NOCAUTE

Thursday 7 April 2011

A CONFLAGRAÇÃO

A ofensiva dos japoneses se avizinhava com a gana da rapaziada do faraó, à cata de Moisés e sua turma nos Dez Mandamentos do Cecil, enquanto o clima de tensão crescia entre nossas forças. Éramos poucos, cerca de sessenta (60), e sentíamos a aproximação daquele verdadeiro batalhão com sede de sangue, pelos sons da marcha à distância no asfalto. Havia, no cardume inimigo, muita gente a cavalo, dedução que fazíamos pelo matraquear dos cascos em cadência militar. Um dos nossos, dado a contagens problemáticas, estimara o número de atacantes em, no mínimo, 600 lambões. Uma do nosso lado, que gostava de rodar a baiana, votara contra a decisão tomada pela liderança do grupo, argumentando que heroísmo tem hora, minha senhora, e o desfecho da batalha era mais que previsível.

Além de reduzido, nosso grupo contava com uma parcela singular de combatentes: quarenta (40) frades vestidos em púrpura aveludada. No momento em que tomamos ciência da iminência do ataque, o grupo religioso pedira licença para se retirar e fora se instalar na igrejinha anexa ao local onde nos entrincheirávamos à espera da agressão. Lá, na morada divina, sentados sobre almofadas cor-de-burro-quando-escapa, rezavam e tocavam uma espécie de tamborim quadrado, igualmente revestidos em púrpura, açoitados em cadência suspeitamente lúgubre. Decididamente, estava na cara, com eles não contaríamos na hora agá.

Você que chegou até o agá na leitura, já deve estar com a pulga atrás da orelha a se perguntar qual o motivo da peleja. Pois conto. Havíamos pedido, por telefone, pasteis para um lanche antes da sessão de vídeo com o filme A Grande Ilusão, do Jean Renoir. Recebêramos a encomenda, conferíramos o conteúdo e enviáramos o motoqueiro nordestino de volta à base com o seguinte recado: diga aos japoneses da pastelaria que estavam deliciosos, todavia, não pagaremos a conta conforme eles ansiosamente aguardam. Mal o ronco das 125 cilindradas do motor sumira de nossos ouvidos, passamos a ouvir o tropel com a resposta nipônica, com o resultado que você pode deduzir, sem a necessidade de tomar conhecimento de detalhes que pouco acresceriam ao imaginado.

Espero apenas que a historinha sirva de lição sobre os perigos associados a esses esquemas que passaram a ser conhecidos como ‘delivery’. Práticos, ao suprir nossas deficiências em esticar uma massa de pastel sobre a fria pedra, rechear e dobrar na forma de um envelope cuja borda deve ser rebitada a garfo. Baratos, pois há estabelecimentos que desafiam economista do Banco Central a calcular o custo da massa e recheio que vendem. Eficientes, quando o entregador, antes de chegar na sua casa, não passa por outros dez endereços, em cuja lista o seu está em último lugar. Mas, cuidado, perigosos...

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