NOCAUTE

Wednesday 6 January 2010

AH! VÁ! TÁ!

Nos tempos que correm – e como! -, certos sucessos do cinema vêm sendo analisados por certos críticos - e por muita gente normal – a partir do seu sucesso comercial. Rendeu, é bom, ganha a chancela da ideologia do consumo, fundamentada naquele delicioso tirlintar. Glorioso, carimba The New York Times, a Bíblia da nossa macacada refinada. Daqui pra frente, definirá o que o cinema pode realizar, lasca a Time. O mais lindo filme que vi há anos, em The New Yorker. Quatro indicações ao Globo de Ouro. Nove indicações ao Oscar – Titanic recebeu 14 e faturou 11 estatuetas, Avatar arrecadou 77 milhões de dólares só no primeiro fim de semana de exibição nos Estados Unidos. Campeão de bilheteria no Brasil. Já é a quarta bilheteria de todos os tempos - estatística meio besta, seja projetada no passado, centenário, seja pro futuro do cinema. Enfim, o avatar do artista passou a ser visto, essencialmente, por sua capacidade de converter lixo cultural em ouro. Ao singrar seu Titanic num atlântico mar de dólares, James Cameron angariou a simpatia e o respeito dos investidores, que descobriram o batedor que os conduz ao Potosi da sétima arte. E os deuses mimosearam Cameron com a caixa registradora de Pandora.

Avatar é tão épico quanto uma rodada de bingo. Lá está Jake Sully, um Jack ‘Caprio” Dawson turbinado como um veterano de guerra, em cadeira de rodas, que recupera os movimentos ao ser teletransportado, em sua jornada às estrelas, para integrar-se àquela comunidade esquisita e roubar sua riqueza. Sob extrema indignação, Jake percebe que o império nada respeita e, como bom mocinho que é, toma o partido do bem na luta contra o mal, liderando a batalha de sempre para salvar a civilização em perigo. O manjado conflito de civilizações, sacou? Lá está Neytiri – a nova Rose DeWitt Bukater titânica -, a queridinha do clã Na’vi que salva o mocinho. Lá está Grace Augustine, uma Ellen Ripley com seu Parker (Alien), branqueado, na pele de Giovanni Ribisi, um gozador que vê fumaças suspeitas por trás das idéias em curso. Finalmente, para encurtar as 2 horas e 30 minutos de amofinação e clichês, lá está o Coronel Miles Quaritch (um Bill 'Apocalipse Now" Kilgore), louco como um texugo, como diria Fisk Senior (O’Toole) em Dean Spanley, rodando a baiana com os velhos, conhecidos, hiperbolizados e bestiais apetites do império atrás de um raro minério.

E daí, o que há de novo, velhinho? Well, dear, a tecnologia digital dos efeitos especiais em terceira dimensão, à Magic Kingdom, no mundo daqueles Na’vis de narizes perfeitos para o uso de óculos de papelão com lentes de plástico colorido. Uma festa: o ‘renderizado’, as montarias que parecem uma mistura de Alien com Hippocampus erectus, os parassaurolofos saídos d’algum Parque dos Dinossauros, com velocidade de Nighthawks, delicadas águas-vivas que flutuam graças a possível ação de potente alucinógeno, a inacreditável Árvore das Almas e mais, um monte de bossas que tenho certeza inspirarão milhares de novidades a serem vendidas pelos camelôs, para o próximo Natal, nas calçadas da 25 de Março. Depois de tudo isso, o duro mesmo foi tomar o elevador, apertar o G 2 do piso do estacionamento e ouvir uma das bichinhas do casal perguntar: vocês não gostaram? Tive vontade de gritar – Ah! Vá! Tá! -, mas achei que as lágrimas do riso da minha mulher já diziam tudo.

1 comments:

richardjakubaszko 9 January 2010 at 16:24  

Caro Barreto, "criei" uma área de blogs recomendados no meu blog, e o "a-prensa.blogspot.com tá nessa restrita lista.

Post a Comment

  © Blogger template The Professional Template II by Ourblogtemplates.com 2009

Back to TOP