NOCAUTE

Saturday 12 December 2009

A RAINHA CONTRA OS REIS

Pensei em começar com a pergunta – você já ouviu falar do agricultor Juarez Vieira Reis? -, mas cheguei à conclusão de que seria bobagem dessas do tipo perguntar sobre foto de disco-voador ou lobisomem em noite de lua cheia. Bem, saquemos outra: senadora Kátia Abreu, do outrora insuspeito DEM, sim? Ora, claro, na mídia a mulher aparece mais que despacho em esquina. E deveria aparecer cada vez mais depois que eleita, pela revista, Carta Capital como ‘a rainha do latifúndio improdutivo’, todavia, continua aparecendo só o suficiente para autopromover-se como uma espécie de cereja no bolo do agronegócio, que a escolheu – enfim, uma mulher - como porta-voz dos lobistas presentes nos corredores e gabinetes dos Ministérios que ditam as regras do negócio agro no país. Já presenciei uma entrevista com a senadora Kátia Abreu e saí com a impressão de ter visto um dos melhores exemplos do autoritarismo que campeia no, digamos, estrato superior do meio rural. Todavia, pegou-me de calça curta a notícia de que a tal líder de saias é protagonista de ‘grilagem pública’ - essa é ótima’ - segundo o Ministério Público Federal do Tocantins. Pronto, doutor Roberto Rodrigues, eis o que faltava para solapar, de uma vez por todas, a imagem do agronegócio brasileiro: uma rainha contra os Reis, Juarez Vieira e família.

Eu sei que aos quatro gatos pingados e às quatro gatas pingadas, que em geral aguentam – rezo para que, vez ou outra, leiam - o que escrevo e envio por correio eletrônico ou coloco no ‘blog’ (http://a-prensa.blogspot.com), uns e outras por educação ou benquerença, não estão nem aí pro agronegócio. A história do senhor Reis e família, entretanto, encerra um adendo ante o qual ninguém pode ficar indiferente, resida no campo ou na cidade. Refiro-me a nossa justiça, cujas atuais imagem e reputação não são das melhores. Que a ‘rainha do latifúndio improdutivo’, presidenta da Confederação Nacional da Agricultura, a senadora Kátia Abreu, seu irmão e outros apaniguados tenham sido contemplados, pelo Estado do Tocantins, com terras supostamente improdutivas, ao preço de 8 reais por hectare, talvez fosse parte de um projeto-piloto de reforma agrária do governo FHC, que infelizmente acabou engavetado, paciência. Tomar, com a ajuda do governador Siqueira Campos, filiado ao PSDB, as terras em que o agricultor Reis nascera, no município de Campos Lindos, lá trabalhara por 50 anos cultivando arroz, feijão, milho, mandioca, melancia e abacaxi, aí são outros 500. Aliás, incompatíveis, os 500, com o discurso modernista e legalista da ‘musa do agronegócio’. Ou seja, a senadora deveria ser chamada a explicar esse seu agronegócio que diz alho quando pensa bugalho.

Diz lá o texto da Carta Capital, que recebi do jornalista Richard Jakubasko acrescido de comentário do jornalista Nivaldo Manzano, que Seu Reis possui documentos de propriedade, um deles de 6 de setembro de 1958, reconhecendo as terras em nome de outro Reis, Mateus, o pai, e com eles tentou barrar a desapropriação na justiça. A revista escreve justiça com o jota em maiúscula, eu faço momentaneamente justiça com minúscula. Pois bem, ignorando a ação de usucapião em andamento desde o ano 2000, a musa reuniu sua tropa oligárquica e partiu com os tratores pra cima da justiça. Resultado: Seu Reis foi expulso, sem direito a qualquer indenização por tudo que ali construiram os Reis durante cinco décadas. A matéria termina dizendo que Reis continua a lutar para convencer o Tribunal de Justiça do Tocantins a reconhecer seus direitos e assegurar o retorno dos Reis a sua terra. Lembro que a publicação é datada de novembro passado e, quiçá, nessa altura do campeonato, a turma daquele egrégio Tribunal tenha pensado melhor e está em vias de rever a lambança. Afinal, pelo contado, nas terras dos Reis a senadora sequer se deu ao trabalho de instalar um mísero curral eleitoral, para juntar eleitores enquanto esperam a livre manifestação nas urnas. Se isso não é terra improdutiva...

Vou encerrar com uma alegoria, resumindo a historinha daquele bangue-bangue Justiceiro Implacável, com John Wayne (delegado federal Rooster Cogburn) e Katharine Hepburn (Eula, filha de um pastor) nos papéis principais. Rooster é do tipo que atira primeiro e pergunta depois, o que leva o juiz Parker (John McIntire) a cassar sua estrela. O mesmo juiz é obrigado, posteriormente, a fazer um acordo com Rooster: este sairia à caça do líder de uma quadrilha, Hawk (Richard Jordan), e recuperaria o distintivo se trouxesse o bandido vivo. Desgraçadamente, acontece o previsível ou até pior, pois Rooster acaba com Hawk e toda sua gangue. Novamente no tribunal, preste a confirmar que Rooster não tem jeito mesmo, o juiz Parker enfrenta a argumentação e grande mentira de Eula – ela afirma que matara Hawk. Resultado: Rooster recebe a estrela de volta e por aí se encerra a história, deixando como mensagem a idéia de que a justiça capitulara. Bom, isso aconteceu no velho oeste, quando o mundo era bem diferente, algumas mulheres já sabiam puxar o gatilho e Eula realmente o fizesse, embora não contra Hawk. Rooster, como reza o título da fita, era um justiceiro, contudo, desde então, a justiça em geral melhorou muito, pois nem em filmes assistimos mais à truculência com as próprias mãos. Obviamente, não seria nosso Tocantins, que nem oeste é, palco para o surgimento entre nós desse tipo de ação, exceto se às avessas, porém, nossa justiça jamais permitirá que isso ocorra. Acredite.

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