OPERAÇÃO IMPRENSA

Saturday 5 December 2009

OPERAÇÃO IMPRENSA

A pedido ou por sugestão de alguma figura comprometida com o moto contínuo da moralização da República, os homens sisudos e duros da Polícia Federal iniciam a investigação. Escolhem um nome metido a sebo, como Operação Caixa de Pandora, por exemplo, passam um punhado de tempo investigando, grampeiam telefones, fazem gravações na moita, juntam arruda com alfavaca e, uma vez seguros de que há realmente caroço debaixo do angu, escorregam a notícia para ver se aumenta tiragem da nossa imprensa. Nem sempre a turma da PF é bem-sucedida, pois às vezes a bomba coincide com o lançamento de uma coleção de livros de culinária ou dos museus do mundo, CDs de MPB ou jazz, DVDs com os clássicos de Hollywood, essas coisas. Os donos das publicações, evidentemente, maldizem a falta de comunicação entre os poderes – a PF é braço do Executivo e imprensa é o quarto -, uma vez que a delicada consumidora é obrigada a optar entre aprender como preparar berinjela ao forno, ouvir Paulo Vanzolini no três em um, levar Rock Hudson pra curtir no sofá ou apostar que vale a pena ir além da chamada de capa. Imaginemos que seja esta última a opção e tomemos por castigo um dos nossos chamados grandes jornais.

No primeiro dia, a venda em bancas explode de 21 mil para 23 mil exemplares. Oba, um sucesso de deixar qualquer shimbun com inveja. Durante a semana, com as novas revelações sobre o uso da Arruda e seus ramos contra o mau olhado, a Operação Imprensa, digo, a Operação Caixa de Pandora continua a dar fantásticos resultados, atingindo às vezes o inacreditável pico de 25 mil exemplares vendidos, sem um único mísero encalhe nas bancas. Conhecida na Europa como a erva álacre, a Arruda também esparge alegria no seio das redações tropicais, onde a notícia da vendagem espalha-se mais que saia de baiana na Sapucaí. Na segunda semana, a leitora começa a confundir Caixa de Pandora com Caixa 2 minha senhora, Arruda com arreda, Azeredo com azarado, Democratas com Demopratas, PT com ‘prét-à-porter’, PMDB com MDB, tucano com teu cano, Conterc com Terc, troca PF por frango com polenta, Oliveira por Olival, planilha vira palmilha, campanha já é champanha, doou é dou ou... Finalmente, Tribunal com trem banal e, como é natural, cai a venda do jornal. A leitora não vê, digo, lê mais nada, seu interesse retorna ao tomo culinário, na página da abobrinha recheada com pepino e carne de vaca moída, prato indigesto, mas gostoso pra chuchu. É preciso viver a vida.

Na terceira semana, cumprida a missão, a PF retira sua tropa de campo e a coloca noutra efervescente atividade: descobrir nos pais-dos-burros disponíveis um novo nome para definir a próxima bombástica Operação. Os federais recebem e passam a sofregamente fuçar nas últimas edições impressas e eletrônicas dos dicionários Michaelis, Houaiss, Aurélio, Contrastivo Luso-Brasileiro, Melhoramentos Ilustrado, Enciclopédico Koogan Larousse e outros, devidamente atualizados conforme as novas exigências ortográficas do português. Enquanto isso, no sentido de colaborar com as pesquisas policialescas, para que surja o quanto antes a nova Operação, os jornais preparam uma edição definitiva do Repertório Onomástico pra Manchetes Jornalísticas, a ser vendida junto com os exemplares dominicais.

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