NOCAUTE

Monday 11 January 2010

DOIS MIL É DEZ

O ano novo ficou surpreso, conforme me assegurou em entrevista coletiva exclusiva no dia em que nasceu. Assentado em calendário recebido como brinde de uma das mais conceituadas entidades do mercado financeiro, presente distribuído a pessoas muito especiais, incapazes de montar a surpresa sem a ajuda de crianças especializadas em quebra-cabeças, 2010 recebeu a imprensa na primeira casa do calendário parede-meia com a do número dois. Ele estava um tanto assustado com as torrenciais chuvas das últimas semanas, que levaram na enxurrada os 365 dias do almanaque do passado, agora histórico. ‘Passatempo, passatempo’, disse o guri recém-coberto de penas aprendendo a voar. ‘Anum novo, vilã nova’, completou, referindo-se à mãe, dele, que caíra na vida quando soube da independência de dom Preto I, louco pra transar com uma anum fêmea, boa pra reproduzir a espécie ainda não ameaçada de extinção.

‘Unf, unf, unf’, espirrou o cão-d’água português adotado por um imperador não-chinês que atravessava, como um Titanic, as águas do rio Paul Krugman que desaguam na pororoca do caudaloso rio Neoliberal. ‘Glub, glub, glub’, acrescentou o novo ano, preste a se afogar nas águas dos temporais muito milímetros acima do esperado pelas autoridades daquele choque anafilático.

- Onde estamos? - perguntou o governador José Serra, equilibrado sobre o muro, ao seu companheiro de sacanagens Neves Mineiro.
- Meu nariz aponta para o norte da saudade – respondeu o Neves, na ocasião animado por Adriano da Galistéia, que dançava ao som de Gilberta Jiló.
- Assim o epicentro desanda – lembrou FH, cê, hein?, pensando no que vem acontecendo em Champagne sem a sua presença.
- Eu sei, afinal, eu sou o cara, conforme disse aquela figura de cujo nome nem quero lembrar enquanto não me esquecer – acrescentou filosoficamente Lula da Silva, o presidente de Garanhuns.

Havia um impasse no ar, er’óbvio, pois todo mundo sabia que uma coisa era caça à francesa, outra, caça à sueca, uma vez que, na primeira opção, recomendava-se o uso dos recursos tecnológicos para avaliar o custo do michê, enquanto, na segunda, praticava-se a auto-imolação a qualquer custo. Derramava-se a discussão nos interstícios das filigranas da amofinação, quando surgiu James Cameron com uma proposta irrecusável: ‘Deem-me 1 bilhão de dólares que eu resolvo tudo’. Um deputado, cujo nome m’escafede, considerou a idéia descabida. Um dos mais insignes representantes do poder judiciário brasileiro, cuja graça igualmente m’escapa, insinuou que a quantia era razoável, desde que o grande cineasta titânico estivesse disposto a discutir um percentual a ser doado a uma instituição beneficente por ele indicada. O presidente do Senado à brasileira, cujo nome picou a mula, resolveu que trabalharia contra a proposta se não contemplasse uma ajuda a um mausoléu em São Luiz do Maranhão. Finalmente, o presidente do Irã, cujo nome evadiu-se-me, ao ser convidado a um chá na Academia Brasileira de Letras, deixou claro que o ocidental medo da bomba é algo absolutamente efêmero. Dois mil é dez.

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