mim e Zé Gabola, trocam idéias à mesa da Juriti, no Cambuci, regadas a Serramalte, jurando o primeiro ter-se fantasiado de garçom durante uma reunião entre as cúpulas do PSDB e DEM, e presenciado diálogos que mereceriam entrar nos anais da nossa história política.

Creia – Um dos presentes falou, Governador...
Gabola – E ele?
Creia – Antes de qualquer manifestação, o Goldman botou os pingos nos is, dizendo que agora era ele o dito cujo, portanto...
Gabola – E ele?
Creia – Disse que preferia ser chamado de presidente, mas aí o Guerra não entendeu e esclareceu que o cargo lhe pertencia.
Gabola – E ele?
Creia – Descarrilou, perguntando se algum dos participantes tinha dúvida quanto ao significado da palavra aporrinhação. Alguém levantou o braço.
Gabola – E ele?
Creia – Indagou se o interpelante queria um sinônimo, quando o tal apenas desejava ir ao banheiro, provocando uma gargalhada geral.
Gabola – E ele?
Creia – Fez ouvido de mercador, sondando sobre a repercussão do que dissera sobre o governo do mandachuva da Bolívia, o Evo, taxando-o de cúmplice dos traficantes de cocaína. Um silêncio incômodo dominou a sala.
Gabola – E ele?
Creia – Naquele exato momento, tocou um celular com aquela música Como Você Pôde Abandonar Eu, da Pedra Letícia, e não consegui pescar o comentário dele seguido do de Neves. Só sei que choraram de tanto rir.
Gabola – E ele?
Creia – Solicitou o desligamento dos celulares, pedindo sugestões pra vice. Um, com espírito de gozador, sugeriu que o ideal seria Alckmin, gerando protestos do publicitário responsável pela campanha do homem de Pindamonhangaba.
Gabola – E ele?
Creia – Elogiou o Chuchu e, depois, quis saber se, em vez do Evo, estrategicamente o melhor teria sido atacar o tChávez. Guerra abriu fogo contra alianças espúrias.
Gabola – E ele?
Creia – Disse ‘yes’.
Gabola – Creia, como tu mentes.
Creia – Pratico pra entrar na política. Achas que estou preparado?
Gabola – Com certeza, como dizem os pernas-de-pau do Brasileirão.

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Friday 28 May 2010

AI! CAI NA AUSTERIDADE

Austera idade
Europa
Austeridade
Cara velha
Matriz
Caravelas
Ao mar
Navegante
‘On line’
Comandando
‘Blue ships’
Olha a barbatana!
É de um ‘iceberg’
Valha-nos Zeus!
SOS Titanic
Austera idade
Europa
Austeridade
Elizabeth
Calibra bem
Austera idade
Ângela Merkel
Eurocêntrica
Austeridade
Vocês brancas
Se entendam
Nosso ouro acabou
Caro Sócrates, o Zé
Zapatero alinhave
Lula lá ‘en su tinta’
Cara Irlanda
Encha a cara
Com um puro escocês
Austera idade
Europa
Austeridade
O teu Cavalo de Tróia
Já está bem amarrado
No Portal de Brandenburgo
Recheadinho de gregos
Austeridade
Europa
Austeridade

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Wednesday 19 May 2010

AI! CAI NO CRU

Obam’espia
Impotente
A mancha negra
Golfando
Avançando
Sobre a costa
Louisiana
Como a peste
Assassina
Encharcando
Areias
Turistas
Banhistas
Esportistas
Águas-vivas
Cardumes
E pelicanos
Em extinção
Obam’águia
Ave d’ébano
Insulada
Pelas garras
Um refém
D’Wall Street
Cai o dólar
Sobe a Nyse
Baixa a Nasdaq
Olho vivo
Em Pequim
Na Bovespa
Hong Kong
Taiwan
Obam’olha
Se eu fosse
Como tu
Tirav’essa
Mão do bolso
Estancava
O jorro cru
E depois rolaria
Abraçado
Ao cão-d’água
No tapete persa

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Friday 14 May 2010

CARTEIRADA NA GLÓRIA

Na fria manhã de maio, embora já dominada pelo sol, deixei a Liberdade para trás e trafegava na Glória, no retorno ao frutífero Cambuci, quando o motorista de um ônibus, daqueles que fazem ponto final sobre o viaduto Mie Ken - Jardim Maria Luiza, COHAB-Educandário, Largo da Pólvora -, ligou o motor, fechou as portas, lascou primeira e arrancou para escapar da fila que lhe atravancava o destino. Sem a devida atenção, o descuidado não percebera a aproximação de um atarracado automóvel preto, que já ultrapassara o Posto Avançado de Conciliação Extraprocessual, da Associação Comercial de São Paulo, e buzinando mais que o Chacrinha avançava celeremente de encontro à lateral do coletivo. Sorte que o freio do ‘bus’ estava em boas condições e ele conseguiu evitar a colisão. Até aí morreu Neves, nesse episódio banal no trânsito paulistano, não fosse o ilustre condutor do Peugeot uma autoridade, daquelas que encaram esse tipo de deslize como um inaceitável desacato ao autoritarismo ambulante. Daí, o semáforo fechou e...

Animado, quiçá, pelos vapores emanados do belíssimo casarão, construído em 1833, que fica no número 410 da Rua da Glória e abriga o 1º Distrito Policial, o jovem babaquara sacou uma carteira visivelmente cheia de cartões de crédito e débito, dos convênios de saúde e odontológico, cédulas sambadas de real, uma foto da mamãe ao lado da namorada e outros corpos que, no momento, não consegui imaginar. Claro que, no meio desse venerado recheio, encontrava-se o porta-jóia de couro preto com a insígnia estrelada metálica, aquela que transforma o brasileiro em alguém. Para mostrar que a bronca era séria, nosso herói grudou o objeto na película escuríssima do vidro dianteiro, ali na região onde dorme o espelho retrovisor interno, decerto esquecido de que o agressor dificilmente conseguiria enxergar o pertence. Tanto que esboçou um sorriso, deixando o poderoso furioso ao ponto de ligar o pisca-alerta, abrir a porta do veículo, pular pro asfalto e correr, com o troço levantado acima da cabeça, até alcançar a janelinha da frente do Educandário, cuspindo xingamentos e ameaças contra o assustado funcionário da Viação Osasco. Farol verde, lá se foi o desrespeitoso, obrigando o distinto do dístico a correr de volta ao seu bólido e sair em perseguição, somente encerrada na esquina da Glória com Barão de Iguape, quando o ônibus entrou à direita em busca da Liberdade e nosso herói seguiu adiante, em plena Glória, ainda encontrando forças para colocar o braço esquerdo pra fora do carro e, indicador em riste, mostrar que as providências não tardariam.

Estacionei minha fubica na Zona Azul e caminhei até a Praça Almeida Júnior, parando inicialmente diante de uma escultura em pedra gravada em baixo relevo com os seguintes versos, traduzidos por Antonio Nojiri: Sobre a areia deitado/me comprazo em fugir de aplausos e elogios/a manhã inda é manhã/e a brisa que vem do mar acaricia meu rosto. Perto dali, onde um japonês pacientemente aguardava para continuar sua caminhada com lulus, interrompida por necessidades fisiológicas de um deles, evidentemente, descubro um totem em pedra, fincado na grama, em cujos lados está gravada, em japonês, inglês, espanhol e português, uma daquelas frases que perderam o sentido: Que a Paz prevaleça no Mundo.

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Monday 10 May 2010

OVOS MEXIDOS

No box do mercado de hortifrutis Kinjo Yamato, ao lado do Mercado Central de São Paulo, aquele cujo piso é de paralelepípedos e tem cobertura, vinda da Escócia, tombada pelo patrimônio histórico, ali, o pernambucano Damião mexe nos ovos vermelhos, movimentando-os como se fossem peças em quebra-cabeças ou tabuleiros de xadrez. Dois pra lá, dois pra cá, ótimo. Este grande fica bem no lugar daquele raquítico acolá. Melhorou, embora nem sempre atinja a harmonia que convence os olhares da clientela exigente. As bandejas devem oferecer um conjunto equilibrado, nem tanto ao céu, nem tanto à terra, expondo uma distribuição perfeita entre pequenos, médios e grandes. Semeia, destes últimos, um em cada esquina que arremata as linhas dos limites dos campos onde descansam as 60 unidades. Nas áreas centrais, constrói quadriláteros de médios, com a sabedoria do manipulador que encaminha as atenções da periferia à gema. Na segunda fileira, a partir das fronteiras externas, acomoda, em linha com os ângulos, dois médios e dois grandes, que servem para agradar a freguesia atenta à formação originalmente planeada. Raramente acontecem surpresas, em razão dos cuidados que dedica à arrumação, porém...

Sábado último, por exemplo, distraído pelos gritos de alerta, contra o rapa na Cantareira, providenciados por um espião a serviço do proprietário de um carrinho de mão, lotado com perfumes de marcas mundialmente famosas e devidamente falsificadas, Damião descurou-se de suas obrigações. Mantinha um acanhado entre o indicador e o polegar, da mão direita, que lhe escapou e voou a se espatifar - miserável! - no chão de cimento. Por muito pouco não acertou o pé de uma chinesa que escolhia brancos no balcão da frente para compor uma dúzia. A queda, da altura aproximada de um metro, estilhaçou a casca mergulhando os fragmentos na langonha formada pela mistura de clara e gema. Munido de páginas de jornal velho, agachou-se e providenciou a limpeza, enquanto pensava na sorte de não haver perdido um avantajado. Finda a faxina, levantou-se, maldizendo as juntas, preencheu o espaço que fora do miúdo com um médio e perguntou ao cliente se apreciava o arranjo daquela forma. Perfeito, foi a resposta. Colocou a bandeja sobre as páginas abertas de jornal, embrulhou, passou a fita plástica em cruz, deu um nó cego e acomodou o pacote num saco plástico. O cliente puxou uma cédula de dez reais e a esticou na direção de Damião, que orientou o pagamento ao seu irmão em pé, ao lado da gaveta registradora, no fundo da loja. Virou conversa.

- Seu irmão, é, como se chama?
- Claves.
- Clóvis, né, Damião?
- Claves, mesmo, Clóvis é o outro. Éramos em cinco, morreu um, viramos quatro.
- Claves, um nome muito original.

Cumprimentou o Claves, recebeu deste um real de troco, garfou, com o indicador e o maior de todos, o pacote pelas alças do saco plástico e se despediu dos irmãos, com uma enorme vontade de perguntar sobre a graça do quarto irmão. Conteve-se e se foi, chacoalhando, com o vaivém do braço, os ovos.

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Thursday 6 May 2010

AI! CAI NO PACAEMBU

Carioca o urubu
Fez o gavião dançar
À luz do Pacaembu
Cantou como Ringo Star
All we need is Love
Love is all we need
Gavião tentou fugir
Às agruras do destino
Urubu ficou a rir
Do choro do falconídeo
Urubu papou o gordo
Como quem Dentinho tinha
Nada restou para o cocho
Montado na Fazendinha
Urubu só reclamou
Da carne um pouco dura
Com o Mano desabafou
Como se fosse fritura
Entra ano e sai ano
Gavião sonha com Tóquio
Aumentando o desengano
Como o nariz do Pinóquio
O fato é que o gavião
Como velho centenário
Foi mais uma refeição
Pro urubu ordinário

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Tuesday 27 April 2010

DOUTOR CIRO E MISTER GOMES

O Ministério da Agricultura já identificou o problema: deu praga nas plantações de abobrinha em Sobral e Ciro Gomes resolveu retornar e plantar em Pindamonhangaba. Depois de convencer Lula Picilóvi de que seu produto teria mais aceitação do que o Chuchu, doutor Ciro viu seu negócio murchar quando as pesquisas do Ih!Bofe – Instituto de Levantamentos Serôdios – demonstraram que os ventos Mercadantes sopravam noutra direção. Só então doutor Ciro resolveu revelar o mister Gomes que nele habita, acendendo o pavio curto que lhe coroa o plano superior. A mais recente, não a última, labareda lançada por mister Gomes, sobre nós, classificou o PMDB como ‘um ajuntamento de assaltantes, comandado por Michel Temer’. Ao estilo incendiário decerto faltou precisão ou sua memória anda meio curta, uma vez que o coletivo, quadrilha, seria o correto. Encostado na parede, para esclarecer se Michel Temer é o chefe dos assaltantes, mister Gomes engoliu um pouco da própria saliva e voltou a ser doutor Ciro, oferecendo ao estimado público uma receita de abobrinha por ele inventada com a experiência adquirida, nos vários partidos, que marcam sua vida política: duas fatias de abacaxi PDS, três colheres de chá de pepino PMDB ralado, uma xícara de manteiga PSDB, duas pitadas de cominho PPS moído na feira livre e, finalmente, sal PSB conforme o gosto da freguesia.


Interlúdio


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Tuesday 20 April 2010

AI! CAI NAS CINZAS

Belas asas
Tão inúteis
Quanto a tecnologia
Que as sustenta no ar
Um vulcãozinho nervoso
Na geleira Eyjafjallajoekull
- não tente pronunciar
e à erupção mais irritar –
Nos confins d’Islândia
Resolve botar lava
Na fervura d’aviação
Espalhando cinzas
No ventilador de teto
Nos céus da Europa
Müller
Não vai a Paris
Agnes Beauvoir
Desiste de voar
Mister Charles
Não volta do Rio
Seu Leminsky
Permanece em Varsóvia
Agustina Cabral
Não sai de Portugal
Morio Kita
Em Tóquio fica
Fernando Lérias
Dança nas férias
Olaus Magnus
Grita é o caos
A coisa é grave
Check-in is out
Até pros VIPs
Pra viajar
Só pelo mar
Ou on the road
E como diz o poeta:
Quem parte leva um jeito
De quem traz a alma torta

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NOCAUTE

Saturday 17 April 2010

PASSO DA NATUREZA

Um dentro, outro fora; o de dentro, volante na mão, pensava em fortunas; o de fora esticou o pescoço, saudou o de dentro e deu início à conversação diante da lotérica na Avenida Lins de Vasconcelos, defronte a agência do Banco do Brasil.


- E aí, menino, sempre forte como um touro.
- Graças a Deus. Tudo em ordem?
- Graças a Deus. Aposentado?
- Vou ao banco, receber a recompensa por ter trabalhado feito uma mula para conseguir isso que agora pinga todo mês.
- É verdade. Você era o rei da hora extra, sem páreo, a vida inteira.
- Nem tanto, Mariano. Eles estavam certos em me explorar, tentar esgotar meu sangue até a última gota. Hoje, às vezes, acho que eu errei em deixar. Bom, de qualquer modo, estou vivo, eles morreram.

- Que idade você tem?
- Adivinha?
- Nas proximidades dos 70.
- Faltam nove.
- Então, a coisa vai longe.
- Saúde não me falta.
- Ainda aprontaw
- Tomo minhas cachacinhas e continuo derrubando as belas. E você?
- Só refeição caseira.
- Tem medo de tempero forte?
- Medo, medo, não, acomodado, sei lá, conformado com o pouco de felicidade.
- Comigo é diferente, pelo menos enquanto puder levantar a faca.
- Você sempre gostou de pintar o sete.
- Acho que é da natureza de cada um.
- Talvez.
- Besteira lutar contra.
- Tem razão.
- Ontem mesmo, eu estava na estação Ana Rosa, do Metrô, pensando em comer uma coxinha no Monte Líbano, quando aparece um pedaço de primeira.
- Morena?
- Como Deus fez.
- Você é chegado nessa cor.
- Viciado. É da natureza.
- Passou a faca?
- Até o cabo.
- Barrica, me diga: na hora em que essa faca perder o fio, como fica a coisa?
- Aí, chegou o revés.
- Como assim?
- Deixo passarem a faca em mim.
- Você deve estar com brincadeira.
- Mariano, dizem que a natureza não dá saltos, mas, cá entre nós, um passinho pra trás não é impossível.
- Só você pra sair com uma idéia como essa.
- Mariano, nunca diga: dessa água não beberei.
- Barrica, vai tomar a pinga, vai.
- E vou mesmo, com ervas afrodisíacas, você é meu convidado.
- Hoje, eu aceito.

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NOCAUTE

Tuesday 13 April 2010

PERDIDA NO ESPAÇO

Voar como um condor, uma juriti, um colibri ou uma pretinha-puladora, eis um dos grandes sonhos de humanos e anas finalmente ao alcance de qualquer criatura que tenha entre R$ 1,49, oferta, e R$ 1,80, preço anormal, para comprar uma pequena ampola contendo adenosina, di-metionina, betaína, citrato de colina, cloridrato de piridoxina e sorbitol. Segundo a propaganda, a âmbula mágica hepatoprotetora faz as pessoas se sentirem muito mais leves, e tanto é verdade que, passeando hoje pelo centro de São Paulo, registrei situações fantásticas entre inzoneiras figuras que haviam tomado os 10 ml de... Melhor ler uma das historinhas.

- Amor, você está caminhando de uma maneira engraçada.
- Como?
- Sei lá, como quem estivesse escapando da gravidade.
- Você andou fumando o quê?
- Nada, o entregador pegou gripe suína.
- Então, a coisa funciona mesmo.
- Ioga?
- Não, bobinho.
- Fenômeno anímico ou mediúnico?
- Errou de novo.
- Fala logo.
- Tomei... tomei... bem, me segura, estou me sentindo uma bexiga num parque.
- O que foi que você tomou, querida?
- Epô... Epôôôô... Epôôôôôôôô...Epôôôôôôôôôôôôôôôô...
- Eu falei pra não tomar essa droga!
- Não... é... droga... é... Epô... Epôôôô... Epôôôôôôôô...
- É droga sim, esse Epocler.
- Estáááááááá... beeeeemmm... é... drogaaaaaa... mas, me ajuda, pelo amor de Deus!
- Ave! Raios! Putz! Cruzes! Diabo! Minha namorada virou um balão e está indo literalmente pro espaço. Alguém aí tem um antídoto contra os efeitos do Epocler, uma funda, um estilingue, uma espingarda de chumbinho?
- Amôôôôôôôôôôôôôôô... chame os bombeirossssssssss!
- Qual é o número?
- Sei lááááááááááá.... acho que é 195.
- Dá um tempo por aí, vou usar o orelhão.
- Ráááááááááápido!
- Doçura, esse é o número da Sabesp.
- Tente 190.
- Alô, boa tarde, eu falo com a Polícia Militar? Sargento, por favor, envie um helicóptero pra salvar minha noiva, não, noiva, não, namorada, que tomou Epocler e ficou tão leve que logo ultrapassará a troposfera a caminho do congelamento. Levitação? Não, eu falei Epocler. Trote? Mas, que nada, Sargento, isso é lá hora pra brincadeira. Obrigado, pela atenção.
- E aíííííííííííííííííííííííííííí?
- Eles estão vindo, enquanto isso, segura na mão de Deus e vai.

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NOCAUTE

Sunday 11 April 2010

AI! CAI AÍ

Ai! Cai meu
Não tem medida
Métrica vem sem
Nem rima
Sai sem rigor
Acadêmico
Epidêmico
Engelhado
Ai! Cai meu
É como um bicho
Na selva desnorteado
Foge
Como um celerado
Escapa à corporação
Fardada
Ao redor do chá
Sobrevive ignorado
Como triste apelo vive
Sem cimento
Apenas massa
No duro barro
Moldada
Pra bicar
De flor em flor
Aí vai um
Ai! Cai meu
Cuitelinho
Asas de frevo
Fazendo o passo
No espaço
Acrobática
Finura
Evocação
Assanhada
Iridescente
Pintura
Linda flor
Da matinada
Gosto de te ver
Voando
Feitiço
Da natureza
Trissando

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NOCAUTE

Friday 9 April 2010

GRITOS E SUSSURROS

O agente funerário estranhou a cerimônia restrita a apenas duas pessoas, porém, cumpriu sua missão sem perguntas. Ao se despedir, pediu licença para entregar o cartão de visita em que divulgava sua graça – Seu Neneca –, endereço eletrônico, telefone e os serviços que prestava nas horas vagas: pedreiro, encanador, eletricista, pintor e marceneiro. O homem da pá não se conteve e comentou: além de entregador de cadáver, o senhor é um verdadeiro homem Bombril, Seu Neneca. Este riu, soltou uma frase na direção da cova – enquanto não tiver os pés no buraco, vou me virando – desejou boa sorte aos dois e se foi, acelerando e buzinando seu rabecão, como se houvesse deixado pra trás dois futuros clientes.


Sozinhos, ele olhou pro coveiro e se jogou sobre o caixão, aos gritos, anunciando que resolvera ser enterrado junto com a defunta. Amaldiçoou a rigidez da madeira e pediu um martelo para melhor fixar um prego na borda à esquerda. Arrancou a ferramenta das mãos do coveiro, mas a excitação o impediu de acertar a cabeça achatada. Uma, duas, três... dez tentativas, desistiu e lançou o martelo ao longe, atingindo o peito de um Jesus numa cruz de mármore diante de um túmulo em granito bege. Ao filho de Deus britou em seis pedaços, à cruz em três. Bradou um vamos lá, ouvindo como resposta a voz rouca no interior do féretro: ainda não, meu bem. Desceu do tampo, apontou o indicador na direção do bojo e urrou: ela está viva. Um estranho de óculos escuros, camisa azul-marinho e calça preta, que acabara de enterrar a mãe nas proximidades interveio: ela quem? No troco, tomou na proa um isto, caro senhor, não é da sua conta, e seguiu chateado no seu caminho.

Chutes nas paredes do esquife e pedidos abafados por socorro agilizaram as ações. O coveiro correu em busca de uma alavanca e marreta de ferro, enquanto ele acalmava a encaixotada, que implorava por urgência, sussurando-lhe: fique fria, amorzinho, a ajuda está a caminho. Munido de vontade e apetrechos, ele se aproximou da cabeceira do caixão e, antes de agir, perguntou ao companheiro se este não gostaria de tomar as providências. Declinada a incumbência – a lazarenta é toda sua -, ele colocou a ponta da estaca no ponto do tampo correspondente à região do coração e desceu a marreta com uma força que nunca julgou ser capaz de possuir. O ferro rasgou rangendo o mogno, dilacerando a firme estrutura que plangeu suas dores, e penetrou onde esperado, fazendo jorrar pela frincha, depois de um ai, um filete rubro que desenhou, ao lado de um ramalhete esculpido em alto relevo, a palavra: assassino.

Uma fina chuva começou a cair apagando aos poucos a mensagem, carreando o líquido vermelho de volta ao interior do caixote. Cordas de plástico desceram a peça, pás de terra cobriram a cratera e, terminada a função, ele plantou quatro mudas de rosa vermelha, duas à cabeceira e duas aos pés, despedindo-se com brandura: descanse em paz, querida, e até a eternidade. O coveiro sussurrou-lhe ao ouvido direito: patrão, parece que o veneno não está funcionando direito. Ele concordou avisando que iria reclamar com o laboratório, talvez até trocar de. Elogiou o cúmplice e se pirulitou em um táxi, fornecendo ao motorista o endereço da próxima vítima.

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NOCAUTE

Tuesday 6 April 2010

LEITURAS AMENAS QUE

Hum! Depois de revelar, à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, que durante 6 anos, quando era secretária da secretária dele, manteve um caso com o ainda maridinho de dona Sara; que não foi a causa e, sim, a consequência da separação; que o maridinho levou a própria empresa à falência; dona Deuza, esposa do governador de São Paulo, a partir desta terça-feira, promete lançar um livro cujo título será ‘Histórias e Estórias’, com subtítulo que ela classifica de pitoresco, embora não consiga se lembrar de qual seja. Na entrevista de página inteira, a filha Paula intervém e pede pra mãe queimar o livro. Nas arquibancadas, contudo, arquibaldos e geraldinas gritam – edita, edita! -, afinal, dona Deuza garante que ainda tem muita coisa pra contar. Enquanto a obra não chega, aguardarei imbuído da saudade do poeta que me leva a ouvir, na voz de Nelson Gonçalves: a deusa da minha rua tem os olhos onde a lua costuma se embriagar.

Humm! Depois do retumbante fiasco das declarações plantadas em fevereiro passado pelo sociogro Fernando Henrique Cardoso, no Miami Herald, comparando, entre outras coisas, a Dilma com o Hugo Chaves, eis que surge no cenário internacional um novo produto lançado por um jornal que Obama chama de feudo do Partido Republicano, aquele do George Bush, o filho. Trata-se de uma espécie de Larry Rother de saia, que atende pelo nome de Mary Anastasia O’Grady e é editorialista do Wall Street Journal, publicação do tubarão Murdoch, que resolveu desacreditar o atual governo afirmando algo mais ou menos assim: o povo brasileiro elegeu o Lula consciente de que FHC continuaria governando o país. Lembremo-nos de que se trata do mesmo jornal que dedicou um caderno inteiro às possibilidades do Brasil se transformar em potência mundial. Se a divulgação não coincidisse com a festa de entrega do cargo e o mergulho definitivo, espera-se, do político Serra na campanha presidencial, muita gente já estaria berrando contra dona Maria Anastácia Graduada, acusando-a, no mínimo, de estar a serviço do PSDB - o que seria uma injustiça. O que a Larry Rother plissê quis dizer, no fundo, foi o seguinte: enquanto FHC vivo for, o Brasil continuará em sua inexorável caminhada na direção do futuro que um dia há de chegar e, portanto, não fará diferença eleger Dilma ou Serra. Minha esperança vai bem mais longe: acredito que, depois de morto, FHC ainda continuará enviando as orientações a serem psicografadas, por alguma alma privilegiada de plantão, e implantadas para felicidade geral da nação. Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz, eu sei, saudades do Gonzaguinha e do Gonzagão, um dia a gente ainda descansa feliz.

Hummm! A insistência no ‘allegro con fuoco’ no final parece uma coisa meio deslocada, mas se encaixa no tempo. Recentemente, a senadora e candidata Marina Silva, que deseja destruir a polarização entre o PT e o PSDB, revelou que sua missão é ‘mostrar ao povo que temos de compor uma sinfonia e criar uma orquestra, como algo que mude nosso modo de produção, consumo e de relacionamento com a natureza’. Parece coisa do anão Alberich, no Anel dos Nibelungos, disposto a roubar o tesouro do reino. Saudades do Wagner.

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NOCAUTE

Saturday 3 April 2010

PICCOLO ANARCHICO

Ao entrar no Piccolo, linha Vila Monumento-Praça da República, avisou ao motorista que iria pagar duas passagens, uma pra si e outra para a sacola que trazia desde a Rua 25 de Março. A inusitada decisão não abalou o condutor, que manifestou sua aprovação com um curto e grosso ‘o senhor é quem sabe’. Encostou o Bilhete Único uma vez, girou a catraca e, por cima desta, passou e encostou o desconjuntado volume ao lado do assento à direita, onde se acomodava uma senhora volumosa nas carnes mergulhada nas águas da Dieta do Mediterrâneo. Usou novamente o BU, transpôs a borboleta, tomou o volume com a mão direita e, com pedidos de licença, se dirigiu aos trancos e barrancos aos assentos do fundo do micro-ônibus, onde ocupou um vazio à janela, atrás da porta de saída, e acomodou as compras ao lado. Tranquila seguia a viagem, com os solavancos entre marchas e as freadas pra arrumação, quando subiu, pela porta traseira, uma velhinha com cara de encrenqueira decidida a se sentar onde estava o saco do homem. Este apelou para o direito adquirido com o pagamento, abonado pelo motorista, mas a vovó resolveu engrossar o caldo.

- Senhor, isto que está dizendo não existe.
- Claro que sim, pergunte ao motorista.
- Eu não vou perguntar coisa alguma, o senhor que ponha o saco no colo ou no chão e me deixe sentar aí, porque eu sou idosa e tenho meus direitos.
- Desculpe, mas os idosos têm assentos reservados por lei, como este aqui nada tem por escrito no vidro, meu saco vai continuar aí onde está.
- Tenho quase 80 anos e nunca ouvi dizer, nunca, que uma pessoa normal pagasse passagem extra para deixar um saco sentado como gente. É um absurdo.
- A senhora viu o tamanho do meu saco?
- Estou vendo, mesmo assim acho que não se justifica.
- Com todo respeito, senhora, minha opinião é diferente. Veja, a mocinha ali na frente, no assento pra pessoas na sua condição, levantou-se e está oferecendo o lugar. Pronto, está tudo resolvido.
- Eu não quero viajar ali, fica em cima do pneu e não gosto de sacolejar com os joelhos no queixo. Agradeço, mas prefiro o lugar do saco.
- A vovó é chegada numa encrenca, não?
- O senhor também, está na cara.
- Vamos fazer o seguinte: eu me levanto e a senhora ocupa o meu lugar.
- O senhor sai, põe o saco no seu banco e eu me sento no lugar do saco.
- Eu não acredito no que estou ouvindo!
- Faz diferença?
- Sim, dona, muita, e basta! Pergunte ao saco o que ele acha de trocar de lugar.
- Não seja grosso.
- Eu?
- Sim, o senhor mesmo.
- Ei, pessoal, essa é boa pra chuchu, a vó finura aqui...
- Sabe, moço, o senhor tem sorte, porque vou descer no próximo ponto.
- Ainda bem, vovó, porque, com a senhora, não há saco que aguente.

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NOCAUTE

Tuesday 30 March 2010

INSULTENSÍLIO

Os japoneses criaram o ‘chindogu’, cuja tradução nos dá algo que mistura insólito com utensílio, digamos, um insultensílio. Criação do editor da revista Mail Order Life, Kenji Kawakami, que estudou engenharia aeronáutica na Universidade de Tokai, o insultensílio é, segundo seu criador, um troço libertário, anarquia pura saída das entranhas do espírito livre em luta contra o consumismo. Tão fantástico que uniu Kawakami e um editor norte-americano, Dan Papia, para escrever dois livros, o primeiro – 101 Invenções Japonesas Inúteis: a Arte do Chindogu – em 1995, antes do segundo, em 1999. Sucesso, pois ambos já venderam mais de 300 mil cópias só no Japão, além de receberem tradução para o espanhol, alemão, francês e chinês. Não sabemos por que tais obras não chegaram por aqui, embora há quem chute como motivo o fato de que nossas editoras ainda premiam os autores dos livros com 10% das vendas, algo que não encaixa o objeto na classe dos insultensílios, portanto...

Mas, originalmente, o que faz de uma criação humana um insultensílio? Imagine a invenção de um treco, cujas características habilitam o demiurgo a ser aceito no clube do cretinismo, e terá desvendado o mistério. Não consegue? Como? Está com medo de conceber e receber o merecido diploma? Acalme-se, tome meio copo d’água adoçado com rapadura mole, sente-se, acenda a luz e tente fixar o olhar no neurótico filamento amarelo da lâmpada pensando no nada. Você está brincando: na sua casa só existe lâmpada fria e branca? Vive, por acaso, numa morgue? Vou ajudar com um exemplo brotado da imaginação japonesa: uma caixa transparente para enfiar as mãos na hora de cortar as unhas, para evitar a dispersão das lascas em locais inapropriados. Viu como é fácil, agora é a sua vez. Nada de timidez, se Deus é brasileiro, o que lhe impede de ser um rei da sacação? Mais uma sugestão antes de partir pras cabeças? Um orelhão da Telefônica que funciona. Pronto, eis o máximo do insultensílio que consegui bolar, agora é a sua vez, camaradinha.

E foi assim que era uma vez um inventor brasileiro de insultensílios, uma espécie de Edgard Leuenroth das anarco-inutilidades. Dentre as coisas engendradas nos miolos desse gênio da raça alegre, ocupou o primeiro degrau um prato sem fundo pra orquestra, destinado a tratar piscisquicamente de pessoas que se assustam com a música de Bernard Herrmann no filme O Homem que Sabia Demais, de Hitchcock. No combate sem trégua ao consumismo, nas trincheiras profundas da luta, eis que depois nasceu o saco, a exemplo do prato, sem fundo, tecido em malha biodegradante. Funciona assim: a madame enche o carrinho até a borda, dirige-se ao caixa e, passado o último item, percebe quão útil é o saco ecológico-insustentável. Pede perdão e estorno à mocinha que a atende, e perdoa, encantada com a frase à la James Lovelock: minha consciência se nega a degradar o planeta. Por fim, a invenção das invenções: o veículo sem rodas, para o trânsito nas grandes cidades. Uma genuína obra-prima do desenho futurista a ser exibida na Bienal paulistana, no mesmo andar em foi exposto aquele homem nu, criado por Fernando Sabino, sob inspiração divina, do qual arrancou uma costela para criar Zélia Cardoso de Mello, um dos mais inacreditáveis insultensílios jamais imaginados por um ser racional em Chico City.

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NOCAUTE

Thursday 25 March 2010

NARDONIS NO PICCOLO

Mais uma vez no Piccolo 4111, circular Vila Monumento-República, ouvindo a voz de Deus, ou seja, do povo, anoto conversa entre o motorista e o passageiro no assento ao lado oposto, reservado às gestantes, mulheres com bebês ou crianças de colo, deficientes físicos e idosos. O passageiro encaixa-se nesta última categoria e inicia o bate-papo com a autoridade que a idade lhe confere.

- E esse caso dos Nardonis...
- Uma loucura.
- Se confessassem, eles dariam uma enorme ajuda à sociedade.
- E conseguiriam a paz espiritual.
- Verdade, mas, pelo que temos visto em nosso país, no máximo irão ficar presos apenas das próprias consciências, por um tempo justo, uma lástima.
- A defesa continua alegando que houve um terceiro na história.
- Homem, vou lhe dizer, nem o pior bandido da cidade faria uma coisa como essa com uma criança. Quando muito, um malfeitor daria um safanão pra ela calar a boca.
- Tem toda razão. Sabe que os assassinos de crianças têm de ser isolados do resto dos prisioneiros, que não aceitam esse tipo de gente.
- Um pai, um pai, descarregar na própria filhinha, não consigo compreender.
- Sabe que, desde o primeiro instante, enxerguei no olhar da madrasta sinais de perversidade, mas o olhar do pai parece feito de gelo.
- A justiça há de ser feita.
- Se fosse perpétua estaria de bom tamanho.
- Que me diz da pena de morte?
- Coisa pra povo muito adiantado ou muito atrasado, não é pra nós.
- Vamos aguardar.
- Vamos aguardar.

Pouco além, duas senhoras, com Bíblias no colo, resolvem esticar o assunto, puxando para um outro lado a questão.

- Eles fizeram isso porque estavam tomados pelo anjo rebelde, o maligno que opera e se apossa das pessoas, Irene.
- O pastor mostra como satanás age quando a fé falha.
- É verdade. A pessoa demora a perceber o que o malvado está preparando e, mais dia menos dia, vem a desgraceira.
- Prova da falta de compromisso na fé, Maria.
- Dizem que a infeliz lia livros de Alan Kardec e Gasparetto, depois, atrás das grades, resolveu se converter, virar evangélica.
- Depois é tarde. Falam que chora o tempo todo.
- Será verdade, a imprensa mente muito.
- Se o homem não fizer justiça, Deus fará.
- Deus é fiel.
- Deus é fiel, aleluia!

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NOCAUTE

Wednesday 24 March 2010

PERIGOS NAS ENTRELINHAS E LINHAS

Amigo é quem avisa, portanto, não tente ler nas entrelinhas deste texto, uma vez que nestes exíguos espaços se escondem alçapões, trampas, arapucas, currais, cercos, laços, mundéus, ardis, emboscadas, enfim, coisas que escapam ao meu governo e - si hay gobierno, soy contra - não posso ajudar a quem quer que se aventure numa empreitada tão desatinada. Comecei a lobrigar (eta! verbinho seboso) tais perigos nos distantes idos do Ginásio, quando a professora Romilda Medeiros já me ensinava, com todas as letras, que não se deve brincar com elipse, sinais diacríticos e babados semelhantes. Romilda não dava sopa para mesóclise de folgado, enquanto competia, em rigor e reprovação, nas linhas e entrelinhas, com a mestra Maria Augusta, uma dogmática que me infernizava a existência com as linhas do paralelogramo e de outras figuras do seu baú geométrico. Aos trancos e barrancos, consegui ultrapassar a linha final do curso ginasial, onde aprendi que, depois de pular o muro escondido do bedel, a menor distância entre a sala de aula e o Cine Diamante era uma linha reta.

Nas entrelinhas e entre linhas, muitas águas já rolaram por baixo da minha ponte. Nas entrelinhas, certa vez tropecei na perna de um cê-cedilha e cometi um dos erros mais bestas da minha vida. Bispei, entre linhas, situações horríveis nos desenhos animados em geral, particularmente nos do Papa-Léguas. Entrelinhas, enforquei o pingo de um jota metido a janota no laço de um gê. Entre linhas, viajavam os passageiros do horário das dez, nas manhãs dominicais, sob um calor de 40 graus, vítimas dos meus petelecos nos seus picolés colocados a respingar, fora da janela do trem, sobre a plataforma da estação de Catende. Tempos depois descobri que Mario Monicelli fora muito menos cruel, na sua deliciosa comédia, com tapinhas no rosto. E, nos mesmos trilhos, entre linhas caíam as brasas da maria-fumaça que me atormentavam a vida moleca quando tentava abandonar o bigu antes do ponto final do comboio ferroviário.

Entrelinhas, despencou um acento agudo e se cravou como um punhal no crânio do último ó do borogodó. Entre linhas, os lambaris sempre me deixam nervoso ao encarar minhas iscas como aperitivos no palito. Entrelinhas, vivo às turras com as crases. Entre linhas, lobriguei (este verbo está me perseguindo) o que aconteceu quando os militares brasileiros optaram pela dura, depois do Golpe de 1º de abril de 1964. Entrelinhas, no dia em que coloquei um chapéu na palavra côco, em cabeça-de-coco, a professora me chamou de avoado. Entre linhas, vi Marzilda procurar o dedal e se ferir numa agulha sem linha, amoitada na almofadinha de retalho. Entrelinhas, grifei a palavra habanera e corri ao dicionário, para não dançar. E por aí se esparramam os perigos nas entrelinhas e linhas.

Você pode se arriscar entre parágrafos, aí sim, onde a divisão é mais espaçosa e cria um corredor com saída tanto para a esquerda quanto para a direita. Note que, em geral, o campo do lado direito é mais generoso, quando a linha que o invade perde o fôlego e não consegue chegar até o fim dela mesma. Nunca tente a fuga já no primeiro parágrafo, arriscando-se a uma queda livre das alturas. Siga pelo menos até o penúltimo. O ideal mesmo é abandonar o texto na última linha.

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NOCAUTE

Sunday 14 March 2010

OS BESGUIOTAS

E o BBB escravizou seus telespectadores, que pagam para ver tais proezas e permanecem, horas e horas, hipnotizados pela assombrosa criatividade, movida a cifras que vão muito além da imaginação.

Era uma vez uma rede de TV brasileira, explorada sob concessão governamental, que exibia um programa conhecido pela sigla BBB. O índice de audiência era enorme para ver coisas do tipo: um moço de porte atlético, vestindo um calção aparentado às cuecas samba canção, peito peludo pelado, a caminhar numa esteira, a caminhar numa esteira, a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... . a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... a caminhar numa esteira... Aos produtores do negócio, uma pergunta: a exposição do mancebo completamente nu não poderia elevar o Ibope a níveis definitivamente priapescos?

E o BBB fez a mulher, que surge em todo seu esplendor tomando banho sob uma deliciosa ducha. A Eva está de biquíni e levanta o Ibope. Toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... . toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... . toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... toma banho e ensaboa durante um tempão, para desespero dos técnicos da Sabesp... Aos produtores, outra pergunta: não seria interessante copiar aquele causo, se não me engano, de Alvarenga e Ranchinho, que em conversa sobre o maiô de três peças, inventado no Rio de Janeiro, revelam as características da moda limitada a chapéu, óculos e chinelo?

E o BBB escravizou seus telespectadores, que pagam para ver tais proezas e permanecem, horas e horas, hipnotizados pela assombrosa criatividade, movida a cifras que vão muito além da imaginação. Sentados no sofá da sala, eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... eles espiam, comem pipoca, tomam refrigerantes e cheios de gases expiam seus pecados... Aos produtores, nada mais a perguntar.

E no futuro, ao escavar as ruínas dos sítios televisivos, um arqueólogo encontrará um ser humano perfeitamente conservado, esparramado em um sofá coberto por um plástico anti-poluição, e reconhecerá o achado como um legítimo representante de uma raça que passará a ser classificada pelo neologismo besguiotas.

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